Centro de distribuição do Submarino: sinergias de 800 milhões de reais
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2011 às 17h39.
Preste atenção no depoimento abaixo. Ele foi dado por um funcionário do Submarino, empresa que anunciou uma fusão com a Americanas.com (braço de comércio eletrônico da Lojas Americanas) em novembro do ano passado, formando a B2W:
"Desde que o negócio foi divulgado, está todo mundo preocupado por aqui. As duas empresas são bem diferentes e já está ficando claro que quem vai dar as cartas é a Americanas. Até com o estilo de roupas que usamos o pessoal está implicando. Por causa disso, tem bastante gente aqui pensando em sair.
Alguns diretores já foram embora. Cada vez que um executivo do Submarino deixa a empresa ficamos mais apreensivos. Nos corredores, só se ouvem conversas de colegas procurando emprego. Já vi vários funcionários aproveitando o horário de trabalho para atualizar seu currículo. O clima é péssimo. Eu mesmo já estou considerando a possibilidade de procurar outro lugar para trabalhar".
A B2W nasceu no final de 2006 com o objetivo de tornar-se uma potência do varejo brasileiro. Juntos, o Submarino e a Americanas.com estimavam criar sinergias de cerca de 800 milhões de reais. A lógica do negócio era ter uma empresa com musculatura forte, capaz não apenas de liderar o comércio eletrônico no Brasil como também de brigar com o varejo tradicional e expandir a atuação para fora do país.
A B2W poderia também ser a grande força nacional capaz de enfrentar multinacionais estrangeiras, como a Amazon e o Wal-Mart, que já anunciaram a intenção de entrar na internet brasileira.
Até chegar a esse objetivo, porém, a B2W (cuja formação oficial ainda depende de aprovação do Cade, órgão de defesa da concorrência) precisa enfrentar um momento tão delicado quanto crucial para seu sucesso: a integração das operações. "É comum que esse tipo de situação gere instabilidade", afirma Mário Marques, da Fator Incremental, consultoria paulista especializada em mudança.
Essa instabilidade pode ser mais facilmente percebida na sede do Submarino, em São Paulo. Como a nova empresa é controlada pela Americanas, que detém 53% de participação, aos poucos a varejista carioca começa a implementar seu estilo de gestão -- movimento, aliás, esperado pelo mercado.
"Ninguém tinha dúvida de que os traços da controladora iriam prevalecer", afirma um analista especializado em varejo. O sinal mais visível do enfraquecimento do Submarino foi a saída de três de seus seis diretores. Desde janeiro, deixaram a empresa os executivos Martín Escobari (relações com os investidores), Paulo Silvany (financeiro) e André Shinohara (comercial e marketing).
"A saída des ses executivos não é uma boa notícia, porque eles conheciam profundamente o negócio de varejo online", afirma a analista Daniela Bretthauer, do banco Santander. Ainda permanecem Flávio Jansen (co-CEO da B2W), Armando Marchesan (logística) e Argeu Pereira da Invenção (tecnologia).
Além disso, outras mudanças já começam a ser desenhadas. "Fomos avisados de que muitas atividades financeiras do Submarino seriam transferidas para o Rio de Janeiro e que alguns de nossos fornecedores seriam substituídos pelos da Americanas", afirma um executivo que deixou o Submarino recentemente.
"Até outro dia éramos rivais ferrenhos e agora temos de obedecer ao novo comando. E isso não é nada fácil", diz ele. Procurada por EXAME, a B2W não quis se pronunciar sobre o assunto.
O principal responsável pela integração das operações é o carioca Timotheo Barros, diretor de finanças e de relações com investidores da B2W. É ele quem comanda o time de 20 pessoas -- dez da Americanas e dez do Submarino -- que estão avaliando as melhores práticas de cada empresa para definir o que será incorporado pela B2W, de soluções de recursos humanos a logística.
Aos 30 anos de idade, Barros é quase um veterano na Lojas Americanas. Entrou na empresa em 1996, como trainee, e ocupou diversas posições na companhia. "Ele ganhou prestígio quando assumiu a loja da Americanas em Ipanema", afirma um ex-executivo da rede. "Aquela era uma espécie de unidade piloto, onde a empresa testava novidades, e o estilo dele agradou aos acionistas."
Por causa da integração, Barros tem passado de dois a três dias por semana em São Paulo. "Fazemos duas reuniões diárias para acompanhar o processo", disse ele numa recente teleconferência com analistas.
Em grande medida, a situação vivida pelo Submarino atualmente é parecida com a enfrentada pela Antarctica, comprada pela Brahma em 1999, dando origem à Ambev. (Vale dizer que os controladores da antiga Ambev e da Lojas Americanas são os mesmos: o trio de investidores formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira).
Embora anunciado como fusão, o negócio rapidamente ficou caracterizado como aquisição. Em oito meses, o estilo da Brahma, apoiado em pilares como controle obsessivo de custos e meritocracia, havia suplantado o da envelhecida Antarctica. Foram raros os casos de executivos da Antarctica que se adequaram às novas regras.
"Houve uma mortalidade muito grande", disse a EXAME, na época, um diretor da Ambev. Passado o atropelo inicial, a empresa conseguiu se fortalecer para jogar pesadamente no mercado global de cervejas. Em 2004, assinou um acordo com a belga Interbrew para formar a Inbev, a maior cervejaria do mundo. No mercado não há dúvida de que repetir o roteiro protagonizado pela cervejaria é uma clara ambição dos acionistas da Americanas.