Revista Exame

Na hora de repartir os lucros

Mesmo em queda neste ano, o rendimento de dividendos distribuídos por algumas das maiores empresas continua atraente para os investidores

Bolsa de valores B3: a política de distribuição de dividendos é um dos pontos a analisar ao escolher as ações (Renato S. Cerqueira/FuturaPress)

Bolsa de valores B3: a política de distribuição de dividendos é um dos pontos a analisar ao escolher as ações (Renato S. Cerqueira/FuturaPress)

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Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 05h34.

Neste ano, as empresas listadas na bolsa de valores B3 devem distribuir menos lucros entre seus acionistas. Ainda assim, muitos investidores não têm do que reclamar. A pedido da EXAME, a consultoria Economatica levantou as dez empresas com maior rendimento de dividendos até agosto deste ano — todas com ganhos acima da Selic, a taxa básica de juro. Essas empresas fazem parte do seleto grupo que estará em destaque na edição 2020 de MELHORES E MAIORES, que será lançada em novembro.

Apesar da rentabilidade competitiva em relação à renda fixa, a distribuição dos dividendos está sendo mais modesta neste ano, em parte por causa da pandemia de covid-19. “Essa situação ainda pode mudar, mas dificilmente chegaremos ao mesmo nível dos anos anteriores”, diz Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica. Nos sete primeiros meses do ano, as empresas distribuíram, em média, menos da metade dos dividendos esperados para o ano inteiro. “Em 2020, muitas empresas decidiram não fazer a distribuição de lucros e investir no próprio negócio.”

Não são todas as empresas, porém, que diminuíram a distribuição de lucros neste ano. A BB Seguridade, holding de seguros do Banco do Brasil, foi quem proporcionalmente mais pagou dividendos em 2020. Até 14 de agosto, ela distribuiu o correspondente a 7,38% do preço da ação no fim de 2019. Além disso, no balanço divulgado em agosto, a BB Seguridade anunciou a previsão de um payout (porcentagem do lucro líquido distribuído aos acionistas) de 95% e um rendimento de dividendos de 13,9%, um montante que chega a 1,7 bilhão de reais. “Nosso negócio é um forte gerador de caixa e temos capacidade­ de endividamento”, diz Bernardo Rothe, presidente da BB Seguridade. “Preferimos devolver valor ao acionista a deixá-lo parado no caixa.”

Os valores se explicam também pelo movimento estratégico adotado desde a reestruturação da parceria da BB Seguridade com a seguradora ­Mapfre, concluída no fim de 2018. Desde então, a parceria entre as empresas só se manteve para os seguros do canal bancário, como previdência e seguro de vida. “Estamos focando as atividades que agregam mais valor”, diz Rothe. Em julho de 2019, a BB Seguridade vendeu também sua participação na IRB Brasil Resseguros, obtendo um ganho líquido estimado em 2,4 bilhões de reais. “Isso liberou bastante capital e possibilitou aumentar a distribuição para o acionista”, diz Rothe.

Em geral, ações que pagam bons dividendos são as preferidas de investidores mais conservadores. É o caso de muitas pessoas que estão iniciando no mercado de ações em busca de alternativas à renda fixa. “Muita gente começa a investir em ações olhando primeiro para os dividendos, porque entendeu que essa pode ser uma fonte de renda”, diz o analista Bruno Lima, especialista em renda variável da EXAME Research. A política de distribuição de dividendos é um aspecto que vale a pena analisar na hora de escolher qual ação comprar, mas só isso não conta toda a história. Devem ser considerados ainda o risco de cada aplicação e o perfil e a estratégia do investidor. Títulos públicos de longo prazo, por exemplo, continuam competitivos para se defender da inflação. “O mercado de ações tem riscos intrínsecos dos ativos, e só comparar com a taxa Selic pode ser enganador”, diz Lima.

Cabe lembrar também que o rendimento em dividendos tende a subir proporcionalmente quando uma ação perde valor. “Se o preço da ação cai, e o negócio da empresa continua igual, a taxa de retorno com essa ação é maior”, diz o analista. Já empresas em fase de crescimento acelerado tendem a distribuir menos dividendos, por usar o lucro para reinvestir no negócio. E a crise, é claro, pode tornar a gestão do caixa mais conservadora. É o caso dos bancos, grandes pagadores nos últimos anos, mas que frearam a distribuição de lucros em 2020.

É possível também adotar uma estratégia mista, escolhendo uma parte das ações de boas pagadoras de dividendos e a outra parte mais focada no acúmulo de capital. Nesse caso, vale ficar de olho em empresas em processo de reestruturação. A operação costuma engordar o caixa da empresa, o que pode resultar em mais dividendos no futuro. Além disso, grandes empresas de serviços essenciais, como as do setor de energia, tendem a ser boas pagadoras de dividendos, como é o caso da Cesp, da AES Tietê e da CPFL Energia, presentes na lista das dez que mais pagaram dividendos neste ano. “Elas já não precisam investir tanto em infraestrutura e têm uma entrada estável de dinheiro, o que permite distribuir mais”, diz Lima.

(Arte/Exame)

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