Revista Exame

É com eles que eu vou

Pela lógica, parte dos principais auxiliares de campanha de cada candidato à Presidência é candidata a integrar o próximo governo. A análise do perfil desse grupo dá pistas do que pode vir por aí

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h38.

É neste ponto da campanha eleitoral que o jogo do próximo governo começa a ser jogado para valer. Muita água vai rolar por baixo da ponte até o dia 3 de outubro. Mas convém olhar para os lados e analisar, além dos candidatos, aqueles que os cercam. Pela lógica, quem está mais próximo do candidato agora tem mais chance de permanecer com ele em caso de vitória. A pouco mais de um mês do primeiro turno das eleições, tanto Dilma Rousseff, do PT, quanto José Serra, do PSDB - os dois mais bem colocados nas pesquisas -, surgem nos palanques, nas entrevistas, nos debates e nos bastidores acompanhados de um pequeno e decisivo grupo de interlocutores, alvos das bolsas de apostas no desenho do próximo governo. Arriscar quem ficará com qual ministério, nesta altura, é puro exercício de futurologia. Mas a presença desses nomes em torno dos candidatos pode dar uma boa pista do que virá por aí.

Do lado de Dilma, além de Lula, seu grande mentor, desponta o grupo formado pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci; por Michel Temer, presidente do PMDB e candidato a vice; o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel; o presidente do PT, José Eduardo Dutra; e os deputados petistas José Eduardo Cardozo e Rui Falcão. No front tucano, os conselheiros habituais de Serra são o senador Sergio Guerra, presidente do PSDB e coordenador da campanha; o ex-banqueiro Ronaldo Cézar Coelho; Márcio Fortes, vice na chapa do verde Fernando Gabeira ao governo do Rio de Janeiro; Xico Graziano, ex-secretário paulista do Meio Ambiente; Gesner Oliveira, atual presidente da Sabesp; e o ex-chefe da Casa Civil de Serra, Aloysio Nunes Ferreira.

A seleção de nomes do alto comando das campanhas sinaliza - ou pelo menos deveria sinalizar - o perfil ideológico e as linhas de ação do futuro governo em uma série de áreas. Isso se torna particularmente importante no caso de Dilma, devido à amplitude do arco político de seu partido, o PT, e de outros que formam a coalizão da candidatura oficial. É um espectro que vai da direita, com aliados como José Sarney e Fernando Collor, à esquerda radical. Muita coisa pode mudar com negociações e alianças que ainda estão por vir, mas, ao menos até aqui, o que se vê é uma predominância das alas mais moderadas no centro da campanha. Caso a liderança de Dilma nas pesquisas se confirme nas urnas, Palocci é tido como uma espécie de curinga para seu governo. "A prioridade é a campanha, mas a escalação do ministério vem emergindo nas conversas com a Dilma", diz um de seus conselheiros. Entre homens e mulheres de negócios, o papel de Palocci num eventual governo do PT é visto com especial interesse. Durante seus anos à frente da Fazenda - e até ser afastado após o escândalo da quebra de sigilo fiscal do caseiro Francenildo Costa -, Palocci esteve identificado com o compromisso de manter a estabilidade da moeda, com a austeridade nos gastos públicos e com microrreformas como a que propiciou o aumento do crédito no mercado.


"Se Palocci participará de um próximo governo e o que fará estão entre as perguntas mais importantes desta campanha", diz um alto executivo do mercado financeiro. Nos últimos meses, o ex-ministro da Fazenda tem sido o mais importante interlocutor de Dilma com o empresariado. Tão discreto quanto cioso de seu poder, Palocci tem se esquivado da imprensa, numa tentativa de se livrar da mira de adversários, parte deles vinda do próprio PT, cuja ala radical permanece fiel ao ex-ministro José Dirceu. "Mesmo sendo réu no processo do mensalão, Dirceu representa uma fatia importante do PT e se destacou na formação dos palanques estaduais da aliança governista", diz o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências. "Certamente ele será ouvido na montagem do ministério." Para Cortez, num eventual governo Dilma, o poder de Palocci será inversamente proporcional ao de Dirceu.

