Diuana, Souza e Casares, do serviço Lig Gol: aposta na venda de títulos de capitalização pelo telefone (--- [])
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 12h20.
Discretamente, as principais concessionárias de telefonia do país -- Telemar, Telefônica e Brasil Telecom -- têm se preparado para o renascimento de um negócio bilionário: o mercado de serviços 0900. No passado, esse serviço foi abolido devido a inúmeras reclamações de consumidores que se sentiam lesados por iniciativas como telessexo e leitura de horóscopo. Mas, graças a um poderoso lobby orquestrado por representantes das operadoras e de emissoras de televisão, a Anatel (agência que regulamenta o setor) e o Ministério Público Federal autorizaram recentemente o retorno do 0900. O serviço volta com algumas restrições, mas continua sendo uma potencial mina de ouro. Estimativas de mercado indicam que só no primeiro ano de atividade o 0900 deverá gerar receitas superiores a 1 bilhão de reais. E daqui a dois anos essa cifra poderá até triplicar. "Muita gente vai ganhar dinheiro com esses serviços, principalmente as telefônicas. Em alguns casos, elas poderão ficar com até 35% do que for pago pelos consumidores", afirma um executivo do setor. Procuradas, Telefônica, Telemar e Brasil Telecom não quiseram comentar o assunto.
O primeiro produto do novo 0900 será o Lig Gol, com previsão de lançamento em abril. O negócio envolve a Sul América Capitalização, a TV Record, a Radar Consultoria (pertencente a José Francisco Souza, ex-executivo do SBT e criador da Tele Sena) e alguns dos principais clubes de futebol do país, como Flamengo, São Paulo e Corinthians. Para que o projeto fosse autorizado, os sócios tiveram de obedecer às novas regras da Anatel. Uma delas, a de que o 0900 só poderia ser usado para vender produtos -- uma forma de evitar as consultas astrológicas e os serviços de telessexo. No caso do Lig Gol, a solução encontrada foi vender títulos de capitalização. O consumidor faz a ligação, adquire um título e passa a concorrer a uma série de prêmios -- que vão de kits de material esportivo a carros. O custo do servi ço é dividido entre as telefônicas (no caso do Lig Gol, 5% de maneira direta, além de uma taxa indireta de administração), os sócios da empreitada e o clube pelo qual o consumidor torce. "A combinação de um produto com caráter popular, propaganda na TV e vendas por telefone vai garantir ao projeto uma escala que dificilmente seria atingida de outra maneira", afirma Sérgio Diuana, vice-presidente da Sul América Capitalização.
Quem ganha com o 0900 | |
Veja como será distribuída a receita do Lig Gol, o primeiro produto que voltará a ser comercializado pelo sistema 0900 | |
1 - O consumidor faz uma ligação 0900 para comprar um título de capitalização de seu time por 4 reais(1) | |
2 - Dos 4 reais, a parte que fica com a operadora de telefonia fixa é 0,20 real | |
3 - A Sul América Capitalização recebe da operadora de telefonia fixa o restante, ou seja: 3,80 reais | |
4 - Os 3,80 reais são distribuídos da seguinte maneira: | |
Clube de futebol |
35%
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Radar Consultoria(2) |
20%
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Custos dos prêmios sorteados |
18%
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TV Record |
15%
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Sul América Capitalização |
12%
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A expectativa é que em um ano os negócios gerados pelo 0900 (como o Lig Gol) movimentem 1 Bilhão de reais(3) | |
(1) Valor estimado cobrado em conta telefônica (2) Responsável pela administração do produto (3) Estimativa de mercado |
O número de potenciais compradores do 0900 é gigantesco. Existem hoje no Brasil 23 milhões de linhas telefônicas residenciais instaladas (as linhas comerciais não estão habilitadas para a volta do serviço). Além disso, o 0900 deve chegar também aos celulares -- uma base de mais de 80 milhões de aparelhos. Nessa nova encarnação do serviço, o mercado móvel é a grande estrela. Nos Estados Unidos e na Europa, o celular tornou-se uma das ferramentas mais comuns para promover sorteios e jogos de azar. Na última temporada da liga de futebol americano, mais de 4 milhões de torcedores enviaram mensagens de texto para participar do sorteio de uma viagem com o jogador-astro da liga. Na Inglaterra, clientes da operadora Orange enviam torpedos à empresa para ganhar ingressos de cinema. Segundo o instituto de pesquisas Juniper Research, a receita global gerada com jogos de azar pelo celular foi de 2 bilhões de dólares em 2005 e chegará a 19 bilhões em três anos. "Teremos parcerias com as operadoras de celular em breve", afirma Julio Casares, diretor de estratégia da Record.
Um dos desafios das empresas interessadas nesse mercado é apagar a imagem controversa do 0900, que acabou estigmatizado por serviços como o do astrólogo Walter Mercado (celebrizado pelo insuportável bordão "Ligue Djá"). A maioria deles não costumava dar aviso prévio do alto valor das tarifas e não contava com um sistema de bloqueio eficiente das ligações. Resultado: eram contas telefônicas salgadas e calotes freqüentes. Para evitar que o estrago se repita, os gastos por usuário foram limitados a 25% do salário mínimo por mês. Também houve denúncias de que instituições de caridade que deveriam ser beneficiadas por sorteios foram prejudicadas (uma das promessas do Lig Gol é mostrar na TV como os clubes vão gastar as doações). "Apesar do passado, temos certeza de que os consumidores vão entrar na onda do 0900", diz José Francisco Souza, da Radar Consultoria. Telefônicas, seguradoras e até times de futebol contam com isso.