Revista Exame

Juro em queda, bolsa em alta: 2024 mais favorável aos investimentos

Com a Selic em dois dígitos, mercado acredita em Ibovespa em 145 mil pontos

Ibovespa: deve chegar em 145 mil pontos em 2024 (Julia Jabur/Exame)

Ibovespa: deve chegar em 145 mil pontos em 2024 (Julia Jabur/Exame)

Janize Colaço
Janize Colaço

Repórter de Invest

Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 07h02.

O vislumbre de um alívio no aperto monetário, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, tem sido esperado pelos investidores. As expectativas giram em torno de um 2024 com juros menores e um ambiente mais favorável para os investimentos ­— sobretudo no Ibovespa, cuja média de previsão de preço-alvo é de 145,5 mil pontos*. A bolsa encerra 2023 barata e com os múltiplos atraentes. Mesmo com o recente rali de novembro, que fez o Ibovespa subir 12,54%, ainda há espaço para o índice crescer mais ao longo de 2024. O Ibovespa está negociando por volta de oito vezes o preço pelo lucro, sendo que a média histórica é de 11 vezes. “O Ibovespa está com um desvio-padrão abaixo do histórico de negociação”, diz Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora. Segundo ele, gestores de fundos de ações ainda não têm entrada de recursos para gastar com ativos de risco, mas a migração da renda fixa para a variável será gradual no decorrer do próximo ano com o corte de juros.

No Brasil, o Banco Central deu início em agosto ao ciclo de corte de juros, o que fez a Selic cair de 13,75% para 11,75% ao ano, com projeções de retorno à casa do dígito único nos próximos 12 meses. Contribui para o otimismo o fim da escalada dos juros nos EUA que, depois de atingirem o maior patamar em 22 anos, podem começar a sofrer cortes no primeiro semestre de 2024. Ainda assim, Sílvia Matos, coordenadora técnica do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), diz que, mesmo em queda, os juros vão seguir elevados se comparados aos níveis pré-pandemia. “Esse foi o preço que o ‘novo normal’ exigiu para as economias sobreviverem.”

Como lembra a economista-chefe da Galápagos Capital, Tatiana Pinheiro, além da própria taxa de juros, os principais canais de transmissão da política monetária incluem o crédito, as expectativas e o câmbio. “Isso porque, quando é iniciado, o corte nos juros mexe imediatamente nas expectativas. Devido à defasagem, o canal do crédito é um pouco mais lento, enquanto o câmbio também sofre influência da perspectiva internacional — que atualmente é positiva, tendo em vista que os juros nos EUA também mostram uma tendência de queda para o próximo ano.” Ela afirma que, quando o dólar enfraquece, o real se fortalece, e isso barateia os produtos importados, derrubando o custo das empresas e de vida das famílias.

No mercado doméstico, projeta-se a contratação pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de novos cortes de 0,5 ponto percentual nas duas primeiras reuniões do ano que vem, marcadas para janeiro e março. Embora as expectativas sejam de uma Selic na casa dos 9,25%, a pedra que pode atrapalhar o caminho é a meta fiscal, cuja possibilidade de revisão foi levantada pelo próprio governo federal ao longo dos últimos meses de 2023. Para Álvaro Frasson, economista e estrategista especializado em Brasil do BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME), uma mudança pode afetar toda a estrutura do arcabouço fiscal, criando um ambiente negativo para a macroeconomia interna. “Se isso acontecer, existe alguma chance de desacelerar o ritmo do corte, seja na reunião de maio, seja na de junho. Mas esse é o nosso cenário-base? Ainda não.”

*Estimativa da EXAME ­Invest considerou as projeções feitas pelas seguintes instituições financeiras e corretoras: Genial Investimentos, Guide Investimentos, Itaú BBA, Manchester Investimentos, One Investimentos, Santander Corretora e Terra Investimentos.

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