Revista Exame

O ano da transição para as empresas brasileiras

A premiação de MELHORES E MAIORES 2018 foi marcada por um cenário de negócios com lucro em baixa e incertezas no horizonte

André Lahóz Mendonça de Barros, diretor de redação de EXAME (à esq.); José Galló, presidente das Lojas Renner, a Empresa do Ano; e o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia: vitória em mais um ano difícil na economia (Germano Lüders/Exame)

André Lahóz Mendonça de Barros, diretor de redação de EXAME (à esq.); José Galló, presidente das Lojas Renner, a Empresa do Ano; e o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia: vitória em mais um ano difícil na economia (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 30 de agosto de 2018 às 05h08.

Última atualização em 30 de agosto de 2018 às 05h08.

ano de 2017 foi o do ensaio da retomada da economia brasileira. Após uma queda acumulada da ordem de 7% em 2015 e 2016, o produto interno bruto voltou a crescer, registrando uma tímida expansão de 1% e frustrando os que esperavam uma atividade mais robusta, capaz de recuperar as perdas dos anos anteriores. As perspectivas para 2018 — ano para o qual se chegou a projetar inicialmente um crescimento de 3%— foram minguando e hoje se situam perto de 1,5%. O clima de alívio com o fim, ainda que claudicante, da recessão misturou-se à apreensão com os próximos passos do país à véspera de uma eleição presidencial imprevisível, dando o tom na festa de MELHORES E MAIORES 2018.

Centenas de empresários e executivos se reuniram no dia 13 de agosto na Sala São Paulo, no centro da capital paulista, para conhecer e celebrar a trajetória de empresas que se destacam em um cenário ainda bem adverso. “São histórias que inspiram outras empresas, grandes ou pequenas, antigas ou jovens, que também almejam a excelência”, disse André Lahóz Mendonça de Barros, diretor editorial do grupo EXAME, no discurso de abertura.

Os números da 45a edição do anuário de EXAME são um retrato das ambiguidades que despontam num período de transição, quando os indicadores frequentemente ficam mais difíceis de interpretar e as diferenças se acentuam entre os setores. Para as 500 maiores empresas do país, 2017 foi um ano de alta do faturamento, que subiu 2,4% em relação ao ano anterior e chegou aos 840 bilhões de dólares. No entanto, o lucro recuou novamente, agora em 3,3%, para 32 bilhões de dólares. Nesse cenário de uma quase retomada, manter um balanço saudável e ainda continuar crescendo foi uma  tarefa dura para todos.

Um exemplo de sucesso em tempos turbulentos é o da rede de vestuário Lojas Renner, ganhadora do título de Empresa do Ano de MELHORES E MAIORES. A varejista vem conseguindo elevar o lucro todos os anos há mais de uma década e sua ação valorizou 200% só nos últimos cinco anos. A Renner abriu 70 lojas em 2017, incluindo três no Uruguai, sua primeira experiência internacional. Nenhuma outra varejista brasileira gera tanta riqueza por empregado. José Galló, executivo que deverá deixar o comando da empresa em 2019, após 26 anos no posto, tem um estilo de obsessão pelos detalhes e austeridade na gestão que garantiu os resultados. “Os anos não tão fáceis são aqueles em que se testa o modelo de negócio de uma empresa”, diz Galló. “E quem tem uma proposta de valor diferenciado se sai melhor.”

No ramo do Agronegócio, o prêmio de Melhor Empresa foi para a Copersucar, a maior comercializadora de açúcar e etanol do país. A empresa investiu 2,2 bilhões de dólares ao longo de uma década em sua logística de transporte, um foco certeiro num setor muito penalizado pelas carências da infraestrutura brasileira. O ano de 2017 foi marcado por bons indicadores no agronegócio, com as 400 maiores empresas do setor registrando uma alta de 41,4% no lucro em relação ao ano anterior. Mas a Copersucar foi muito além e conseguiu multiplicar o lucro em 13 vezes. “Nós fizemos a lição de casa: a empresa se preparou, se internacionalizou, fez os investimentos que a gente tinha planejado e agora é a hora de colher os frutos”, afirma Paulo Roberto de Souza, presidente da Copersucar.

