Marcelino Rafart de Seras, presidente da EcoRodovias: obra da pista descendente da Imigrantes exigiu derrubada de 2,5% da mata prevista | Leandro Fonseca / (Leandro Fonseca/Exame)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2017 às 05h46.
Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 05h46.
Quanto valem os benefícios proporcionados pela natureza, como ar mais puro, sombra e água fresca? Não é fácil calcular o valor monetário de bens intangíveis como esses, algo que os especialistas chamam de “valoração dos serviços ecossistêmicos”, um conceito ainda novo no Brasil. Encarando esse desafio, o grupo EcoRodovias, que administra sete rodovias nas regiões Sudeste e Sul, procurou a ajuda de especialistas para quantificar o valor das emissões evitadas por uma de suas obras mais importantes, a pista descendente da Rodovia dos Imigrantes, que liga a capital à Baixada Santista.
Inaugurada em 2002, a via é um marco por sua complexidade. Por adentrar numa porção de Mata Atlântica, na região da Serra do Mar, uma das principais preocupações do projeto era causar o menor impacto possível ao meio ambiente. Para isso, a EcoRodovias seguiu um detalhado plano de gestão ambiental, substituindo um antigo projeto por outro, mais moderno, baseado na construção de viadutos e túneis. Se a empresa tivesse seguido o projeto original, 1.600 hectares de Mata Atlântica teriam sido derrubados para as obras. Com o novo traçado, a área suprimida foi de 40 hectares — 2,5% da perda prevista. A porção da mata que não foi desflorestada, somada à área de replantio, evitou a emissão de 389.000 toneladas de dióxido de carbono na atmosfera entre 2002 e 2016. O dano ambiental evitado nesse período foi calculado recentemente em 68 milhões de reais.
Houve um imprevisto: durante a perfuração das rochas para a construção dos túneis, análises apontaram alteração no pH da água que sai do maciço rochoso, com nata de concreto e pó de pedra, o que afetou os rios que cortam a região. A solução foi instalar quatro estações de tratamento capazes de filtrar 700 000 litros de água por hora. “As estações funcionam até hoje e tratam água de chuva ou contaminada por óleos despejados por carros e caminhões”, diz Marcelino Rafart de Seras, presidente da EcoRodovias.
Para tornar seus negócios mais sustentáveis, a EcoRodovias adquiriu neste ano cinco carros elétricos, que passaram a fazer parte da frota de inspeção de tráfego. A iniciativa é pioneira no Brasil na área de concessões rodoviárias. Os veículos podem ter suas baterias recarregadas em pontos instalados nas rodovias do Sistema Anchieta-Imigrantes e no Corredor Ayrton Senna-Carvalho Pinto. A EcoRodovias está avaliando o desempenho ambiental e a redução de emissão com essa iniciativa e, nos próximos anos, pretende substituir 100% de sua frota de veículos usados na inspeção de tráfego.
Com planejamento e ações simples, o Grupo CCR diminuiu suas emissões de gases em 7% em relação aos níveis de 2012. A meta para daqui a dez anos é chegar a 30% de redução | Vinicius Tamamoto
O Grupo CCR é uma das maiores empresas de infraestrutura do país. Sob sua responsabilidade estão 3 265 quilômetros de rodovias em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Mato Grosso do Sul, além de sistemas de transporte público, como o metrô da Linha Amarela da capital paulista, por onde circulam 700.000 pessoas por dia. Foi pensando nos impactos que tamanha demanda pode causar ao meio ambiente que a companhia acompanha, desde 2012, as emissões de gases de efeito estufa em suas vias. Em 2013, lançou o Programa Corporativo de Mudanças Climáticas, com o qual se comprometeu a desenvolver ações para a redução ou a compensação de 5% das emissões de gases do chamado Escopo 1, decorrentes das próprias operações, e do Escopo 2, provenientes da compra de energia. O primeiro passo foi catalogar em um inventário anual a quantidade de gases lançados no ar. “Quando mensuramos isso, fica mais fácil monitorar e pensar em soluções efetivas”, diz Marina Mattaraia, gestora de sustentabilidade do grupo.
