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Bolsas de valor

No mercado de ativos emocionais, acessórios de moda podem ser um investimento mais seguro do que obras de arte ou uísques envelhecidos

Birkin Niloticus Crocodile Diamond, da Hermès: vendida por 1,3 milhão de reais em leilão em 2020 (Isaac Lawrence/AFP)

Birkin Niloticus Crocodile Diamond, da Hermès: vendida por 1,3 milhão de reais em leilão em 2020 (Isaac Lawrence/AFP)

BC

Beatriz Correia

Publicado em 2 de julho de 2020 às 05h00.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h15.

Quem um dia definiu os maníacos por bolsas de grife como compradores compulsivos deveria rever seu conceito de investimento. É que esses acessórios passaram a ser considerados ativos tão seguros quanto joias, vinhos raros e obras de arte. O retorno desse tipo de investimento pode ser conferido no relatório Knight Frank Luxury Investment Index (KFLII). Seguido por milionários de todo o mundo, o índice é atualizado trimestralmente pela consultoria homônima inglesa.

Se em 2018 os uísques raros foram as vedetes desse mercado, com uma valorização de 40% no comparativo com o ano anterior — e cerca de 585% em uma década —, as bolsas de mão entraram na lista pela porta da frente, com um aumento de 13% nos últimos 12 meses, enquanto a bebida escocesa acumulou 5%. Os números são formulados com base em dados de fundações, empresas e analistas independentes que transitam nesse chamado mercado de ativos emocionais.

As bolsas de luxo entraram no radar do KFLII em razão das análises da também inglesa Art Market Research (AMR), que desde os anos 1970 acompanha o vaivém de obras de arte. Para Sebastian Duthy, diretor da AMR, só foi possível criar um índice de bolsas por causa da frequência com que peças icônicas têm ido a leilão. “Ainda que grifes como Chanel e Louis Vuitton sejam altamente colecionáveis, as da Hermès têm atraído os maiores preços”, afirma.

A análise sobre se o investimento em uma bolsa vale a pena baseia-se nos mesmos preceitos de qualquer outro item colecionável. Além de seu valor histórico, integram a equação a limitação do acesso e o esmero na produção. Outros índices medem a valorização dos bens de luxo em vestuário. O marketplace americano de revenda Rebag criou o índice Comprehensive Luxury Appraisal Index for Resale (Clair). Com base em um algoritmo que analisa mais de 10.000 modelos, cores e tamanhos de bolsas é possível estimar o potencial de valorização de uma peça. Segundo o índice, o modelo Pochette Métis, da Louis Vuitton, ainda que novo, pode ser revendido pelo mesmo valor de compra. No Brasil, a peça custa 9.700 reais.

Um gestor de fortunas brasileiro afirma que o país ainda não atinou para as possibilidades de usar a moda como investimento. Carlos Ferreirinha, fundador da consultoria de gestão em luxo MCF, pondera que, mesmo que seja um investimento excepcional, o brasileiro ainda é muito conservador. Neste momento, segundo ele, a pandemia deverá ter um efeito mais imediato no aumento do valor do metro quadrado imobiliário, por exemplo, do que em gastos com acessórios de moda.

Um cenário bem diferente do vivido pela China, onde as lojas de luxo lotaram logo nas primeiras semanas de reabertura do varejo físico, apesar do aumento de quase 30% no valor das peças oferecidas pelas grifes europeias. “Haverá uma venda cada vez mais qualificada, e o exclusivo ficará mais exclusivo. Temos um consumo de luxo ainda muito embrionário, mas em mercados maduros os clientes consideram a moda de alto padrão um investimento seguro”, afirma Ferreirinha.

Para uma parcela da população, talvez seja mesmo a hora de dar uma boa vasculhada no armário.

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