João Carlos Brega, presidente da Whirlpool: código de conduta e auditorias para os fornecedores (Leandro Fonseca/Exame)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2019 às 05h22.
Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 15h45.
A indústria tem avançado muito quando o assunto é produção mais sustentável. Isso pode ser verificado na fabricante de eletroeletrônicos Whirlpool. Nos últimos anos, a dona das marcas Brastemp e Consul conseguiu cortar o consumo de água e de energia em seus processos. Isso foi possível com medidas como a substituição, em sua fábrica de Manaus, das empilhadeiras convencionais por elevadores de paletes elétricos, eliminando a emissão de 13 toneladas de gás carbônico por ano.
As unidades da empresa no Brasil, que incluem também fábricas em Joinville, em Santa Catarina, e Rio Claro, no interior paulista, zeraram o envio de resíduos a aterros sanitários em 2015, sete anos antes do prazo fixado globalmente. Na ponta do consumo, os produtos mais novos da Whirlpool incorporam tecnologias para reduzir o gasto de energia e de água. Um exemplo é a lavadora Brastemp Double Wash, que permite lavar ao mesmo tempo, em cestos independentes, roupas brancas e coloridas, reduzindo o tempo de operação.
Para garantir processos mais eficientes em todo o ciclo de vida dos produtos, as empresas precisam assegurar que as melhores práticas estejam sendo cumpridas em toda a cadeia de fornecimento. Ciente disso, na virada deste ano a Whirlpool ampliou seu código de conduta para fornecedores, aprimorado-o em questões que envolvem igualdade de gênero e de raça, trabalho forçado e corrupção. Para ser um fornecedor da companhia, é obrigatório assinar esse código e aceitar passar por auditorias.
“Os fornecedores ficam obrigados a cumprir um plano de ação para cada não conformidade encontrada durante a auditoria”, diz João Carlos Brega, presidente da Whirlpool para a América Latina. “Além disso, uma equipe global de gestão de materiais críticos coordena e monitora uma lista de materiais restritos, que é atualizada anualmente para refletir novas regulações e exigências dos clientes.”
Como a assinatura do código é obrigatória, os próprios fornecedores cuidam de sua conformidade para não perder negócios. “Casos de descredenciamento já ocorreram no passado, mas são cada vez mais raros”, diz Vanderlei Niehues, diretor de sustentabilidade e regulamentações. “Às vezes ocorrem desvios não intencionais, por causa de subfornecedores.”
Há dois anos, uma auditoria da Whirlpool identificou que uma fabricante de cadeiras de aço estava recebendo matéria-prima de um fornecedor que utilizava madeira nativa, em vez da originada em área de reflorestamento. “É algo que nunca seria descoberto sem um bom monitoramento”, diz Niehues.
Novos compressores da Embraco, mais compactos, reduzem o consumo de gases prejudiciais à camada de ozônio — e ainda economizam cerca de 30% na conta de luz | Carlos Eduardo Henrique
Na operação de um supermercado, nada consome mais energia elétrica do que as áreas de exposição de alimentos refrigerados. Para evitar que estraguem, é necessário construir uma casa de máquinas na parte externa do mercado, de onde um compressor bombeia gás refrigerante por uma tubulação até as geladeiras. Presente em mais de 80 países, a Embraco, fabricante brasileira de compressores para aparelhos de refrigeração, desenvolveu um produto que muda toda essa lógica, e que começou a ser vendido em 2018.
O Plug n’ Cool é um compacto sistema de compressão, condensação e vaporização instalado diretamente em cada geladeira. Não precisa de casa de máquinas nem de tubulação de cobre. Além da economia em custos e tempo de instalação, o varejista ganha flexibilidade para mudar a configuração da loja. Mas o impacto maior é sobre o meio ambiente. O sistema economiza cerca de 30% de energia.
“Levamos 18 meses para preparar o projeto”, diz Johedy Kasten, diretor de sustentabilidade da Embraco. O primeiro varejista a testar a inovação foi o catarinense Mig Atacarejo em 2017. “Começamos focando a venda em lojas express e de bairro, que têm restrição de espaço”, diz Sander Malutta, gerente sênior de vendas de refrigeração da Embraco para América Latina e África. “Mas já vemos, no Brasil, instalações em hipermercados e atacarejos.”
Outro benefício diz respeito ao efeito estufa. Em vez da carga de gás, que varia de 100 a 1.000 quilos, do tipo HCFC, agressivo à camada de ozônio, o novo produto da Embraco utiliza o propano, sem impacto na camada de ozônio. Além disso, a proximidade do equipamento evita grandes vazamentos. “As emendas nas tubulações deixam escapar de 30% a 40% do gás”, diz Gerson Heinzle, pesquisador sênior da Embraco.
Somando tudo, o consumo de gás fica muito menor, de apenas 3 quilos por ano, para um supermercado que utilizaria 150 quilos com a tecnologia tradicional. O Brasil é signatário do Protocolo de Montreal, de 2007, que prevê a eliminação, até 2040, do consumo de HCFCs.
Internamente, a Embraco também conseguiu, no ano passado, uma redução de 10% das emissões de carbono por compressor produzido graças a melhorias em suas fábricas nos últimos anos. “Trocamos os motores elétricos por outros mais eficientes, reutilizamos nossos compressores para o aquecimento de água e substituímos toda a iluminação por LED com sensores que desligam as lâmpadas automaticamente”, diz Kasten. “E estamos buscando mais e mais alternativas para reduzir nosso impacto.”
Projeto da empresa focado em produção circular aumenta o lucro de cooperativas em São Paulo e reduz os custos de logística — e será exportado para a índia | Solange Azevedo
Sai a produção linear, entra a produção circular. Num mundo cada vez mais povoado, e com a consequente pressão sobre o meio ambiente, a lógica de “extrair, transformar e descartar” materiais está sendo substituída por um modelo mais circular e de baixo carbono, com fluxos que privilegiam a redução, o reúso e a reciclagem. A HP intensificou os esforços nesse sentido no ano passado, quando aderiu à Plataforma para Acelerar a Economia Circular (Pace), que reúne empresas, entidades da sociedade civil e governos.
“O Brasil é o grande hub da companhia no ecossistema de inovação em sustentabilidade”, diz Claudio Raupp, presidente da empresa americana no país. Uma das metas globais da HP é que, até 2025, 30% do plástico empregado em seu portfólio provenha de material reciclado. Outra, para o mesmo ano, é a redução de 30% nas emissões de gases de efeito estufa relacionadas ao uso de seus produtos. A HP diz estar no caminho com 23% e 37%, respectivamente, dessas metas alcançadas no fim de 2018.
“Somos a única empresa do setor que consegue fechar localmente esse looping em relação ao plástico”, afirma Paloma Cavalcanti, diretora de sustentabilidade da HP. “Praticamente não existem projetos de inclusão de cooperativas de catadores nas cadeias de logística reversa e de reciclagem de eletroeletrônicos no mundo. Nós fizemos isso no Brasil.” Atualmente, quando termina a vida útil, os equipamentos em geral são desmontados e apenas os componentes mais valiosos são vendidos ou reaproveitados.
O que sobra fica como passivo ambiental, depositado em aterros sanitários ou lixões. Para mudar esse padrão de descarte, a HP criou um modelo econômico específico e treinou cerca de 90 pessoas de duas cooperativas de Cotia e de São José dos Campos, em São Paulo, em sistemas de gestão e modos de lidar com eletroeletrônicos. Em 18 meses, houve aumento de 13% no lucro das cooperativas e redução de 20% nos custos de logística da empresa.
Com o sucesso, a experiência está sendo ampliada no país e exportada para a Índia. Em setembro, cooperativas de Sorocaba e de Barueri uniram-se ao projeto. Para 2020, a expectativa é a entrada de mais 30, com o desenvolvimento de uma plataforma digital para conectar as cooperativas aos consumidores finais.
A HP também tem apostado em outras ações, como o lançamento do primeiro computador do mundo fabricado com plástico retirado de oceanos e o investimento de 5,5 milhões de dólares no reflorestamento e na conservação da Mata Atlântica brasileira. “A sustentabilidade faz parte do core da HP”, diz Raupp.
O portfólio de produtos que defendem o meio ambiente já representa 45% da receita da Siemens. e a tendência é que o segmento cresça muito mais | Solange Azevedo
Quase metade (45%) da receita do grupo de engenharia alemão Siemens vem de produtos ambientais, voltados para eletrificação, automação e digitalização. Isso representou mundialmente uma receita de 38,6 bilhões de euros em 2018, sendo 72% em eficiência energética e 28% em projetos de energia renovável. A tendência é que os negócios ambientais ocupem ainda mais espaço.
“Empresas que investem para tornar seus portfólios mais sustentáveis estão ganhando mais dinheiro”, diz Henrique Paiva, head de sustentabilidade e relações governamentais da Siemens no Brasil. “Negócio verde é bom negócio.”
Um exemplo é a Siemens Gamesa, braço que inaugurou em agosto uma linha de produção de conversores para turbinas eólicas na fábrica de Camaçari, na Bahia. A empresa, que é a segunda maior fabricante de turbinas eólicas do Brasil, com 22% de participação de mercado, planeja fabricar nos próximos anos também inversores para geração de energia solar, aproveitando o incentivo governamental para energias limpas.
“De 2005 a 2019, por exemplo, o BNDES firmou 1.367 contratos de investimentos em parques eólicos”, afirma José Mauro de Morais, pesquisador de energias renováveis, petróleo e gás do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Com seu portfólio ambiental, a Siemens calcula ter contribuído para uma redução de 609 milhões de toneladas em emissões de CO2 no mundo no ano passado. É o equivalente a um terço das emissões do Brasil (ou 75% das da Alemanha). As soluções vão de equipamentos para gerar energia sustentável a ganhos de eficiência, com redução de perdas em transmissão, distribuição e armazenamento.
Até por coerência, a Siemens trabalha para reduzir sua pegada de carbono. Um de seus compromissos é neutralizar as emissões de CO2 até 2030. Nos últimos quatro anos, já obteve redução de um terço. “Mas, além dos compromissos internos, entendemos que podemos contribuir com o poder público transmitindo conhecimento”, diz Paiva. Ele se refere ao City Performance Tool, um estudo que identifica as melhores tecnologias a ser aplicadas em edifícios e nos setores energético e de transportes para redução de emissões.
Adotado por mais de 35 cidades, como Los Angeles, Londres e Munique, o projeto chegou a Jundiaí, no interior paulista. Em parceria com a prefeitura, a Siemens fez um inventário das emissões da cidade. Depois preparou cenários de redução de poluentes. A previsão otimista é de recuo de 44% nas emissões de CO2 até 2050. A empresa negocia o projeto em outras cinco cidades brasileiras, incluindo São Paulo.