Lucimar Alves Menezes: na pandemia, personagem criada por ele visitava, em casa, estudantes ausentes (Carol Verri/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 10h00.
Conduzir a gestão de uma escola integral significa embarcar em uma jornada que vai muito além do conteúdo acadêmico. É assumir o compromisso de formar cidadãos éticos, protagonistas de suas histórias e preparados para buscar e realizar sonhos. Essa é a visão de Lucimar Alves Menezes, que acompanha o tema desde 2012, quando o modelo educacional começou a ser implementado em Aparecida de Goiânia (GO), sua cidade natal.
Ao observar de perto o modelo, a dinâmica de trabalho e os resultados alcançados por escolas pioneiras — como a CEPI Cecília Meirelles, que se destacava pelas notas dos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) —, passou a frequentar os eventos promovidos pela unidade. Por lá, ouviu relatos de estudantes sobre as mudanças trazidas pela ampliação da carga horária. Os depoimentos reforçaram sua convicção de que a proposta pedagógica tinha potencial para abrir horizontes.
A oportunidade de atuar nesse formato chegou em 2018, quando o Colégio Estadual Santa Luzia, onde trabalhava como gestor desde 2014 — função que exerceu até agosto de 2025 —, passou pela transição para o integral.
A experiência confirmou, na prática, o que Menezes já imaginava: o modelo é capaz de transformar vidas. Ele costuma dizer que “a escola integral é a escola da escolha”. Com iniciativas como Projeto de Vida e Acolhimento Escolar, os estudantes conseguem vislumbrar futuros diferentes e traçar planos mais consistentes para a vida pessoal e profissional. Casos de adolescentes que chegaram com defasagem de aprendizagem e pouca expectativa em relação ao futuro, mas se transformaram em protagonistas de projetos culturais e artísticos, confirmam o potencial da mudança.
Segundo ele, os resultados se explicam tanto pela metodologia, apoiada nos pilares aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser, como por ferramentas como o Plano de Ação e a Gestão Goiana. Ambas contam com diagnósticos prévios da escola e instrumentos institucionais, trazendo clareza sobre metas, objetivos e vulnerabilidades a serem trabalhadas.
Outro ponto central é a proximidade entre gestão, professores e estudantes. O vínculo permite identificar dificuldades e potencialidades de cada aluno, fortalecendo uma relação de confiança e respeito. O processo inclui desde a realização de “Censos” internos, que revelam o contexto social, econômico e cultural dos jovens, até reuniões periódicas com líderes de turma, nas quais os problemas são discutidos coletivamente para a construção de soluções.
Ao longo de sua atuação, aprendeu que o pilar “conviver” é o mais importante para sustentar os demais, já que os estudantes passam grande parte do tempo na escola e exigem uma gestão próxima, conectada ao cotidiano e ao diálogo constante. Para ele, o Cepi é “70% emocional”: um ambiente que exige sensibilidade para ouvir, acolher e colaborar.
A trajetória de Menezes foi marcada pelo compromisso com o ensino médio integral e pelo protagonismo em ações que fortaleceram o modelo na rede. Entre elas, duas iniciativas contra a evasão escolar se destacam. Durante a pandemia de covid-19, em 2020, o profissional, formado em artes visuais e pedagogia, e mestre em história, criou a bem-humorada Professora Maria Bolonha. “Caracterizado como essa personagem ‘bem espalhafatosa’, visitava a casa dos alunos que não estavam participando das aulas remotas nem realizando no mínimo 70% das atividades, para entender o que estava acontecendo e, assim, ajudar”, conta. A ação, reconhecida nacionalmente, evoluiu para a Busca Ativa Móvel de Urgência (Bamu), uma analogia ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que permanece até hoje como estratégia para manter o vínculo dos jovens com a escola.
“O modelo de escolas de tempo integral busca garantir o desenvolvimento pleno dos alunos em suas dimensões intelectual, física, emocional, social e cultural, com foco na formação crítica, autônoma e responsável do estudante. Uma escola de tempo integral traz espírito de aprendizagem, oportuniza ao aluno poder decidir seu projeto de vida”, diz Fátima Gavioli, secretária da Educação do estado de Goiás.
