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A Avipal está na guerra do frango e do leite

A Avipal, com vendas de mais de 2 bilhões de reais, enfrenta a Paulista, a Sadia e a Perdigão

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Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2013 às 16h11.

O veterinário chinês Shan Ban Chun, dono de 78% do capital da empresa gaúcha Avipal, não dá entrevistas, não costuma fazer aparições públicas e, nas raríssimas vezes em que é visto fora da sede da empresa, em Porto Alegre, demonstra estar pouco à vontade com a língua portuguesa.

Filho de um industrial de Xangai que abandonou a China para fugir do comunismo, ele e o irmão, o en genheiro mecânico Shen Ban Yuen, deixaram seu país nos anos 50 para tentar a sorte em São Paulo. Em 1959, um grupo de chineses que morava em Porto Alegre convidou-os para participar da criação de um abatedouro de frangos.

Assim nasceu a Avipal, hoje um grupo de 8 300 funcionários com negócios na avicultura e no setor de laticínios, que faturou 2,1 bilhões de reais e lucrou 20,8 milhões de reais no ano passado.

Nos últimos meses, sua marca de leite longa-vida, a Elegê, assumiu a liderança do mercado brasileiro, à frente de empresas tradicionais, como a Paulista e a Parmalat. No mercado de frangos, a Avipal concorre com a Sadia e a Perdigão.

Agora, aos 74 anos, Chun está passando por aquele momento típico dos homens de negócios que chegam à terceira idade à frente de uma grande empresa -- planejar a continuidade dos negócios. Em meados do ano passado ele contratou a consultoria paulista Galeazzi & Associados.

"O objetivo do nosso trabalho aqui é profissionalizar a gestão e garantir uma sucessão tranqüila", diz Galeazzi. Muitas empresas costumam recorrer a esse tipo de ajuda quando estão em dificuldades. Não é esse o caso da Avipal. Em 45 anos de história, o grupo dirigido por Chun teve apenas um e pequeno prejuízo, de menos de 1 milhão de reais em 2002.

Desde janeiro, uma equipe de cinco profissionais capitaneados por Galleazzi assumiu interinamente a direção da Avipal. Seu principal desafio é aumentar a rentabilidade de produtos de baixo valor e de difícil diferenciação para o consumidor comum -- frangos e leite.

No caso do leite, Galeazzi diagnosticou que era preciso ganhar mercado para aumentar o volume de produção. Pela primeira vez na sua história, a Elegê está veiculando uma campanha publicitária na televisão.


Na busca por mais espaço, a Elegê recebeu uma ajuda involuntária com a crise que quase tirou de circulação -- por um período -- os produtos da multinacional italiana Parmalat. Segundo dados da ACNielsen, a Elegê foi a marca de leite longa-vida que melhor aproveitou os maus momentos da concorrente.

Nos meses de abril e maio deste ano (o levantamento mais recente da Nielsen), a Elegê obteve 11,7% do mercado de leite longa-vida, ante 2,9% da Parmalat, tornando-se a líder do mercado. No período anterior, a situação era outra. A Parmalat era a líder, com 13,9% de participação, enquanto a Elegê tinha 6,9%

"Agora que nossa marca é mais conhecida, vamos lançar mais produtos com maior margem de lucro", diz Francisco Marques de Avila. Além do leite de caixinha, a Elegê também dá nome a uma linha de laticínios que inclui leite em pó, queijos e leite condensado.

Com capacidade para processar até 3 milhões de litros de leite por dia, a Elegê é responsável por 43% do faturamento da Avipal. No outro pedaço da empresa, o dos frangos, aumentar a rentabilidade é uma tarefa mais difícil -- ainda que a Avipal esteja entre os três maiores produtores do país. "A concorrência é muito grande", diz Avila.

Uma das possibilidades de aumentar a margem de comercialização desse tipo de produto era investir em produtos industrializados. "Mas essa não é a nossa vocação", diz José Carlos Aguilera, gestor comercial da empresa. Em meados dos anos 90, a Avipal ensaiou sua entrada no mercado de produtos industrializados.

Num movimento inesperado, a empresa, então a quinta do ranking, tentou comprar a Perdigão. A estratégia de Galeazzi foi transformar a Avipal numa exportadora. Até 2002, a divisão de carnes exportava menos de 3% do faturamento do grupo. Hoje, esse percentual subiu para 51%, sobretudo com as vendas para países do Oriente Médio.

As mudanças estratégicas já tiveram reflexos no balanço do primeiro semestre. O faturamento, de 1,1 bilhão de reais, foi 26,3% superior ao registrado nos seis primeiros meses de 2003. No mesmo período, o lucro cresceu oito vezes e passou de 3 milhões de reais para 25,3 milhões. Além da Avipal, Chun tem participação em diversos negócios particulares, que incluem seis filiais de um restaurante em Porto Alegre, uma concessionária GM, uma corretora de seguros e uma financeira.

Divorciado, Chun costuma se reunir com outros descendentes de chineses nos fins de semana para partidas de majong, um jogo popular em seu país de origem. Seus três filhos participam do conselho de administração da Avipal. Segundo pessoas próximas à família, nenhum deles foi ainda escolhido como seu substituto.

A sucessão na Avipal, portanto, continua indefinida. Trata-se de uma questão que pode ter um desfecho inesperado para a família. Uma possibilidade que não pode ser descartada é a Sadia, que perdeu a disputa pela Seara, comprada pela Cargill no final de agosto, fazer uma oferta pela Avipal, redefinindo todo o jogo nesse mercado.
 

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