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Computador com chocolate na Bahia

O cheiro no ar não deixa dúvida: chocolate. O local é um galpão do distrito industrial da cidade de Ilhéus, no centro da região cacaueira da Bahia. Dezenas de pessoas trabalham incessantemente. O que produzem? Pasta de cacau? Manteiga? Óleo? Não. Elas montam microcomputadores na segunda maior fábrica brasileira do ramo, a Bahiatech.</p> Com a […]

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Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2011 às 09h06.

O cheiro no ar não deixa dúvida: chocolate. O local é um galpão do distrito industrial da cidade de Ilhéus, no centro da região cacaueira da Bahia. Dezenas de pessoas trabalham incessantemente. O que produzem? Pasta de cacau? Manteiga? Óleo? Não. Elas montam microcomputadores na segunda maior fábrica brasileira do ramo, a Bahiatech.</p>

Com a montagem mensal de 7 500 máquinas, a empresa responde por 8% da produção nacional - à sua frente está apenas a Compaq, instalada em Jaguariúna, no interior paulista. A Bahiatech é a maior de um grupo de 11 empresas que funcionam no pólo de informática de Ilhéus. Essas empresas já investiram 32 milhões de reais e hoje produzem 11 000 micros por mês, além de componentes e acessórios. Com ampliações em curso, o pólo pode chegar a fazer 22 000 máquinas por mês no próximo ano, o que dobraria a participação da Bahia para 20% da produção nacional.

O pólo foi criado pelo governo baiano há três anos para dar um alento à região, que sofre com a decadência da cultura cacaueira desde a década de 80. O cacau já foi a principal riqueza da Bahia e fez a fortuna de muita gente, como retratam os romances de Jorge Amado. A cidade tem vestígios dos anos de fausto. O símbolo mais eloqüente da diferença entre o passado e o presente é o prédio - em ruínas - do antigo cabaré Bataclã, um dos cenários de Gabriela, Cravo e Canela.

Até 1995 muitos dos galpões do distrito industrial de Ilhéus que serviam a processadoras de cacau pareciam seguir o mesmo destino do Bataclã. Estavam abandonados devido à falência de empresas locais. O maior conjunto deles, pertencente à Barreto Araújo, que já foi a maior esmagadora de cacau, permanece embargado por causa de dívidas dos antigos proprietários.

Mas em vários barracões, que ainda recendem a cacau, voltou a haver atividade. São os que foram cedidos para a instalação das empresas de informática, que hoje já estão empregando mais de 600 funcionários.

Como a Bahia está atraindo empresas de informática para Ilhéus? A resposta está principalmente nos incentivos fiscais generosos. A Bahia entrou afiada na guerra fiscal em que se engalfinharam vários estados. Oferece vantagem no ICMS que incide sobre importação de peças e dá crédito de igual valor ao do imposto sobre a venda.


A prefeitura abre mão de ISS e IPTU por dez anos. A Sudene entra com isenção de até 75% do imposto de renda. O segundo fator de atração é a disponibilidade de mão-de-obra barata. Além disso, as empresas contam com uma infra-estrutura razoável: recebem os galpões já prontos para se instalar provisoriamente e situam-se numa região servida por estradas, aeroporto e porto.

"O investimento necessário para começar é pequeno", diz Martial Câmara, 53, um dos sócios da Bitway, a única empresa do pólo fundada por empresários locais. Câmara e seu sócio Paulo Carvalho colocaram 400 000 reais para montar a Bitway. Carvalho, de 45 anos, já foi executivo do Banco Econômico e da Odebrecht e pertence a uma família que há quatro gerações é plantadora de cacau.

Mas hoje essa atividade para ele é secundária: "Ainda acredito no cacau, mas agora só me dedico à fazenda nos fins-de-semana". A Bitway fatura mensalmente 500 000 reais com a fabricação de 500 micros e mantém 35 empregos. Tem projeto de ampliar sua produção para 2 500 unidades em 1999.

As demais empresas pertencem a empresários de fora. Quem primeiro aproveitou os incentivos, em 1995, foi o americano Georges Saint Laurent III, acionista majoritário da Vitech, holding que controla a Bahiatech e em agosto do ano passado comprou a paulista Microtec. A Bahiatech atraiu profissionais da IBM, como o engenheiro paulista Nilson Heinzl.

Ele deixou a fábrica da IBM em Campinas para ser gerente industrial em Ilhéus. Nessa mudança contou pontos também a qualidade de vida oferecida pela cidade baiana, que tem belas praias em sua vizinhança. "Não pretendo mais sair daqui", diz Heinzl.

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