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Como terminar um casamento de 40 anos

A difícil tarefa de Jacks Rabinovich e Benjamin Steinbruch de desfazer os laços que as duas famílias formaram no grupo Vicunha

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 12h09.

Os movimentos que vêm sendo feitos por Jacks Rabinovich e Benjamin Steinbruch para preparar o terreno de uma cada vez mais provável dissolução da sociedade entre as duas famílias mostram como pode ser complicado terminar um casamento que, nas últimas quatro décadas, gerou o grupo Vicunha -- dono da maior indústria têxtil do país e controlador de um dos maiores grupos siderúrgicos nacionais, a CSN. Até 13 de dezembro, passados três meses desde que EXAME noticiou que a Vicunha Têxtil colocaria à venda na bolsa 25% das ações da companhia, ainda não havia sequer o pedido de registro de emissão desses papéis na CVM. Em setembro, quando o banco Goldman Sachs foi contratado para comandar essa operação, tanto Rabinovich quanto Steinbruch negaram que a ida à bolsa estivesse relacionada ao fim da sociedade. De lá para cá, o cenário ganhou novos contornos, com o surgimento de grandes empresas interessadas em adquirir as participações da família Rabinovich na Vicunha e na CSN. Procurados diversas vezes pela reportagem de EXAME, nem Rabinovich, nem Steinbruch quiseram falar sobre essas negociações.

O que está em jogo é muito mais do que o 1,1 bilhão de dólares que os Rabinovich poderiam amealhar com a venda de suas fatias nas duas empresas. Rabinovich e Steinbruch comandam os negócios, reunidos em duas holdings divididas meio a meio entre as duas famílias que controlam a Vicunha Têxtil e a CSN. Vender uma das metades pode significar, portanto, uma mudança radical no controle de duas empresas líderes em suas áreas de atuação. É aí que reside a maior parte das dificuldades -- sobretudo na CSN, onde Steinbruch tem carta-branca para ditar as regras. É difícil imaginar novos investidores com a mesma disposição para lidar com o temperamento centralizador de Benjamin, o filho mais velho de Mendel Steinbruch, com quem Rabinovich construiu, nos anos 60, um grupo de tecelagens que depois se transformaria na Vicunha. É difícil também imaginar Steinbruch aceitando pacificamente a entrada de um novo sócio com quem dividiria decisões estratégicas.

"O melhor dos mundos para Benjamin é que as coisas fiquem exatamente como estão", diz um analista do setor siderúrgico. Aos 75 anos, Rabinovich, porém, teria bons motivos para querer sair dos negócios. Sua sucessão é um ponto nebuloso. O primogênito e seu único filho homem, Eduardo, de 44 anos, formou-se engenheiro mecânico pela Faap, em São Paulo, e, estimulado pelo pai, manteve-se próximo das empresas desde o início da carreira. Mas, com o tempo, afastou-se das funções executivas. Atualmente, Eduardo ocupa uma das cadeiras no conselho da Vicunha Têxtil, presidido por Ricardo Steinbruch, de 45 anos, irmão mais novo de Benjamin. Pessoas próximas dizem que, hoje, Eduardo tem se mostrado mais interessado na criação de cavalos manga-larga do que nos negócios da família.

Responsáveis pela condução das operações têxteis, Rabinovich e Ricardo teriam opiniões divergentes em questões estratégicas. Uma delas seria o modo de ampliar o mercado da Vicunha. A empresa precisa aumentar as receitas no exterior, e a busca de parceiros é um dos caminhos. Rabinovich não se entusiasma muito com a idéia, enquanto Ricardo gostaria de ir em frente.

Recentemente, Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, aproximou-se da família Rabinovich para conversar. (Procurado, Josué não deu entrevista.) Para a Coteminas, uma das maiores fornecedoras de tecidos para a indústria de confecções do país, a compra da participação de Rabinovich seria uma oportunidade para um salto no negócio de índigo -- o principal produto da Vicunha. Josué, porém, terá de lidar com a possibilidade de uma solução caseira, na qual o comprador seria a própria família Steinbruch. Para isso é preciso que Ricardo, interessado em provar que pode ser na Vicunha um empreendedor tão talentoso quanto Benjamin na CSN, convença a família a comprar a parte dos Rabinovich por 100 milhões de dólares. Nenhum dos sete analistas consultados por EXAME acredita que algo semelhante possa ocorrer na CSN. Os 23,25% que os Rabinovich têm na siderúrgica valem algo em torno de 1 bilhão de dólares -- dez vezes mais do que o patrimônio deles na Vicunha Têxtil. Seria um preço muito alto para os Steinbruch. "Mesmo para alguém com um perfil destemido como Benjamin, esse seria um negócio extravagante", diz um analista.

A complexidade da separação não impede que grandes grupos do setor tenham interesse na CSN, uma empresa de 7 bilhões de reais de faturamento e 1 bilhão de lucro em 2003. Há dois potenciais compradores da parte dos Rabinovich cogitados no mercado. Um é a Usiminas, uma das maiores produtoras de aço plano do país. Outra opção seria uma associação com o grupo gaúcho Gerdau -- uma hipótese que Jorge Gerdau Johannpeter, controlador da Gerdau, declara descartar. Potenciais compradores também podem vir de fora. A coreana Posco, a mais rentável do mundo e com dinheiro sobrando em caixa, é tida como um deles. Muitos analistas acreditam que o mais provável é que Rabinovich acabe colocando sua parte à venda na bolsa -- desejo que ele já deixou implícito pelo menos uma vez. "Estamos conversando sobre uma flexibilização do nosso acordo, que já tem 40 anos", disse Rabinovich a EXAME, na ocasião da contratação do Goldman Sachs. "No futuro, se algum acionista quiser deixar o negócio, poderá vender sua parte no mercado."

Quem tem o quê
As famílias Rabinovich e Steinbruch dividem meio a meio as
holdings Textilia, que controla a Vicunha Têxtil; e a Vicunha Siderurgia,
que controla a CSN. Veja os valores da participação dos Rabinovich nesses
negócios:
Empresa
Participação dos Rabinovich na empresa
Valor desta participação (estimativa)
Vicunha Têxtil
45%
100milhões de dólares
CSN
23,25%
1bilhão de dólares
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