Revista Exame

Como dois brasileiros foram do zero ao bilhão aos 22 anos

O paulista Henrique Dugubras e o carioca Pedro Franceschi criaram a fintech Brex, que já vale 1 bilhão de dólares. A sede? O Vale do Silício

Pedro Francheschi e Henrique Dubugras: eles criaram o Brex como um "banco para  startups" (Brex/Divulgação)

Pedro Francheschi e Henrique Dubugras: eles criaram o Brex como um "banco para startups" (Brex/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 25 de outubro de 2018 às 05h44.

Última atualização em 25 de outubro de 2018 às 05h44.

Criar um unicórnio, como são chamadas as startups de tecnologia que alcançam valor de mercado de 1 bilhão de dólares, é coisa que pouquíssimos brasileiros conseguiram. Até hoje o país tem apenas três companhias nesse grupo: a empresa de pagamentos Nubank, recentemente avaliada em 4 bilhões de dólares, o aplicativo de transportes 99 e a financeira PagSeguro. Em meados de outubro, outra empresa fundada por brasileiros entrou para o time dos unicórnios de uma forma para lá de discreta. É a Brex, uma fintech de cartões de crédito corporativos que foi de zero a 1,1 bilhão de dólares de valor estimado em menos de dois anos de vida. Seus fundadores são o paulista Henrique Dugubras e o carioca Pedro Franceschi, ambos de apenas 22 anos. Antes da Brex, a dupla já havia criado a startup de pagamentos Pagar.me. Você talvez nunca tenha ouvido falar deles por um motivo: a dupla criou a Brex no Vale do Silício.

Os empreendedores foram criados na cultura hacker. Dugubras começou a programar por volta dos 12 anos, quando fez uma cópia de um game e começou a vender para interessados, até que uma notificação de quebra de patente o fez encerrar seu servidor pirata. Franceschi também sabia hackear: desbloqueou o iPhone 3G e fez a Siri, assistente pessoal da Apple, falar português antes que o recurso estivesse disponível. Ambos deram o salto da programação ao empreendedorismo por volta dos 15 anos. Em São Paulo, Dugubras criou a Estudar nos EUA, empresa que ajudava brasileiros a se candidatar a universidades americanas, e depois o AskMeOut, um “tinder” feito de amigos no Facebook. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, Franceschi criava o Quasar, um gerenciador de janelas para o tablet iPad.

Os dois se conheceram em uma discussão no Twitter e começaram a trocar ideias de negócio. Mesmo morando em cidades diferentes,  fundaram a Pagar.me em 2013, antes de terminar o ensino médio. Com meses de operação, a Pagar.me recebeu um investimento semente de 1 milhão de dólares do Arpex Capital, fundo que tem como sócio Jorge Paulo Lemann, da empresa de participações 3G, controladora de marcas como Burger King e Heinz. Após três anos, já com mais de 100 funcionários e 1,5 bilhão de dólares transacionados para empresas como Magazine Luiza, a Pagar.me foi adquirida pela Stone Pagamentos por um valor não divulgado.

Dugubras e Franceschi já haviam feito viagens ao Vale do Silício e decidiram que seu próximo negócio seria lá. “Parecia difícil criar uma empresa de centenas de milhões de dólares no Brasil, enquanto no Vale havia vários exemplos”, diz Dugubras. Para “fazer as conexões certas”, em 2016 a dupla foi estudar na Universidade Stanford. Lá, viram como colegas empreendedores não conseguiam obter cartões de crédito corporativo com os bancos tradicionais. Largaram Stanford em menos de um ano para se dedicar à criação de um negócio que cobrisse essa falha de mercado.

Criada em março de 2017, a Brex se diferencia por olhar os investimentos recebidos e o fluxo de caixa das startups na hora de conceder cartões de crédito. Bancos tradicionais se baseiam no histórico financeiro das empresas e dos indivíduos — no caso de jovens imigrantes, como os próprios Dugubras e Franceschi, tais dados inexistem. Os cartões da Brex chegam ao cliente em poucos dias, com um limite de dez a 20 vezes maior do que o oferecido pelos de bancos e há facilidades como envio de recibos por foto e navegação intuitiva dos extratos. “No Brasil e nos Estados Unidos, inovar é difícil para os bancos. Eles têm décadas de sistemas, integrados com diversos parceiros”, diz Dugubras.

Em 20 meses de operação, a Brex levantou mais de 200 milhões de dólares. O último aporte, fechado em 5 de outubro, elevou a empresa ao status de unicórnio. Alguns dos investidores são novamente Lemann, Peter Thiel (cofundador do PayPal) e fundos conhecidos dos brasileiros, como DST Global (Rappi e Nubank), Greenoaks Capital (Yellow) e Ribbit Capital (Nubank).

O feito de Dugubras e Franceschi é notável até para os padrões americanos — a empresa de análise CB Insights estima que a chance de uma startup americana virar um unicórnio é de 1%. Mas a vida dos empreendedores teria sido mais difícil em qualquer outro lugar: os Estados Unidos concentram 47% dos unicórnios, ou cerca de 130 negócios. Desses, dez valem mais de 10 bilhões de dólares.

No Brasil, a chance de uma startup virar unicórnio é de 0,02%. Mas o cenário está melhorando. “O Brasil tem 30% da economia da América Latina e suas startups começam a pensar globalmente”, diz Itali Collini, diretora de operações da aceleradora americana 500 Startups. O Brasil fica longe na quantidade de capital disponível e de talentos. Dois dos mais promissores, e precoces, estão em São Francisco. 

Acompanhe tudo sobre:EmpreendedoresFintechsStartupsUnicórniosvale-do-silicio

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025