Revista Exame

As agências de rating são odiadas — e (ainda) necessárias

As agências de classificação de rating são demonizadas e responsabilizadas por parte da crise global. Mas, embora cometam erros em série, até agora não surgiu uma alternativa para o trabalho que elas fazem

Rebaixado?: os investidores mostraram confiar mais nos 141 anos do Handelsbanken do que na nota da Moody’s (Bengt Wanselius/Divulgação)

Rebaixado?: os investidores mostraram confiar mais nos 141 anos do Handelsbanken do que na nota da Moody’s (Bengt Wanselius/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2012 às 18h21.

São Paulo - De todos os demônios descobertos no sistema financeiro mundial nestes últimos anos de lágrimas, bancarrotas e desordem econômica, poucos têm sido tão odiados quanto as chamadas agências internacionais de rating — organizações que calculam a capacidade de governos ou companhias privadas pagarem as dívidas, através de um sistema de notas, e são pagas para fazer esse serviço por clientes interessados em receber tais informações.

De autoridades governamentais a analistas econômicos, de prêmios Nobel de Economia a comentaristas de assuntos internacionais, poucos deixam de apontar as agências como uma serpente que envenena o tempo todo o universo financeiro e que se tornou responsável por boa parte da crise econômica no mundo.

Ao rebaixarem suas notas, como têm feito cada vez mais nos últimos tempos, fazem desabar cotações e preços de ativos, aumentam o custo do crédito para devedores que precisam levantar dinheiro, e acabam por auto-alimentar a instabilidade. Provocam, elas próprias, a perda de credibilidade que depois apontam em suas avaliações — e fazem essa credibilidade cair mais ainda. 

Toda a revolta contra as agências de rating, cujas naves-mãe são a Moody’s, a Standard & Poor’s e a Fitch Ratings, tem sido até agora gritaria de arquibancada, com muito barulho e sem influência nenhuma no resultado. Qual seria a alternativa para elas? Não surgiram, por enquanto, propostas capazes de fazer nexo.

De um lado, as agências são necessárias. Grandes fundos de investimento, por exemplo, são legalmente obrigados a só comprar ativos que estejam acima desta ou daquela nota. De outro, as autoridades econômicas tão indignadas com sua influência, sobretudo na Europa, não têm como proibir as agências de dar notas baixas, ou de qualquer tipo, nem impedir que as divulguem.

Chegou-se a imaginar, a certa altura, a criação de algum tipo de agência multigovernamental; o pesadelo burocrático de montar uma coisa dessas desanimou os mais apaixonados defensores do “Estado forte” e da “regulamentação dos mercados”.

Além disso, o mal de um pode ser a alegria de outros. O Brasil, por exemplo, está muito satisfeito com a Moody’s ou a S&P; há anos vem recebendo promoções em suas tabelas, o que reduziu dramaticamente os juros que tem de pagar pelos empréstimos que levanta lá fora.


Mas o mundo gira, e frequentemente gira na direção oposta à que é desejada pelos sábios. No final de maio, no que talvez tenha sido o primeiro grande contravapor registrado nessa área, a Moody’s rebaixou as cotações de diversos bancos da Suécia e da Noruega — e a primeira coisa que aconteceu, logo no dia seguinte, foi que as ações dos bancos subiram de preço nas bolsas.

Foi exatamente o oposto do que tem acontecido até agora — como se os investidores começassem a prestar menos atenção no que dizem as agências e olhar mais para a situação que veem com os próprios olhos.

O Handelsbanken, por exemplo, fundado em 1871 e um dos maiores da Suécia, foi rebaixado pela Moody’s. Mas trata-se, pelos fatos conhecidos, de um banco de saúde perfeitamente sólida; a avaliação foi julgada arbitrária, desconexa e tola, e por causa disso ignorada.

A maré estaria começando a virar? É algo que só ficará claro mais adiante. A grande curiosidade é que essa primeira correção não foi feita por nenhum governo ou editorial carregado de som e fúria; foi executada, justamente, pelos “mercados”, ente ainda mais odiado que as agências pelos cruzados da regulamentação.

Não há dúvida de que elas foram um fracasso como vigilantes ao darem suas notas máximas a arapucas como o Lehman Brothers até o dia anterior à sua falência em 2008, com débitos superiores a 600 bilhões de dólares — ou à própria Grécia, cujo governo falsificava as contas públicas.

Depois, passaram a atirar primeiro e perguntar depois, numa orgia de rebaixamentos contra todo mundo. As agências têm de encontrar seu equilíbrio, é claro. Mas não é a ciência burocrática que fará isso.

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