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Medir a pegada de carbono é fácil

A Coca-Cola e a SABMiller foram desafiadas a avaliar o impacto social de seus negócios em dois países miseráveis — e aceitaram

Protesto da ONG OXFAM em Paris: histórico de relações pouco cordiais com o setor privado (AFP Pierre Verdy)

Protesto da ONG OXFAM em Paris: histórico de relações pouco cordiais com o setor privado (AFP Pierre Verdy)

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Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2011 às 12h20.

Foi-se o tempo em que uma empresa fazia barulho ao revelar o cálculo de suas emissões de carbono. Afinal, milhares de companhias perceberam que fazer essa conta não é um bicho de sete cabeças: reúna um grupo de engenheiros dispostos a usar umas fórmulas matemáticas e tenha informações relevantes sobre o  negócio.

Pronto. Em menos de quatro meses é possível saber o tamanho da chamada “pegada de carbono”. O próximo passo é um pouco mais complicado: trata-se de definir como reduzir ou neutralizar essas emissões. Ainda assim, o desafio está menos em saber o que precisa ser feito e mais na vontade da alta gestão de executar as ações, como trocar a gasolina pelo etanol na frota de veículos.

Em 2009, a americana Coca-Cola, a maior empresa de bebidas do mundo, e a inglesa SABMiller, a segunda do mercado de cervejas, decidiram se arriscar numa empreitada bem mais complexa do que essa.

Elas permitiram que a Oxfam, uma das mais aguerridas ONGs globais de combate à fome, se embrenhasse em suas operações em dois países miseráveis — El Salvador, na América Latina, e Zâmbia, na África — para calcular o que ela batizou de “pegada da pobreza”: uma metodologia criada pela entidade para avaliar quanto uma empresa gera de impacto no desenvolvimento social de determinado lugar. Os resultados desse trabalho só foram divulgados há cerca de dois meses.

A Oxfam é uma ONG conhecida por suas relações pouco cordiais com o setor privado. É hábil em chamar a atenção da opinião pública para a causa da pobreza com protestos criativos e barulhentos — que muitas vezes têm corporações como alvo. A parceria com a Coca-Cola e a SABMiller, porém, foi considerada estratégica pela entidade.

“Nos últimos anos as empresas passaram a ser muito cobradas por transparência em relação aos impactos ambientais, e menos em relação aos impactos sociais”, diz Chris Jochnick, diretor da Oxfam nos Estados Unidos. “Acreditamos que as duas searas são importantes e que o trabalho com companhias dessa relevância daria visibilidade à questão.”

Para calcular a pegada de pobreza da Coca-Cola e da SABMiller, responsável pelo engarrafamento e pela distribuição das bebidas da empresa americana em El Salvador e em Zâmbia, 65 pessoas — da ONG, das duas empresas e da consultoria PricewaterhouseCopers — foram envolvidas.


Elas entrevistaram 612 pessoas em 2009, dos cortadores de cana das usinas que vendem o açúcar usado na produção dos refrigerantes aos varejistas formais e informais e consumidores.

O resultado: 700 páginas de informações sobre a influência da operação da Coca-Cola em uma dezena de questões, como saúde e bem-estar, igualdade entre homens e mulheres, violência e fortalecimento das instituições locais.

Durante o ano de 2010, empresas e ONG discutiram os resultados e trabalharam para condensar os dados, que finalmente vieram a público neste ano.

“Dominamos a metodologia da pegada de água, um bem tangível e crucial para nosso negócio”, afirma Andy Wales, diretor global de sustentabilidade da SABMiller. “Mas calcular nossa pegada social foi algo bem mais complexo, e nosso medo era que a Oxfam não conseguisse nos entregar recomendações claras e objetivas.” Não foi o que aconteceu. Pelo contrário.

Se estiverem dispostas a seguir à risca a cartilha sugerida pela ONG, Coca-Cola e SABMiller terão trabalho para os próximos dez anos. Para não correr o risco de perder a confiança da ONG parceira, as duas empresas já estão se mexendo.

A pegada de pobreza revelou, por exemplo, que são muitos os acidentes entre os caminhoneiros independentes envolvidos na distribuição das bebidas em Zâmbia.

As causas são as condições precárias das estradas no país e as horas em excesso dos motoristas ao volante. A Cola-Cola e a SAB-Miller não podem melhorar as estradas. “Mas já estamos estudando a instalação de mais um centro de distribuição para diminuir as distâncias das viagens”, afirma Wales.

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