Revista Exame

AIDS: um problema do novo governo indiano

Na Índia, as autoridades se omitem e o combate à doença é feito pela iniciativa privada

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2011 às 19h28.

O novo governo da Índia tem dois desafios imediatos. Um é manter as taxas de crescimento que o país apresentou durante a administração de seus adversários políticos do partido nacionalista hindu, o Bharatiya Janata. O outro é o combate à aids. A luta contra a doença é hoje uma prioridade. Calcula-se que 1% da população indiana já esteja infectada com o vírus HIV.

Esse percentual significa 10 milhões de pessoas contaminadas, o que dá ao país o indesejado segundo lugar na lista das nações com o maior número de casos no mundo, atrás apenas da África do Sul. Hoje, o gasto nacional com saúde pública é de apenas 1% do PIB, ou menos de 1 dólar por pessoa. No Brasil, só para efeito de comparação, gasta-se quase 100 vezes mais. A situação só não é mais crítica por causa da ação das empresas.

Recentemente, a Indian Oil Corporation, companhia de petróleo indiana, transformou 4 000 postos de gasolina em centros de tratamento contra a aids e a rede de televisão Star anunciou que vai veicular campanha publicitária de esclarecimento sobre a doença. Desde o ano passado, o Standard Chartered Bank, a maior instituição financeira do país, promove a distribuição gratuita de preservativos.

Sem demérito algum para essas corporações, o envolvimento da iniciativa privada é também uma questão de autodefesa. Um estudo do Banco Mundial mostra que a aids tem profundas repercussões econômicas quando sai de controle. Baseado na experiência de alguns países africanos, o estudo mostra que o PIB pode diminuir até 1,5% ao ano por causa da doença.

Existem efeitos de curto e de longo prazo. Num primeiro momento, turistas e empresas evitam as áreas atingidas. Ao longo dos anos, há outro problema. A geração que ficou sem os pais, e portanto sem educação adequada, torna-se uma força de trabalho menos qualificada (o que também traz prejuízos para a economia do país).


Para as empresas, a situação é igualmente desfavorável. Um trabalhador infectado ou um funcionário que tenha um parente com aids costumam faltar muito e produzir pouco. A pesquisa mostra que a queda na produtividade chega a 5% e os lucros diminuem 8%. Outro levantamento, da Universidade de Boston, feito entre 1999 e 2001 com seis grandes empresas do sul da África, revela que a aids representou um custo adicional de 6% na folha de pagamento das companhias.

No Brasil, a participação das empresas é tímida, mas existe uma boa razão por trás disso. Felizmente a situação da aids no país está sob controle. O programa estatal de combate à doença tornou-se uma referência mundial de sucesso. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde divulgou um relatório em que cita o caso brasileiro como modelo.

Os principais méritos do programa são a distribuição gratuita de remédios e preservativos e uma forte campanha publicitária. Hoje, o governo brasileiro faz o medicamento chegar a 150 000 pessoas. Para atingir esse número, foi fundamental a batalha que o Ministério da Saúde travou para quebrar a patente de remédios contra a aids.

Isso permitiu uma redução de 50% nos custos e a manutenção do programa universal e gratuito. Aliadas aos coquetéis contra o vírus, as campanhas de prevenção também desempenham um papel importante. Elas disseminam o hábito de usar preservativos com simplicidade e bom humor -- algo que é um tabu na Índia, por exemplo. Os resultados foram excelentes. Quase 80% de redução nas internações e queda de 50% no número de óbitos. Um raro exemplo de boa ação do governo brasileiro.
 


Acompanhe tudo sobre:AidsÁsiaBricsDoençasEpidemiasÍndia

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda