Revista Exame

Dá para superar os vícios da máquina pública?

1 - Tenho 30 anos e acabo de assumir um cargo de chefia no setor público. Sou o mais jovem em idade e tempo de casa e tenho encontrado resistência de meus colegas para mudar. Como conquistar o respeito da equipe, principalmente considerando que cada um tem seus vícios acumulados ao longo dos anos? Anônimo […]

Ilustração - Homem sendo observado por olhos (Francisco Martins/EXAME)

Ilustração - Homem sendo observado por olhos (Francisco Martins/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2014 às 16h24.

1 - Tenho 30 anos e acabo de assumir um cargo de chefia no setor público. Sou o mais jovem em idade e tempo de casa e tenho encontrado resistência de meus colegas para mudar. Como conquistar o respeito da equipe, principalmente considerando que cada um tem seus vícios acumulados ao longo dos anos? Anônimo

Problemas como esse infelizmente são muito frequentes na área pública. É claro que cada situação tem suas nuances e particularidades, o que dificulta bastante uma resposta precisa à sua pergunta. Mas, normalmente, o problema começa com o fato de que os políticos, seja em que esfera for — federal, estadual ou municipal —, não respeitam a máquina pública do ponto de vista operacional.

No serviço público, como em qualquer outra organização, a promoção deveria ser resultado de mérito, numa lógica em que sobe quem pode ajudar mais. Ou seja, quem é o melhor daquele grupo. A prática comum está bem distante disso.

Os governantes colocam mais de 20 000 funcionários de seus partidos, ou simplesmente amigos, em cargos comissionados — para os quais não é preciso ter concurso público — só na área federal. Essa conta não considera posições similares em estados e municípios.

É como se não existisse uma carreira pública, e a simples indicação dessas pessoas desrespeita qualquer princípio de meritocracia e, ao mesmo tempo, passa por cima dos que ocupam cargos por concurso. O governo deveria valorizar essa máquina e elevá-la a um nível cada vez mais alto, inclusive com treinamentos específicos.

Tal atitude inclusive atrairia mais gente boa para os concursos públicos. No entanto, isso está longe de ser a regra. Qual foi o critério de sua promoção? Caso a indicação para o novo cargo tenha sido natural, ela será aceita por seus companheiros. Nesse caso, sugiro que você consiga envolver o pessoal em torno de um sonho comum, ao estabelecer uma ou mais metas que vocês desejam perseguir.

Pela minha experiên­cia, percebo que as pessoas se unem mais facilmente em torno de sonhos e metas do que em torno de ideologias. Estabeleça indicadores para o time. Monte uma gestão à vista — com a publicação de metas e resultados. Esse será seu placar. Crie processos e procedimentos operacionais padronizados. Procure dar treinamento a seu pessoal.

Busque criar um senso de missão em todos e o orgulho por um bom resultado. O ser humano é igual em todo o planeta, tem as mesmas necessidades e sonhos de vida. Procure tirar o melhor de cada um da equipe.

2 - Minha equipe está desmotivada por diversos fatores. Qual a melhor maneira de fazer com que os supervisores de uma unidade de negócio estejam envolvidos com os mesmos compromissos que a chefia? Anônimo

Oproblema é localizar esses “diversos fatores” de sua pergunta e atuar sobre eles. Sou um maslowniano: acredito que as pessoas buscam a felicidade na vida. Já vi muitos problemas de equipe de pessoas em minha vida, e os fatores são vários — como previu Abraham Maslow.

Para que as pessoas atinjam a felicidade (o que Maslow chama de “saúde mental”), é necessário que tenham as necessidades básicas de vida razoavelmente satisfeitas. Maslow listou centenas de necessidades humanas do dia a dia e agrupou essas necessidades em cinco categorias principais (e duas subsidiárias).

Esses grupos de necessidades são: fisiológicas, segurança, pertencimento, estima e autorrea­lização. O primeiro passo é entender o significado de cada um desses grupos; e depois começar a trabalhar para que a empresa, durante as horas em que o funcionário estiver presente, possa oferecer condições que preencham essas necessidades.

Necessidades fisiológicas são aquelas ligadas ao básico da vida, como alimentação, agasalho, diversão, salário etc. As de segurança se relacionam a vários aspectos de segurança, alguns em que a empresa pode ­atuar e outros que somente o desenvolvimento da sociedade pode sanar.

Entre os que a empresa pode atuar está a estabilidade no emprego, a atuação preventiva de acidentes no trabalho etc. Um dos grupos mais importantes é o de pertencimento e se relaciona à nossa necessidade de sentir que fazemos parte de certos grupos. Pode ser  um time de futebol, colegas de trabalho, vizinhos, “turma da cerveja de sexta-feira”, “turma do churrasco” etc.

O ser humano não suporta facilmente o isolamento. As necessidades de estima estão ligadas às oportunidades que são oferecidas pela empresa para que haja um reconhecimento do trabalho de cada um, seja por meio de um simples elogio, seja por eventos nos quais cada um apresenta ao grupo seu trabalho.

Todos nós nos sentimos bem quando somos reconhecidos. Finalmente, as necessidades de autorrealização são aquelas ligadas ao amor pelo que se faz. Quando uma pessoa gosta do que faz, ela sente prazer pelo trabalho realizado, que passa a ser fonte de felicidade, e não um encargo.

Algumas empresas têm praticado o “recrutamento interno”, dando sempre chance às pessoas de dentro da empresa de tentar novos cargos em que podem ser mais felizes. Temos trabalhado esses fatores em algumas empresas — e são mágicos. Os resultados são surpreendentes. Nós ainda não temos uma percepção exata do que o ser humano feliz é capaz!

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