Revista Exame

Como o mensageiro corporativo Slack está criando escritórios virtuais

Serviços como o Slack viraram ferramenta obrigatória para as empresas durante a pandemia. próximo passo: tornar-se um hub digital para substituir as sedes físicas

Funcionário usando Slack: serviços de comunicação online foram adotados até pelo governo dos Estados Unidos (Leandro Fonseca/Exame)

Funcionário usando Slack: serviços de comunicação online foram adotados até pelo governo dos Estados Unidos (Leandro Fonseca/Exame)

DS

Daniel Salles

Publicado em 19 de novembro de 2021 às 06h00.

Prova inequívoca da importância do slack para o mundo corporativo no contexto atual foi a aquisição da ferramenta, concluída em julho deste ano, pela Salesforce. Líder global em software de gestão corporativa, ela arrematou a plataforma de comunicação empresarial pela respeitável cifra de 27,7 bilhões de dólares. “Agora temos o melhor sistema de CRM com a plataforma de comunicação digital mais inovadora do mundo”, afirmou Marc Benioff, CEO e fundador da Salesforce. “Juntos, vamos definir o futuro dos softwares de negócios.”

A aquisição confirma algo que todo mundo já deveria ter concluído ou aceitado: jamais voltaremos a trabalhar da mesma maneira que antes da pandemia. “Temos a oportunidade única de repensar e redefinir como e onde trabalhamos”, afirmou Stewart Butterfield, CEO e um dos fundadores do Slack,­ assim que a ferramenta entrou para o portfólio da multinacional.

De lá para cá, a plataforma está sendo integrada às nuvens e aos demais produtos da Salesforce, como Experience, Trailhead, MuleSoft e Quip. Também vale para as soluções desenhadas para bancos, ONGs e instituições de ensino, entre outros segmentos — o ­GovSlack é uma versão que atende às rigorosas exigências de segurança do governo dos Estados Unidos e das agências ligadas a ele. E a ferramenta ganhou funcionalidades como o compartilhamento de vídeos e áudios, aos quais os brasileiros, muitos deles a contragosto, se acostumaram graças ao uso cotidiano do WhatsApp.

O intuito do Slack, no entanto, é organizar a rotina de trabalho de cada um e impedir que ela contamine a vida pessoal — há um botão para suspender as notificações. Elencadas de maneira organizada, as mensagens podem ser conferidas e respondidas no ritmo e no horário de cada funcionário. “É um erro exigir que todos interajam na mesma hora só porque estamos em regime de home office ou em um modelo de trabalho híbrido”, defende Daniel Hoe, head de marketing da Salesforce na América Latina. “Em determinados dias, preciso que ninguém me interrompa por 3 horas para me dedicar ao planejamento, e isso é algo que a tecnologia precisa respeitar.”

Agora, o que o Slack ambiciona é fazer as vezes de hub digital para substituir as sedes físicas das empresas, nas quais muita gente nem sequer voltou a pisar desde que começou a pandemia. “Nossa mentalidade a respeito do trabalho mudou de um lugar para onde você vai para algo que você faz”, disse Bret Taylor, presidente e COO da Salesforce. “Toda empresa precisa de um hub digital para conectar seus funcionários, clientes e parceiros e prosperar no mundo do trabalho em qualquer lugar.”

Estima-se que nove em cada dez empresas planejem combinar o trabalho presencial com o remoto no futuro, mas só 33% se sentem preparadas para aderir ao modelo híbrido. “Muitas companhias que voltaram para os escritórios continuam fazendo reuniões somente pelo Zoom, cada um de sua mesa, o que não faz muito sentido”, observa Cristiano Soares, country manager no Brasil da Deel, provedor privado de folha de pagamentos.

Facilitadora de contratações internacionais e líder global em gestão de pagamentos e contratos de funcionários que não moram no mesmo país de suas companhias, a startup americana trabalha de maneira 100% remota e cresce, atualmente, 35% a cada mês — em outubro, ela atingiu a cifra de 5,5 bilhões de dólares de valuation.

Ana Luiza McLaren e Tiê Lima, do Enjoei: plataformas digitais ajudaram no processo de IPO (Leandro Fonseca/Exame)

“Os gestores que acreditam que é preciso voltar ao trabalho presencial para monitorar o dia a dia dos funcionários estão com os dias contados”, defende Soares. “Se você contratou as pessoas certas para seu time, pouco importa se elas estão trabalhando com o pé na areia da praia ou trocando o dia pela noite. O que importa são os resultados, que são facilmente verificáveis.” Em tempo: uma das funcionárias dele passou o último mês inteiro desbravando o Caribe — e não estava de férias. “Ela não deixou de cumprir nenhuma tarefa”, diz o chefe.

A ferramenta de comunicação utilizada pela Deel é o Slack. “Inovações do tipo tendem a ganhar força com a volta aos escritórios, pois facilitam o diálogo com quem vai se manter no home office e com aqueles que vão ficar entre uma coisa e outra”, acredita Soares. “Uma das grandes vantagens do ­Slack é permitir interações com pessoas de fora da companhia, como clientes e parceiros.”

