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Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 10h53.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2021 às 18h38.
A ABB, a gigante sueco-suíça que produz de robôs a sistemas de transmissão de energia, tem hoje uma ambição: transformar-se na Microsoft do mundo industrial. Quer fazer pelo seu sistema operacional - conhecido como Industrial IT - o que o americano Bill Gates conseguiu com o Windows no ramo dos computadores pessoais: torná-lo o padrão da indústria.</p>
As mudanças começaram há cerca de dois anos, quando a ABB virou uma provedora de soluções. Até então, a ABB limitava-se a produzir os equipamentos. Os clientes é que precisavam se virar para adaptá-los às suas necessidades. "Percebemos que, com a chegada da economia digital, estávamos perdendo oportunidades", diz o indiano Dinesh Paliwal, 43 anos. Engenheiro nascido em Nova Délhi, Paliwal é vice-presidente executivo e o principal arquiteto da mudança.
O negócio da ABB agora é vender "a solução completa", em vez de equipamentos separados. Para tanto, foi necessário que a empresa desenvolvesse uma plataforma que permitisse que os equipamentos interagissem e pudessem também ser operados e atualizados online, pela Internet. Foi aí que surgiu o Industrial IT. "Os clientes reclamavam que ao entregarmos equipamentos não-inteligentes estávamos entregando um problema para eles", diz Paliwal. Com o Industrial IT, a ABB transformou seus equipamentos em peças "inteligentes".
Outra mudança ocorreu na estrutura da ABB. Até então, a empresa tinha mais de 30 unidades responsáveis pela produção de cada equipamento. "Tudo era feito olhando apenas as nossas necessidades, impondo nossa lógica de dentro para fora", diz Paliwal. Com a reestruturação, as 30 unidades foram extintas. Surgiram cinco departamentos, focados em cada mercado. Antes, um cliente que necessitasse de equipamentos produzidos pelas diferentes unidades da ABB tinham de fazer negócios com cada uma delas. Hoje ele só precisa conversar com um interlocutor na ABB. "Era como se uma pessoa fosse a várias lojas comprar ingredientes para fazer um bolo e, de repente, passasse a comprar o bolo pronto", compara Paliwal.
Não foi fácil, contudo, implementar as mudanças. Para centralizar seus esforços na nova atividade e ganhar agilidade, além de capacidade de investimento, a ABB vendeu sua unidade de geração de energia elétrica, uma das mais antigas do grupo. Isso provocou reações adversas internamente. "Estamos visitando todas as unidades da ABB no mundo para ouvir os funcionários", diz Paliwal. "Peço que me desafiem e discordem do que consideram errado. Mas que façam isso em nossos encontros. No mercado precisaremos ser uma única voz."
Há casos, como os ocorridos na filial alemã, em que não houve acordo: funcionários em posições-chave resistiram às mudanças. "Demitimos os descontentes", afirma Paliwal. "Mas a maioria dos funcionários concorda que esse é o melhor caminho para a empresa."
Segundo Paliwal, os equipamentos industriais estão se tornando uma espécie de commodity e essa foi uma das razões de vender a área de equipamentos para geração. Mas ele não acredita que mais divisões terão de ser negociadas: "As empresas vão continuar comprando equipamentos. E nós vamos fazê-los, mas agora com a vantagem de serem inteligentes".
A aposta da ABB é de que esses equipamentos inteligentes se tornem padrão no mercado mundial. Para isso, vai oferecer gratuitamente o sistema Industrial IT. A receita virá dos usuários, que terão de pagar pelo sistema, assim como os donos de computadores pessoais pagam para usar o Windows. E se os fabricantes não usarem os Industrial IT como plataforma para seus equipamentos? Paliwal diz que os clientes vão querer equipamentos inteligentes, independentemente da marca. "Se ninguém mais fabricar, a ABB terá os produtos para oferecer", afirma o executivo.
Paliwal afirma que as dificuldades enfrentadas nos dois primeiros anos pela ABB também serão um problema para concorrentes que tentarem fazer algo parecido. "Estamos abrindo uma vantagem de dois a três anos, o que é muito importante." Os resultados no momento, contudo, não são animadores. O lucro no primeiro semestre deste ano caiu 21% em relação a igual período do ano passado, quando atingira 791 milhões de dólares. O número de demissões atinge 12 000 funcionários. "Com tudo isso", diz Paliwal, "precisamos olhar para o futuro."