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Para a Jovem Pan, a inspiração vem da Netflix

Ao dar voz ao sentimento antipetista, a rádio Jovem Pan virou referência em conteúdo online. Agora, abraça o vídeo com um negócio inspirado na Netflix

Tutinha, da Jovem Pan:  referência do YouTube em inovação na mídia (Omar Paixão/Exame)

Tutinha, da Jovem Pan: referência do YouTube em inovação na mídia (Omar Paixão/Exame)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 11 de abril de 2019 às 05h44.

Última atualização em 25 de julho de 2019 às 14h46.

Há quatro anos, Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, dono da rede Jovem Pan, foi até a famosa loja de equipamentos eletrônicos B&H, em Nova York, para uma compra que mudaria o destino da rádio: uma câmera de vídeo. Era o primeiro passo na digitalização do conteúdo de uma das mais tradicionais emissoras do país. A rádio, fundada em 1944, nos últimos dois anos e meio acelerou o processo para se tornar uma publicadora digital, dando mais peso ao jornalismo — a divisão AM do grupo até passou a se chamar Jovem Pan News — e colocando programas em vídeo na internet.

Com 1,6 milhão de assinantes, a emissora tornou-se a maior empresa brasileira de jornalismo ao vivo no YouTube. Também está sendo apontada pelo Google, que controla o site de compartilhamento de vídeos, como um exemplo de reinvenção de veículo da mídia tradicional. Agora, a Jovem Pan está lançando uma plataforma online própria para suas atrações, a PanFlix, prevista para maio.

A guinada digital da Jovem Pan coincidiu com o crescimento do sentimento antipetista em uma parcela da população. A emissora surfou essa onda ao inserir na programação jornalistas e comentaristas que davam voz àquele descontentamento, como Rachel Sheherazade, Reinaldo Azevedo e Marco Antonio Villa. Veio o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a audiência na internet foi subindo, com vídeos compartilhados no Facebook e no WhatsApp.

Um ano atrás, no dia da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais de 12 milhões de espectadores acompanharam a transmissão online dos programas da Jovem Pan mesmo com recursos visuais que não passavam de uma câmera no canto do estúdio. “A ideia era fazer uma TV digital filmando o rádio. O sucesso de audiência nos encorajou a investir em vídeo”, diz Tutinha.

Cerca de 30% do faturamento atual do grupo controlado por Tutinha, na casa dos 300 milhões de reais, vem da rádio. Com suas 82 afiliadas, a Jovem Pan atinge cerca de 2.300 municípios. Em São Paulo, é a nona maior emissora, com um público médio de 61 286 ouvintes por minuto entre julho e setembro de 2018, segundo os dados mais recentes da empresa de pesquisas Kantar Ibope Media. O grupo Jovem Pan também tem participação na produtora de filmes Vetor Zero, na BBL, organizadora de campeonatos esportivos, na Live, que monta eventos, e na empresa de animação Lobo. A PanFlix é a nova aposta do grupo.

Ao mesmo tempo que a rádio queria desbravar um território novo, o YouTube e o Google buscavam apoiar empresas jornalísticas interessadas nessa transformação para alimentar suas plataformas com conteúdo de qualidade. Parte dos 20 milhões de reais que a Jovem Pan vai gastar para colocar a PanFlix no ar veio de uma iniciativa global do YouTube e está sendo usada principalmente na construção de novos estúdios na região da Avenida Paulista, onde fica a rádio. Os espaços ficarão prontos no mês que vem. No Brasil, o grupo Band, o canal de notícias MyNews e o site Nexo também receberam aportes do Google.

A PanFlix vai funcionar como a Netflix do grupo Jovem Pan, com vídeos para o espectador assistir na hora que quiser. Poderá ser baixada em celulares, computadores, tablets e smart TVs. Vai oferecer tempo extra dos shows já exibidos no rádio e atrações criadas especialmente para a plataforma, como mesas-redondas. Enquanto a aceitação é testada, não cobrará assinatura. A remuneração de quem apresentar ou participar da programação deve ser uma porcentagem da receita auferida com anúncios. O público-alvo será o mesmo com o qual vem fazendo sucesso nos últimos anos, com destaque para os eleitores de direita. Tutinha diz que seu alvo é quem quer “o bem do Brasil”. “A grande sacada da Jovem Pan foi olhar o perfil da audiência e moldar o conteúdo para esse público”, diz Phillipe Carrasco, gerente de parcerias estratégicas de conteúdo do YouTube.

Desde a década de 70, quando os pilotos da British Airways lhe traziam discos de outros países com os sucessos do momento para tocar na Jovem Pan, Tutinha se orgulha de sair na frente da concorrência. “Acertei 90% de minhas apostas. Eu me sinto um garoto de 20 anos, animado para fazer coisas novas”, diz. Entre 1976 e 2014, Tutinha era responsável apenas pela divisão FM da Jovem Pan, focada em música e entretenimento. Seu pai, Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, chefiava a AM, comprada pelo patriarca da família, Paulo Machado de Carvalho, criador também da TV Record.

Tuta passou o comando da holding ao filho há cinco anos, aos 84. Tutinha criou um conselho de ideias no grupo e pretende levar a Jovem Pan e a PanFlix para terrenos além da política. Tudo com opiniões contundentes, que para ele são o segredo do sucesso em qualquer mídia.

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