A corrente mais moderada do PT é representada na campanha de Dilma por dois outros personagens. O primeiro vem se mantendo mais à sombra nos últimos meses. O segundo ganha visibilidade ao acompanhar Dilma na maioria de suas aparições públicas. Amigo de juventude de Dilma, Fernando Pimentel, candidato ao Senado por Minas Gerais, recolheu-se aos bastidores após a notícia de que estaria por trás da elaboração de um suposto dossiê contra os tucanos. "Apesar de chamuscado, Pimentel pode ir para a Casa Civil", diz o cientista político Gilberto Almeida, do Instituto Análise. Pimentel ganhou projeção na cena política nacional por sua bem-sucedida gestão na prefeitura de Belo Horizonte, marcada pela parceria, até hoje inédita no restante do país, com um tucano, o ex-governador Aécio Neves. A atuação da dupla resultou em várias melhorias para a capital mineira, como a modernização do sistema viário e um programa de reurbanização de favelas. Por outro lado, o deputado federal José Eduardo Cardozo tem cada vez mais visibilidade como um dos coordenadores da campanha. Além de acompanhar a candidata e ajudar na definição de sua agenda, ele é responsável pela área jurídica, checando aspectos legais da movimentação no front petista e também nas candidaturas oponentes. Cardozo ganhou notoriedade como um dos sub-relatores da CPI dos Correios, embrião do escândalo do mensalão. O principal fruto de seu trabalho na CPI foi o lançamento, no início de 2010, de um projeto de lei que visa aumentar a transparência dos gastos do governo com publicidade.

As especulações em torno da influência do PT radical num eventual governo Dilma Rousseff não seriam tão grandes se alguns de seus representantes não estivessem participando da campanha. Se há Palocci e Cardozo de um lado, há, por exemplo, Marco Aurélio Garcia de outro. Assessor especial para assuntos internacionais de Lula, Garcia é um dos artífices da aproximação do Brasil com a Venezuela de Hugo Chávez e com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad. É o responsável pela redação do plano de governo de Dilma. Escreveu um primeiro documento - rapidamente descartado.


O intrincado mosaico político em torno de Dilma se fecha com sua aliança com o PMDB. Aliado pela primeira vez do PT numa eleição presidencial, o partido, que hoje tem seis ministérios, tentará como sempre ampliar sua fatia. "A questão é saber se o PMDB irá brigar mais por ministérios poderosos, mas com verbas menores, ou se manterá seu apetite histórico pelos setores de infraestrutura e saúde, com muitos cargos e verbas polpudas", diz um interlocutor próximo de Michel Temer. O nome mais forte do partido para ganhar um cargo na Esplanada é o do ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco, braço direito de Temer e que deixou a vice-presidência da Caixa Econômica Federal para dedicar-se à campanha. Ele poderia levar o Ministério das Cidades, de importância crescente em razão do programa Minha Casa, Minha Vida.

Na seara tucana, a prioridade é tentar recuperar a liderança de Serra com o horário eleitoral e os debates na TV. "Não faz sentido falar de escalação ministerial agora, pois isso queima o nome de quem está cotado para o cargo", diz o senador Sérgio Guerra. Pouca gente duvida, no entanto, que Serra teria a seu lado aliados de muitos anos, alguns deles integrantes do último governo em São Paulo. "O secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, certamente teria um papel de destaque", diz um dos coordenadores da campanha. "Mas, como ele não tem jogo de cintura, talvez fique com a Receita Federal." Assessor de Serra desde o tempo em que o candidato era ministro do Planejamento, Costa é um técnico respeitado, responsável pelo aumento da arrecadação paulista com a implantação do sistema de substituição tributária. Fazem parte também do grupo de técnicos e pensadores de Serra o atual presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, e Xico Graziano, ex-secretário de Meio Ambiente do governo paulista. Mesmo sem se licenciar da Sabesp, além de aparecer junto de Serra em eventos públicos e de dar conselhos econômicos, Gesner tem sido um de seus interlocutores com setores como o da construção civil. Finalmente, Graziano, responsável pela redação final do programa de governo de Serra, é, ao mesmo tempo, um teórico e técnico experiente nos setores de agricultura e meio ambiente. Entre os democratas, Serra mantém conversas frequentes com o deputado baiano José Carlos Aleluia, um engenheiro elétrico que chegou a ser cotado para ser seu vice. Amigo de Serra desde os anos 90, Aleluia, ex-presidente da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, tem sido um crítico veemente da alta carga tributária do setor elétrico. À medida que o primeiro turno se aproxima, tudo indica que as previsões sobre o futuro ministério se intensificarão. Até lá, um fato novo, como um escândalo ou tropeço de um candidato, pode alterar dramaticamente o cenário eleitoral. Certamente, haverá surpresas quando o novo ministério for anunciado. Mas o mapa do poder dos próximos quatro anos já adquire contornos visíveis.

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