Revista Exame

Na bolsa americana, a hora da economia real

Cortes de juros e “America first” de Trump devem garantir nova alta da bolsa — muito além da IA

Bolsa americana: há espaço para novas altas em 2025 — e, desta vez, com um perfil um pouco mais analógico (Leandro Fonseca/Exame)

Bolsa americana: há espaço para novas altas em 2025 — e, desta vez, com um perfil um pouco mais analógico (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.

Em meio ao boom das empresas de tecnologia, o S&P 500, índice que reúne as 500 empresas de maior capitalização nos Estados Unidos, subiu 60% entre 2023 e 2024, no sexto menor biênio desde 1928. Apesar do rali, o consenso mostra que há espaço para novas altas em 2025 — e, desta vez, com um perfil um pouco mais analógico.

O BTG (do mesmo grupo de controle da EXAME) vê o índice chegando a 6.500 pontos no fim de 2025, enquanto o UBS prevê algo em torno de 6.600 pontos, alta de cerca de 10% em relação aos patamares de meados de dezembro.

O primeiro vento de cauda vem das taxas de juro. Um
levantamento feito pelo UBS mostra que, todas as vezes que o banco central americano cortou taxas e o país não entrou em recessão, o mercado acionário no país subiu 18% nos 12 meses
seguintes ao primeiro corte.

Esse fator, somado à economia forte nos Estados Unidos e às políticas de corte de impostos e de desregulamentação por parte do presidente eleito Donald Trump, deve dar impulso ao consumo doméstico — e às ações de empresas além do mundo tech. “O crescimento dos lucros já tem se espalhado para ações fora do setor de tecnologia”, aponta o banco suíço.

Desde a vitória de Trump, as altas do S&P já têm sido mais dispersas para outros setores. Em 2023, as “Sete Magníficas” — Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla — representaram 60% dos ganhos do índice, mesmo patamar registrado até meados de julho de 2024.

No acumulado de 2024 até novembro, no entanto, essa contribuição chegou a 44%, ainda expressiva, mas com empresas do setor financeiro e outras ligadas ao mercado doméstico ganhando mais espaço. O índice de small caps, que reúne empresas de menor capitalização, também avançou.

Os gigantes de tecnologia devem seguir com fôlego. “O gasto com infraestrutura de IA vai continuar robusto”, afirma a equipe do UBS, que mantém o setor de tecnologia como um de seus favoritos.

A questão é que os preços das ações já estão mais esticados, o que abre espaço para frustrações. “Em meados de 2024, os investidores começam a se questionar mais sobre a rentabilidade dos investimentos em IA. Essa tônica pode voltar”, diz Daniel Martins, da GeoCapital.

Buscando pechinchas, a gestora brasileira que investe em ações fora do país tem mapeado opções de empresas que têm os Estados Unidos como principal mercado, mas são negociadas em outras bolsas, cujos preços ficaram para trás. É o caso da fabricante de bebidas Diageo, dona de marcas como Johnnie Walker e Smirnoff, listada em Londres.

“Há claramente um descolamento do crescimento da economia americana do restante do mundo”, resume o gestor. Chegou a hora da economia real.

Natalia Viri

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