Revista Exame

Sete Perguntas | Em busca da usina de cana digital

Para o presidente da Tereos, uma das maiores produtoras de açúcar do mundo, o Brasil pode liderar a nova transição tecnológica do setor sucroalcooleiro

Alexis Duval, da Tereos: “Com as usinas em rede, temos mais eficiência” | Eric Piermont/AFP /

Alexis Duval, da Tereos: “Com as usinas em rede, temos mais eficiência” | Eric Piermont/AFP /

FS

Filipe Serrano

Publicado em 9 de maio de 2019 às 05h02.

Última atualização em 24 de julho de 2019 às 16h57.

Segundo maior produtor de açúcar do mundo, com 49 usinas distribuídas por 17 países, o grupo francês Tereos vai fazer da operação no Brasil um piloto em seus esforços para digitalizar a produção e ganhar eficiência. Em entrevista a EXAME, o presidente global, Alexis Duval, diz que pretende investir cerca de 50 milhões de reais aqui neste ano para adotar as novas tecnologias. “O futuro deste setor pertence a quem dominar as tecnologias agrícolas e a digitalização das usinas”, afirma Duval.

Como o senhor avalia o desempenho do setor de açúcar e etanol nos últimos anos?

Essa é uma indústria antiga, mas que passa por mudanças. Desde 2000, por exemplo, foram três grandes transformações. A primeira foi o crescimento do etanol, que levou à entrada de investidores estrangeiros no Brasil. Depois, houve uma revolução com a mecanização. E a terceira mudança foi a geração de energia a partir do bagaço de cana, reduzindo custos. Vejo que hoje há outra grande mudança, que é a digitalização e o uso de dados. Acho que o futuro desse setor pertence a quem dominar as tecnologias agrícolas e a digitalização das usinas.

Como seria uma usina de cana digital?

Dou um exemplo concreto. Uns dez anos atrás começamos a adquirir novas tecnologias para monitorar as operações. Hoje temos uma espécie de torre de controle que monitora as operações agrícolas em nossas sete usinas no Brasil. É uma operação grande, pois são 300 000 hectares monitorados ao vivo.

Qual é a vantagem desse modelo?

É uma mudança radical, porque antigamente tínhamos sete usinas pilotadas isoladamente. Agora estamos buscando pilotá-las em uma rede. Como qualquer rede, isso cria oportunidades de melhoria, porque ajuda a planejar a logística, o uso dos equipamentos. Temos uma equipe que, dependendo das condições, adequa a produção para buscar melhor a eficiência.

As usinas no Brasil foram as primeiras a adotar o sistema?

Sim. Inclusive nós acabamos de definir que o Brasil será o centro mundial de desenvolvimento de novas tecnologias. A operação aqui vai ser um grande piloto para o grupo implementar as tecnologias de usina digital. Vai começar aqui, mas há potencial de a experiência ser levada do Brasil para o mundo. A gente vai fazer um grande investimento de digitalização. Na produção de açúcar e etanol, temos um custo fixo alto, então qualquer redução percentual dos gastos representa valores significativos.

Qual é o ganho esperado?

Estamos começando agora, mas por enquanto esperamos que o uso dessas tecnologias possa trazer uma economia de 100 milhões de euros por ano.

Quanto tempo deve levar para alcançar esse patamar?

Ainda não está definido. A gente está trabalhando com uma primeira fase de 12 a 18 meses. Depois, há um plano a ser implementado que vai durar de dois a três anos, dependendo das premissas. De todo modo, estamos investindo 50 milhões de reais no Brasil neste ano para essa primeira fase.

Trata-se apenas de uma questão de reduzir custos?

Não. Além do ganho de eficiência, temos outras metas, como a sustentabilidade. Monitorando melhor a produção, podemos reduzir o consumo de água, de energia etc. Achamos que, daqui a três ou quatro anos, os clientes vão nos cobrar por nossas emissões de carbono. A gente está começando a se preparar para isso.

Acompanhe tudo sobre:acucarAgriculturaAgronegócio

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda