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As lições da vitória de Obama

Como as eleições presidenciais nos Estados Unidos podem servir de inspiração para líderes de empresas

Barack Obama, durante a campanha: mensagem simples, consistente e ambiciosa conquistou eleitores (Joe Raedle/Getty Images)

Barack Obama, durante a campanha: mensagem simples, consistente e ambiciosa conquistou eleitores (Joe Raedle/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de março de 2011 às 10h48.

O objetivo desta coluna não é explicar por que John McCain deveria ter vencido. A eleição acabou. Embora acreditemos que John McCain seja um grande americano, cuja plataforma econômica fazia mais sentido para os negócios, sobretudo no que diz respeito ao livre comércio, à política fiscal e à criação de emprego, olhamos com esperança a Presidência de Barack Obama. Se o país de Obama for, de fato, um país de todos, conforme ele prometeu tão apaixonadamente, certamente olhará também pelos interesses de milhões de proprietários de pequenos negócios e de empreendedores, que são, tanto quanto os demais americanos, parte da força e do futuro dos Estados Unidos.

Bem, chega de política.

Nossa preocupação aqui é com as lições que os líderes de empresas podem aprender com a derrota de McCain e a vitória de Obama. Isso porque, apesar das diferenças entre a gestão de uma campanha e a gestão de uma empresa, três princípios cruciais de liderança se impõem em ambos os casos. E foi sobre esses princípios que Obama ergueu sua vitória definitiva. Vamos começar pelo princípio de liderança que é o avô de todos — visão clara e constante. Se você quiser atrair seguidores, não pode simplesmente mudar de mensagem o tempo todo. Também não pode confundir nem assustar as pessoas. A política de saúde de McCain, por exemplo, tinha muitos pontos a seu favor. No entanto, sempre que ele a explicava, fazia-o de maneira confusa, muito complexa. Além disso, uma das cláusulas do plano provavelmente teve um efeito assustador nos 20 milhões de pessoas que nela viram a possibilidade de perder o precioso plano de saúde de seu empregador.

Já a mensagem de Obama era simples e ambiciosa. Ele falava de George W. Bush. Falava de mudança, de esperança e de saúde para todos. Cada vez mais, Obama retratava o futuro do país de uma forma que empolgava as pessoas e despertava nelas o desejo de se unir à sua causa. Com isso, ele estabeleceu o exemplo perfeito de comunicação para todo líder de empresa: concentre-se num número limitado de temas, repita-os sem cessar, conquiste as pessoas.

O segundo princípio de liderança certamente é bem conhecido: execução. Em seu livro de mesmo nome (Execução), Larry Bossidy e Ram Charam argumentam que saber executar não é a única coisa que o líder tem de fazer certo, mas, sem isso, o resto praticamente perde o sentido. Foi o que essa eleição mostrou. Em cerca de dois anos de trabalho árduo e ininterrupto, a equipe de Obama cometeu pouquíssimos erros em campo. Desde o início, seus assessores sempre foram mais brilhantes. No decorrer da campanha, seu time mostrou bom preparo e agilidade e estava sempre onde devia estar. A equipe de McCain, penalizada por um grupo menos coeso de assessores e por menos dinheiro, simplesmente não tinha como competir com a máquina bem azeitada de Obama.


A eleição trouxe outra lição sobre a importância de saber executar que talvez seja ainda mais importante do que a anterior: o modo como Obama derrotou Hillary Clinton nas primárias. Hillary achou que poderia vencer do jeito antigo, ou seja, ganhando em estados grandes, como Nova York, Ohio e Califórnia. Obama descobriu uma maneira nova e surpreendente de vencer a adversária: durante a realização dos “caucus” (reuniões locais de alguns estados em que se discutem programas dos pré-candidatos e, ao final, vota-se de forma aberta), etapa que sempre desperta pouco interesse. A analogia com os negócios não poderia ser mais adequada. Muitas vezes, as empresas acham que dominaram a arte de bem executar, bastando para isso que as coisas corram sempre do mesmo jeito e melhor. Contudo, saber executar exige, de fato, que as coisas corram sempre do mesmo jeito, mas exige também atrair novos clientes e abrir novos mercados. É impossível derrotar a concorrência seguindo apenas as mesmas regras de sempre. Para crescer, é preciso inventar um jogo novo e derrotar a concorrência ali também.

Em terceiro e último lugar, essa eleição nos deu uma lição fundamental de liderança no que diz respeito à importância de ter amigos nos altos escalões. Desde o início da campanha, parece que Obama teve forte apoio da mídia, que preferiu não insistir muito nas controvérsias que cercaram o candidato. McCain, por sua vez, apanhou o tempo todo. No fim das contas, é inquestionável que o apoio da mídia a Obama tenha feito alguma diferença.

Nenhum líder de empresa pode sobreviver sem o apoio do conselho. Todas as vezes em que tentar introduzir alguma mudança, haverá resistência. Talvez o conselho o desafie abertamente nas reuniões sobre estratégias, por meio da mídia ou por intrigas palacianas. Você terá de se defender em todos esses momentos. No final, seu sucesso ou seu fracasso dependerá de você ter o apoio ou não do conselho.

É por isso que você precisa contar sempre com aliados nos altos escalões em todas as suas iniciativas de liderança, gente que esteja convencida dos méritos de seu caráter e de suas políticas. Isso só, porém, não basta. Se quiser que o conselho seja seu aliado, jamais o surpreenda. Basta lembrar como foi que McCain, de repente, saiu com o nome de Sarah Palin. A mídia não gostou nem um pouco dessa história, porque se viu obrigada a sair às pressas à cata de informações.

Sem dúvida os especialistas buscarão entender essa eleição no decorrer dos próximos anos. Para líderes de empresas, no entanto, as lições são imediatas. Talvez você tenha idéias vencedoras, mas é preciso muito mais do que isso para vencer.

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