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Carta de EXAME | A volta da esperança

A bolsa no país vive um momento de euforia, com alta de 15%, em média, nas ações desde o início do ano; as previsões sugerem espaço para mais valorização

A Câmara em festa: um apoio surpreendentemente forte na primeira votação sugere que a chance de uma conclusão favorável à reforma da Previdência é alta (Fátima Meira /Futura Press/Estadão Conteúdo)

A Câmara em festa: um apoio surpreendentemente forte na primeira votação sugere que a chance de uma conclusão favorável à reforma da Previdência é alta (Fátima Meira /Futura Press/Estadão Conteúdo)

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Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2019 às 05h00.

Última atualização em 18 de julho de 2019 às 15h21.

O termo “Belíndia” foi concebido em 1974 pelo economista -Edmar Bacha: o retrato de um país tão desigual formado por uma pequena Bélgica e uma gigantesca Índia. Era uma crítica à política econômica de então e à pesada concentração de renda tão característica do Brasil.

Mais de duas décadas depois, o ex-ministro Antonio Delfim Netto retrucaria: somos, na verdade, uma espécie de “Ingana”, com a carga tributária da Inglaterra e os serviços públicos de Gana. O próprio Bacha acaba de imaginar um retrato ainda mais atual: a “Rusmala”, que combina a corrupção russa entre as elites com a violência urbana da Guatemala. Infelizmente,- os três “países” têm paralelos reais com o Brasil.

Nossos problemas são conhecidos, e a desigualdade de renda e a ineficiência estatal — inclusive para garantir nossa segurança — estão no topo da lista. Para surpresa de muitos, o Congresso brasileiro acaba de iniciar uma votação que dá esperança de que comecemos a atacar essas mazelas.

Um surpreendente apoio de 379 deputados à reforma da Previdência no primeiro turno sugere que a chance de uma conclusão favorável é muito alta; na verdade, a proposta ainda pode melhorar em seu trâmite no Senado. O Brasil começaria, assim, a atacar desigualdades históricas na divisão do bolo de recursos administrados pelo Estado, abrindo espaço para uma atuação mais intensa em áreas que realmente demandam a atenção estatal — saúde, educação e segurança entre elas.

É isso que os investidores começam a vislumbrar, como mostra a reportagem de capa coordenada pelo editor executivo -Lucas Amorim. A bolsa no país vive um momento de euforia, com alta de 15%, em média, nas ações desde o início do ano.

Todas as previsões — que, como sempre, devem ser tratadas com muita cautela — sugerem espaço para mais valorização. O curioso é que esse clima convive com uma paradeira na economia real. A previsão de aumento da geração de riqueza no ano anda abaixo de 1%, enquanto a taxa de desocupação dos brasileiros, considerando desempregados, subutilizados e desalentados, é de 25%.

Uma hora esses dois mundos precisam se encontrar: ou bem a economia responde e faz jus à valorização da bolsa, ou as cotações terão de se ajustar. Vai depender da vontade reformista demonstrada por nossa classe política, com especial destaque ao Parlamento.

Como também enfatizamos na edição, apesar de toda a comemoração em torno da aprovação parcial da reforma, o projeto apenas será capaz de estancar o crescimento da dívida pública. Dito de outra forma, a reforma votada vai impedir um crescimento insustentável dos gastos, mas não vai resolver o desequilíbrio fiscal.

É por isso que, aqui e ali, já se ouve falar de uma nova reforma dentro de cinco a dez anos. A situação só vai ficar mais tranquila se mantivermos o ímpeto reformista.

Não caímos no maior buraco econômico de nossa história por acaso. Vai dar um trabalhão sair dele. Que bom que começamos. 

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