Indústria brasileira: a alta ociosidade mostra que a economia está muito aquém do tamanho potencial (Eduardo Knapp/Folhapress/Exame)
Flávia Furlan
Publicado em 1 de março de 2018 às 05h17.
Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 15h52.
Entre as muitas marcas deixadas pela crise no país, eis mais uma: a economia brasileira está mais distante de seu tamanho potencial desde a década de 60, segundo um estudo do banco Itaú. O pior momento anterior foi em 1992. Os dados consideram estimativas dos valores do produto interno bruto verificado e os do produto potencial. Esse indicador trata do desempenho da atividade econômica que não cria ociosidade nem sofre de falta de capacidade instalada. Em 2013, a economia cresceu 2,9% acima do potencial e, naquela época, eram comuns as filas de caminhões em portos causando prejuízos milionários. Três anos depois, com a forte crise, a economia ficou 5,3% abaixo do potencial, o que reflete a alta ociosidade da indústria e o grande número de desempregados no país. Calcula-se que em 2017 o produto interno bruto poderia ter chegado a 6,9 trilhões de reais, mas, dada a lenta recuperação, as estimativas apontam para uma geração de riqueza realizada de 6,6 trilhões de reais. Os dados do Itaú mostram que a economia só vai atingir sua plenitude novamente em 2020. “Para ser sustentável, o crescimento da economia deve ficar perto de seu potencial”, afirma Artur Passos, economista do Itaú. “E são necessárias reformas para modernizar o país e elevar essa capacidade de crescimento.”
EDUCAÇÃO
PARECE QUE NÃO É PRIORIDADE, MAS É
Os brasileiros classificam a educação apenas como a sexta prioridade que o governo deve ter. O item está atrás de outros, como melhorar os serviços de saúde, aumentar o salário mínimo e controlar a inflação, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria. O resultado pode dar a impressão de que a educação não está entre as principais preocupações dos cidadãos. Mas não é bem assim. De acordo com uma pesquisa da organização Todos pela Educação, com 3 000 pessoas em todo o território nacional, caso tivesse um aumento de salário, o brasileiro investiria justamente na própria educação ou na de seus filhos. “Os dados indicam que a população não acredita que a situação da educação pública vá se resolver no curto prazo, por isso coloca outras prioridades para o governo”, diz Priscila Cruz, presidente da Todos pela Educação. “Por outro lado, os brasileiros têm a percepção de que a educação privada é melhor e, se tiverem uma renda maior, vão pagar por um ensino de qualidade.”
POLÍTICA
ELAS NÃO CHEGAM ATÉ LÁ
Um estudo do Movimento Transparência Partidária mostra que 44% dos filiados a partidos políticos brasileiros são mulheres, chegando ao máximo de 55% no Partido da Mulher Brasileira, que tem a participação feminina como foco de atuação. Mas há um abismo entre a filiação e a efetiva eleição de mulheres no Brasil: elas ocupam só 10,7% das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, o terceiro menor índice entre 36 países da América Latina, Caribe e Península Ibérica, segundo um estudo da ONU Mulheres. O Brasil só ganha do Haiti, com 2,5%, e de Belize, com 9,4%. “Há uma legislação que determina que 30% das candidaturas de cada partido sejam de mulheres, o que fez elevar o número de filiadas”, diz Marcelo Issa, fundador do Movimento Transparência Partidária. “Mas muitas dessas candidaturas são de fachada e ainda encontram resistência na direção dos partidos.”