Revista Exame

Lucro de 4 reais em 100 reais de receita é bom?

Um levantamento prévio Melhores e Maiores mostra que as grandes empresas de capital aberto tiveram no ano passado a menor margem líquida de lucro desde 2000

Obra da incorporadora Brookfield: o aumento dos custos engoliu os lucros (Germano Lüders/EXAME.com)

Obra da incorporadora Brookfield: o aumento dos custos engoliu os lucros (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2013 às 15h21.

São Paulo - O baixo desempenho da economia brasileira em 2012 se refletiu no balanço das maiores empresas do país na forma de piora da rentabilidade.

Levantamento preliminar de Melhores e Maiores, de EXAME, aponta uma sensível queda da margem líquida de lucro comparada com a receita das vendas. Em uma amostra de 115 companhias abertas monitoradas pela consultoria Economática desde 2000, a margem líquida média no ano passado ficou em 4,1%.

Esse índice significa que, de cada 100 reais que essas empresas faturaram em 2012, sobraram, depois de deduzidos os custos, apenas 4,10 reais de lucro para distribuir aos acionistas. É a pior marca da série histórica — a lucratividade mais baixa registrada antes foi a de 2002 (4,9%). Nos melhores anos, o ganho costuma ficar num percentual que é o dobro do verificado em 2012.

Nos Estados Unidos, a margem média das empresas de capital aberto no ano passado permitiu ganho de 7,30 dólares para cada 100 de receita. Isso ocorreu apesar de, em média, as 425 empresas americanas analisadas terem crescido 1,9%, ante 4,3% de expansão das companhias brasileiras.

“Nossa economia é mais volátil que a americana”, diz Fernando Exel, presidente da Economática. “Aqui, as empresas sofreram mais com aumentos dos custos, como o causado pelo efeito da variação cambial sobre as dívidas.”

A Economática também apurou que, numa amostra mais ampla, de 330 empresas de capital aberto no Brasil, 45% viram o valor dos lucros cair. Ao todo, elas lucraram 127 bilhões de reais em 2012, 34% menos que no ano anterior. Os dados são parciais e serão analisados em detalhes na edição de 40 anos de Melhores e Maiores, que chegará às bancas no início de julho.

O descompasso entre a alta dos custos e a evolução das receitas é mais evidente no setor industrial. Enquanto os preços dos produtos manufaturados aumentaram 4,9% no ano passado, os custos subiram 6,3%, de acordo com levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).


O item que puxou a alta foi a despesa com pessoal, que subiu 11%. Esse aumento se deve à escassez de mão de obra qualificada, um dos fatores por trás da falta de competitividade das empresas brasileiras. “No Brasil, se uma empresa demite, não consegue recontratar, pois falta gente”, diz Renato Fonseca, economista da CNI. “Por isso, acaba pagando mais.”

Além da elevação dos custos, as empresas brasileiras precisam lidar cada vez mais com a ingerência do governo na economia. Que o diga a Eletrobras, empresa que registrou o maior prejuízo no país em 2012 — quase 7 bilhões de reais.

Boa parte das perdas da estatal foi decorrente do plano do governo para o setor elétrico, que obrigou as empresas a cortar as tarifas em troca da renovação antecipada de concessões que venceriam a partir de 2015.

“A regra nova nos pegou de surpresa e impôs sacrifícios ao caixa da companhia”, afirma José da Costa Carvalho Neto, presidente da Eletrobras. Em outro setor, o da construção, o que houve foi uma ressaca da euforia anterior.

As construtoras que estão na bolsa, após lucrar 3,4 bilhões de reais em 2011, tiveram prejuízo de 1 bilhão em 2012. Brookfield e PDG foram algumas que fecharam no vermelho. “Essas incorporadoras pagaram um preço alto pela expansão desordenada nos anos anteriores”, diz Marcelo Motta, analista do banco J.P. Morgan.

Não é um problema exclusivo do setor de construção. “Nos últimos anos, muitas empresas miraram o aumento da participação no mercado e deixaram a eficiência em segundo plano”, afirma Alfredo Pinto, sócio da consultoria Bain & Company. Agora chegou o momento de buscar a eficiência — e torcer para que a ingerência de Brasília atrapalhe menos.

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