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As "táticas de combate" do clube da luta contra o machismo

A editora de gênero no jornal The New York Times fala como atitudes simples podem aumentar a presença feminina na liderança das empresas

Jessica Bennett: “Precisamos de igualdade de gênero 
em todos os níveis corporativos” (Mike Pont/WireImage/Getty Images)

Jessica Bennett: “Precisamos de igualdade de gênero em todos os níveis corporativos” (Mike Pont/WireImage/Getty Images)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 26 de abril de 2018 às 05h00.

Última atualização em 26 de abril de 2018 às 05h00.

Em meio aos escândalos de assédio sexual divulgados nos Estados Unidos, o jornal The New York Times anunciou, em outubro, a criação de um cargo inédito: o editor de gênero. No comando está a jornalista Jessica Bennett, de 39 anos, que iniciou a carreira na revista Newsweek há 13 anos e mais recentemente colaborava assinando artigos para o jornal. Jessica analisa a linguagem das reportagens, a disposição das mulheres nas imagens e a escolha dos entrevistados. Segundo ela, seu trabalho é quebrar o viés inconsciente de gênero no jornalismo. Em março, foi lançado no Brasil seu livro Clube da Luta Feminista — Um Manual de Sobrevivência (Para um Ambiente de Trabalho Machista). O livro usa pesquisas e dados estatísticos para defender o que chama de “táticas de combate” para as mulheres no trabalho. Entre as sugestões, a jornalista escreve: “Pesquisadores descobriram que os homens inclinam mais o corpo para a frente do que as mulheres durante reuniões com as pessoas sentadas, tornando mais improváveis as interrupções enquanto falam”. De seu escritório em Nova York, Jessica Bennett deu a seguinte entrevista a EXAME.

Qual foi sua motivação para escrever o livro Clube da Luta Feminista?

O livro foi inspirado pelo meu clube de luta da vida real, que é uma dúzia de mulheres com quem me encontro há uma década, a cada dois meses, para compartilhar conselhos, desafios e o que aprendemos em nosso trabalho. Quis pegar alguns desses fatos que as mulheres geralmente citam como obstáculos, investigá-los com base em pesquisas e fornecer ferramentas para outras mulheres conseguirem ganhar espaço.

Por que o The New York Times decidiu criar o cargo de editor de gênero?

Há muito tempo o jornal fala sobre gênero, mas há cerca de um ano foi decidido contratar um editor para se concentrar especificamente nesse assunto. Comecei o trabalho em outubro de 2017, duas semanas depois dos primeiros relatos de abuso sexual cometido pelo cineasta Harvey Weinstein que culminou no movimento Me Too, uma luta contra o assédio nessa indústria. Pessoalmente, significa que agora deixo o papel de fazer a cobertura incessante de assédio sexual para começar a pensar sobre todas as outras coisas que precisamos fazer.

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Existem outras iniciativas parecidas?

Colaborei como editora na LeanIn.org, organização sem fins lucrativos, fundada pela chefe de operações do Facebook e ativista Sheryl Sandberg. Lá, fui curadora e cofundadora da Lean In Collection, iniciativa para mudar o modo como as mulheres são representadas em bancos de imagens, para ter mais exemplos de mulheres profissionais e de todos os tipos.

A senhora defende que as mulheres precisam de aliados masculinos na busca por mais espaço na liderança das empresas. Como conquistar esse apoio?

Acredito, firmemente, que não chegaremos a lugar nenhum se não tivermos aliados masculinos. A razão é simples. As mulheres já compõem a maioria da força de trabalho nos Estados Unidos. Mas não são promovidas nem atingem posições de liderança. Para os homens, que tomam em boa parte das vezes as decisões de quem promover, digo: junte-se às nossas equipes, participe de conversas, não tenha medo de fazer perguntas. No livro sugiro uma lista de 16 atitudes simples que os homens podem tomar todos os dias no trabalho para apoiar a ascensão feminina. Um exemplo quase trivial é chamar mais de uma mulher para uma mesma reunião. Dados mostram que isso aumenta a chance de que elas falem. Diversos estudos demonstram que a igualdade de gênero é boa para mulheres e homens, pois gera resultados melhores nos negócios: torna-os mais inclusivos, colaborativos e lucrativos. Um estudo da consultoria de gestão McKinsey indica que o produto interno bruto dos Estados Unidos poderia crescer até 26% com a maior participação feminina em postos de liderança.

Pesquisas citadas no livro mostram que mães são menos promovidas do que mulheres sem filhos. Como esse padrão pode ser alterado?

As pesquisas mostram que jornadas mais flexíveis e com mais autonomia podem tornar os funcionários mais produtivos, e isso é melhor para os pais que trabalham. Só os líderes podem advogar por políticas que valorizem a realização do trabalho em vez do tempo gasto no local. E lutar por políticas de licença parental, encorajando mulheres e homens a aceitá-las. Se todos tivessem tempo para suas crianças, homens inclusive, isso não seria um problema exclusivo das mulheres.

Atrizes protestam no Golden Globe, em janeiro: contra o assédio sexual | Axelle/Bauer-Griffin/Getty Images

No livro, há histórias de homens sabotadores de mulheres e mulheres sabotadoras de si mesmas. Por quê?

Acho que muito desse comportamento de ambos os lados é inconsciente. Os homens foram ensinados a falar em voz alta e ser líderes, enquanto as mulheres foram ensinadas a ficar em segundo plano e esperar sua vez. Por isso é importante falar sobre o tema. O primeiro passo para superar o preconceito é reconhecê-lo.

Como as mulheres podem criar os próprios clubes de luta no trabalho?

É muito simples. Encontre algumas mulheres que pensem como você e conversem sobre seus objetivos. Reúnam-se regularmente (recomendo mensalmente, com um grupo pequeno o suficiente para que todas possam conversar) e se comprometam a estar lá para apoiar umas às outras. Para ajudar mais na transformação desse cenário, publiquei, no site sobre o livro, atividades e perguntas para iniciar uma reflexão a respeito do que pode ser melhorado em cada pessoa ou no contexto em que ela está inserida. n

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