Revista Exame

São Carlos, Eztec e Portobello crescem com equilíbrio

Conciliar a expansão dos negócios com um bom retorno aos acionistas é um desafio. Conheça empresas que têm alcançado esse objetivo

Obra em prédio da São Sarlos: a gestora de imóveis corporativos deu, em quatro anos, um retorno de 162% aos acionistas (Omar Paixão/EXAME)

Obra em prédio da São Sarlos: a gestora de imóveis corporativos deu, em quatro anos, um retorno de 162% aos acionistas (Omar Paixão/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2014 às 16h12.

São Paulo - Publicado há 20 anos, o livro Feitas para Durar — Práticas Bem-Sucedidas de Empresas Visionárias, dos professores Jim Collins e Jerry Porras, da universidade americana Stanford, virou um clássico da administração.

Uma das ideias defendidas na obra é que as empresas visionárias, aquelas com maior chance de uma existência duradoura, não são obcecadas com o crescimento a qualquer custo. “As companhias visionárias buscam alcançar um conjunto de metas, das quais ganhar dinheiro é apenas uma, e nem sempre a primeira”, escreveram os autores.

Crescer é importante, claro, desde que de forma sustentável. Um novo ranking de Melhores e Maiores, publicado nesta edição, procurou identificar as empresas de capital aberto que mais cresceram no Brasil nos últimos quatro anos, combinando aumento da receita, lucratividade e retorno aos acionistas — três indicadores que, em conjunto, podem apontar para uma evolução consistente dos negócios.

E quem ficou no topo entre as 106 empresas avaliadas foi a São Carlos, investidora e gestora de imóveis comerciais com sede em São Paulo. Entre 2010 e 2013, sua receita cresceu 32%, seu lucro por ação subiu 38% e o retorno total (que inclui a valorização das ações e os dividendos distribuídos aos acionistas) aumentou 162%.

Logo abaixo vieram a fabricante de cerâmica Portobello e a construtora Eztec. “O fato de as primeiras posições no ranking serem ocupadas por empresas que não estão entre as maiores do país não chega a surpreender. Afinal, elas têm mais espaço para crescer”, diz Fernando Exel, presidente da consultoria Economatica, que realizou o levantamento.

Embora pouco conhecida, a São Carlos tem na retaguarda um trio de respeito. Seus principais acionistas são Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Aberto Sicupira, sócios do fundo 3G, que controla gigantes como a fabricante de alimentos Heinz e a rede de lanchonetes Burger King.

A São Carlos nasceu como uma subsidiária da Lojas Americanas responsável por administrar imóveis da varejista. Dez anos depois, separou-se da Lojas Americanas e abriu o capital na Bovespa. Seu negócio consiste em comprar imóveis comerciais de alto potencial e revendê-los ou alugá-los para grandes empresas — entre seus clientes estão a estatal Petrobras e a construtora Odebrecht.

A São Carlos possui hoje uma carteira de 75 imóveis, com valor estimado em 4,4 bilhões de reais. Boa parte são edifícios corporativos em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

Um exemplo de negócio que ajudou a alçar a empresa ao topo do ranking foi a compra, em 2010, do Brazilian Financial Center, um empreendimento na avenida Paulista. Bem-localizado, o imóvel tinha preço atraente por estar desocupado. A São Carlos decidiu apostar na valorização e pagou 108 milhões de reais por 40% do prédio.

Investiu na reforma e alugou o edifício para grandes empresas. Três anos depois, vendeu sua parte no empreendimento por 250 milhões de reais — um retorno de 35% ao ano. “Não queremos ser a maior empresa, ou a número 1”, diz Felipe Góes, presidente da São Carlos. “Nosso foco são negócios que deem o maior retorno possível para a empresa e os acionistas.”

Conciliar a expansão dos negócios com o retorno aos investidores não é tarefa simples. Por um lado, uma empresa que distribui dividendos generosos aos acionistas pode estar sacrificando novas oportunidades de negócios. Por outro, se a empresa não dá um retorno adequado aos acionistas, corre o risco de perdê-los.

“Se um acionista não está obtendo retorno, das duas, uma: ou ele acredita que a empresa está fazendo bons investimentos com seu dinheiro ou desiste do negócio por não ser lucrativo e vende suas ações”, diz Clemens Nunes, professor de economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo.

“O ideal, portanto, é buscar um equilíbrio entre geração de receita, lucros e dividendos.” É essa a meta da construtora paulista Eztec, terceira colocada no ranking. De 2010 a 2013, seu lucro por ação subiu 22%. Com a distribuição dos dividendos aumentando em torno de 40% ao ano, o retorno total aos acionistas no período atingiu 280%.

Segundo analistas, uma das razões do sucesso da empresa é sua aposta em empreendimentos de baixo risco, bancados com geração própria de caixa. “O reinvestimento dos lucros em novos negócios tem se mostrado uma boa maneira de fazer o capital dos acionistas render”, diz Marcelo Zarzur, presidente da Eztec. 

As três empresas que ocupam o topo da lista são do setor de construção. Uma das explicações é que elas foram beneficiadas pelas obras da Copa do Mundo, mas certamente não foi apenas por isso. A indústria da construção teve altos e baixos nos últimos quatro anos, e muitas empresas do setor não apresentaram bons resultados no período.

Não foi o caso da catarinense Portobello, que cresceu 11% entre 2010 e 2013 e deu um retorno de 257% aos acionistas. Para Mauro do Vale, diretor comercial da Portobello, esses números são consequência de várias iniciativas, como os investimentos em tecnologia para produzir com mais eficiência e o lançamento de produtos de maior valor.

“A inovação tem sido fundamental para nós, já que um terço da receita do ano passado veio de produtos lançados nos últimos 18 meses”, diz Vale. Como se vê, renovar-se a cada dia é outro fator a ser considerado por uma empresa que almeje um crescimento duradouro.

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