A equipe se concentrou, então, em rever os processos e a gestão da infraestrutura. Assim, desenvolveu planos de eficiência energética, como a instalação de sensores de presença em passarelas, a substituição de lâmpadas convencionais por outras de menor impacto e a realização de campanhas de consumo consciente de energia. O Centro de Pesquisas Rodoviárias, mantido pela empresa, desenvolveu o asfalto morno — diferentemente do tradicional, que atinge temperatura de até 200 graus, esse não ultrapassa os 70 graus. A mistura requer menos combustíveis no processo de usinagem e, consequentemente, reduz as emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, a CCR passou a adotar projetos de engenharia que levem em conta a redução do consumo de energia e água e da geração de resíduos nas obras. Vale destacar também que, em 2016, a CCR investiu mais de 4 bilhões de reais, um valor recorde. Entre outras obras, a empresa inaugurou a Linha 2 do metrô de Salvador e iniciou as operações do veículo leve sobre trilhos (VLT) do Rio de Janeiro. A oferta de transporte coletivo de qualidade contribui indiretamente para a redução das emissões de CO2 — segundo uma estimativa do Ipea, uma pessoa que dirige um automóvel emite quase oito vezes mais dióxido de carbono do que um passageiro de ônibus e 36 vezes mais do que um usuário de metrô.
No balanço geral, o saldo para a CCR foi positivo em 2016 — a empresa diminuiu em 7% as emissões de gases, ultrapassando a meta traçada de redução de 5% em relação aos níveis de 2012. Até 2027, o objetivo é alcançar uma queda de 30% em comparação com 2012.
Ao investir na educação ambiental dos funcionários e na modernização de sua frota de caminhões, a operadora de contêineres Santos Brasil reduz as emissões de gases e economiza água | Vinicius Tamamoto
Educar e estimular funcionários a adotar práticas sustentáveis no dia a dia pode render bons frutos. Prova disso é o projeto Motorista Sustentável, da Santos Brasil, uma das principais empresas de movimentação de contêineres em portos do país. O nome do programa é autoexplicativo: o motorista é peça-chave. A empresa entendeu que, para reduzir o impacto ambiental causado por sua frota de 135 caminhões, precisaria conscientizar os operadores da urgência do tema. Isso porque ainda é preciso usar combustível fóssil, que emite dióxido de carbono, um dos gases de efeito estufa, para a operação dos veículos.
Desde 2013, a companhia passou a promover palestras e a discutir com os 156 motoristas maneiras de emitir menos gases na atmosfera por meio da adoção de rotas inteligentes. Os que conseguem os melhores resultados são gratificados financeiramente. Em 2016, a iniciativa alcançou a média de 2,7 quilômetros rodados por litro de combustível — resultado 17% superior ao de janeiro de 2014, no início do programa, quando foram registrados 2,3 quilômetros por litro.
Outras medidas foram tomadas para reduzir o impacto ambiental causado pelas operações da Santos Brasil. Nos últimos anos, a companhia modernizou sua frota com a aquisição de caminhões com motores que devem ser abastecidos com o diesel S-10, que emite menos enxofre na atmosfera. Combinadas, as ações conseguiram diminuir em 8,3% as emissões de gases poluentes por quilômetro rodado. “Além de contribuir para o meio ambiente, reduzimos custos e ficamos mais competitivos no mercado”, afirma Raquel Ogando, gerente executiva de sustentabilidade da empresa.
A preocupação com a preservação do meio ambiente se estende ao uso dos recursos hídricos. Há dois anos, a Santos Brasil adotou um sistema de lavagem a seco de seus caminhões e equipamentos. Nesse método, poupam-se, em média, 1 500 litros de água por lavagem. Com a adoção dessa medida simples, houve uma economia, até setembro deste ano, de 7,8 milhões de litros em 4 826 lavagens — o suficiente para encher três piscinas olímpicas. A escassez da água foi tema da última Jornada Ambiental, evento de educação ambiental promovido pela empresa.
Guiados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, todos os funcionários receberam informações sobre o tema. O esforço tem dado certo: no ano passado, o consumo de água na empresa foi de 1,7 metro cúbico por funcionário, uma queda de 5,6% em relação ao índice de 2015. “O desafio é engajar nossos 3 200 funcionários para que eles se tornem propagadores de boas práticas”, afirma Raquel.