O desafio para todas continua sendo manter as contas e as estratégias de pé em meio às incertezas ainda abundantes em 2018. A greve dos caminhoneiros em maio pegou de surpresa a maior parte do mundo político e empresarial e causou desabastecimento, interrupções em fábricas, alta de preços e queda da confiança. “A greve reduziu as vendas de carros e trouxe incerteza para todo o mercado automotivo”, diz Sergio Pancini de Sá, presidente da Mahle Metal Leve, Melhor Empresa da categoria Autoindústria. O executivo foi um dos palestrantes do Encontro EXAME CEO, que ocorreu no dia 15 de agosto em São Paulo, quando vencedoras de MELHORES E MAIORES expuseram suas estratégias e mostraram como têm enfrentado a lenta recuperação da economia. O evento contou também com a participação de Ogari de Castro Pacheco, presidente do conselho diretor do laboratório Cristália, vencedora da categoria Farmacêutica, e Guilherme Mello, presidente da MRS, empresa vencedora da categoria Transportes.

Os últimos indicadores mostram que a maior parte do impacto econômico da greve já se dissipou. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central, espécie de sinalizador do PIB, subiu 3,29% em junho, compensando totalmente a queda de 3,28% do mês anterior. Mas o susto mal havia passado quando o foco se voltou de vez para as eleições de outubro. É grande a dúvida sobre o comprometimento dos candidatos com reformas estruturais e sua capacidade para implementá-las. Isso vem se traduzindo em volatilidade intensa no mercado financeiro e altas seguidas da cotação do dólar. Como as incertezas são grandes em relação ao cenário eleitoral, as expectativas também são baixas em relação ao futuro ocupante do Palácio do Planalto. “Se quem chegar lá não atrapalhar, já é um bom começo”, disse Stelleo Tolda, fundador e diretor de operações da empresa de comércio eletrônico Mercado Livre, um dos palestrantes do Encontro EXAME CEO.

Eduardo Guardia, economista que assumiu o Ministério da Fazenda em abril com a saída do hoje candidato à Presidência Henrique Meirelles, destacou, no discurso de encerramento da premiação de MELHORES E MAIORES, a encruzilhada em que o Brasil se encontra. “Nós estamos em um momento decisivo de nossa história. O país vai ter de tomar uma decisão de que rumo vai seguir”, disse o ministro. Para ele, as reformas já promovidas devem ter efeito sobre a produtividade de longo prazo. “Aumentar o potencial de crescimento da economia em 1 ponto percentual, para crescer não 2,5%, mas 3,5% ou 4%, é o que fará a diferença em 30 anos: se vamos entregar a nossos filhos uma renda per capita do Chile ou da Austrália”, diz João Manoel Pinho de Mello, secretário do Ministério da Fazenda, também presente à premiação. Mello acredita ser possível aprovar no Congresso até o fim do ano ao menos quatro projetos importantes. Seria uma demonstração de que o governo, pelo menos nos estertores, não está parado, já que MELHORES E MAIORES mostrou que as empresas brasileiras certamente não estão.


O EXEMPLO DAS VENCEDORAS

No Encontro EXAME CEO, empresas campeãs de MELHORES e MAIORES 2018 compartilharam as estratégias de sucesso, mesmo num cenário econômico desafiador

Empresas campeãs: Guilherme Mello, presidente da MRS; Sergio Pancini de Sá, presidente da Mahle Metal Leve; e Ogari de Castro Pacheco, presidente do conselho diretor do laboratório Cristália. Eles falaram sobre as estratégias de suas empresas | Flávio Santana
Economia digital: Stelleo Tolda, fundador e chefe de operações do Mercado Livre, expôs sobre a trajetória da empresa de comércio eletrônico | Flávio Santana
Eleições 2018: Cristopher Garman, diretor da consultoria Eurasia, falou do cenário político | Flávio Santana
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