Outro adepto do Slack é o Enjoei, brechó online fundado por Ana Luiza McLaren e Tiê Lima cujo IPO em novembro de 2020 movimentou 1,13 bilhão de reais. “A estreia na bolsa costuma demandar inúmeras viagens de apresentações, mas, com o home office e as reuniões online, foi bem mais simples”, resume Carlos Brando, CTO e um dos fundadores da empresa. Dado o sucesso do trabalho remoto, a empresa decidiu que ninguém mais voltará para o escritório, que agora servirá apenas para receber clientes e sediar eventos.

“Exigir o trabalho presencial perdeu o sentido”, observa o executivo. “Até porque muita gente nem sequer continua morando na mesma cidade.” Antes da pandemia, por sinal, a companhia não via nenhum problema em ter funcionários trabalhando de suas casas em alguns períodos. Brando é um dos que conseguiram passar um ano fora do país, dando expediente remoto da Nova Zelândia, e isso já faz uns bons anos.

Cristiano Soares, da Deel: trabalho 100% remoto e crescimento de 35% ao mês (Divulgação/Divulgação)

Mas nada disso seria possível sem o Slack, argumenta Brando, que diz iniciar seus dias de trabalho sempre com uma consulta à plataforma. “É uma ferramenta que organiza a rotina da empresa”, justifica. Os funcionários do Enjoei recorrem ao recurso até para solicitar a manutenção dos computadores. Quando o RH despacha um e-mail que todo mundo deve ler, em seguida avisa, pelo Slack, que ele foi enviado. Criou-se até um grupo dentro da plataforma para substituir as antigas conversas na copa da empresa. Ganhou o nome de Garrafa Térmica. Como se pode imaginar, é um dos mais movimentados.


SALDO DA PANDEMIA

As inovações que facilitaram o home office — e quais delas deverão continuar nas graças das companhias

Microsoft Teams

Em abril deste ano, Frank X. Shaw, vice-presidente corporativo da Microsoft, afirmou que a plataforma atingiu a marca de 145 milhões de usuários diários, quase o dobro do registrado um ano antes. E afirmou que ela segue em alta, mesmo com a volta à normalidade no mundo corporativo. Por questões de privacidade, é uma das opções preferidas dos times de Tecnologia da Informação (TI) da maioria das empresas. A possibilidade de recapitular a reunião e a transcrição ao vivo do que está sendo falado são diferenciais elogiados.

Zoom

A companhia que virou sinônimo de trabalho remoto da noite para o dia atingiu a marca de 100 bilhões de dólares em valor de mercado e chegou a reportar a cifra, depois desmentida, de 300 milhões de usuários diários — o número real não é divulgado. De 2019 para 2020 a receita praticamente dobrou, de 330 milhões de dólares para 622 milhões de dólares. Mas, conforme a vacinação avança e os escritórios voltam a ser frequentados, o interesse pelas chamadas de vídeo decai, e não faltam concorrentes, não raro mais ágeis.

Google Meet

Sucessor do Google Hangouts, para o qual ninguém deu bola, ganhou força com a pandemia. Recentemente, foi aprimorado com recursos que facilitam as videoconferências, para até 100 participantes na versão gratuita. Cada chamada agora pode ter até 25 coanfitriões, capazes de definir quem pode compartilhar a tela, enviar mensagens no chat ou silenciar as pessoas que esquecem o microfone aberto. A versão paga permite reunir 250 pessoas, libera até 24 horas de conversa e oferece criptografia, entre outros diferenciais.

Workplace

Do Facebook, é uma ferramenta de comunicação que conecta todos os funcionários e ajuda a integrar os times em regime de home office com aqueles que voltaram ao escritório. Permite criar grupos de discussão, bate-papo e transmissão de vídeo ao vivo. O intuito da plataforma é fomentar feedbacks instantâneos­ por meio de comentários e reações ou enquetes e pesquisas. Outro recurso elogiado é a tradução automática das conversas. O plano mais em conta custa 4 dólares por funcionário e inclui integrações com plataformas populares, como Office 365 e Google Workspace.

Slack

Comprado pela Salesforce em julho deste ano por 27,7 bilhões de dólares, tem como valor máximo a assincronicidade. Em outras palavras, a ferramenta quer que os usuários da plataforma interajam entre si, cada um em seu ritmo. Está sendo integrada às nuvens e aos demais produtos da Salesforce, líder global em software de gestão corporativa. É o caso de Experience, Platform, Trailhead, MuleSoft, Quip e Commerce. Mais: o Slack ganhou funcionalidades como o compartilhamento de vídeos e áudios. Uma das grandes vantagens é permitir interações com pessoas de fora da companhia, como clientes e parceiros comerciais.

WhatsApp

O aplicativo que virou sinônimo de comunicação no Brasil ganhou lugar cativo também na vida corporativa, sobretudo graças à versão web. Há até quem prefira mandar um “zap” para um colega de trabalho em vez de redigir um e-mail. As desvantagens de usar a ferramenta para fins profissionais são conhecidas (e sobejamente ignoradas). Ela não permite localizar mensagens antigas com facilidade nem respondê-las de maneira organizada, para não falar da inevitável confusão entre vida particular e profissional.


(Publicidade/Exame)

Acompanhe tudo sobre:Escritóriosexame-ceoHome officePandemiaSalesforceSlackTeletrabalho

Mais de Revista Exame

Melhores do ESG: os destaques do ano em energia

ESG na essência

Melhores do ESG: os destaques do ano em telecomunicações, tecnologia e mídia

O "zap" mundo afora: empresa que automatiza mensagens em apps avança com aquisições fora do Brasil

Mais na Exame