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Depois de baixar a inflação e cortar gastos, Milei busca a saída da recessão

Presidente argentino completou 1 ano de governo no começo de dezembro

Javier Milei: presidente argentino terá teste nas urnas em 2025 (Mauro Pimentel/AFP/Getty Images)

Javier Milei: presidente argentino terá teste nas urnas em 2025 (Mauro Pimentel/AFP/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.

Na campanha em 2023, Javier Milei fez da motosserra um símbolo: prometeu cortar sem dó os gastos públicos e o tamanho do Estado argentino, como forma de conter a inflação e de recolocar o país no rumo do crescimento. Neste primeiro ano de governo, a motosserra trabalhou muito: houve corte real de 30% dos gastos públicos, o que incluiu encolher ministérios, aposentadorias e repasses federais para as províncias, além de cortar subsídios, encaminhar a privatização de estatais e demitir funcionários públicos. Até outubro, 31.000 deles foram dispensados.

“O governo Milei está fazendo algo que nunca se fez na Argentina: não gastar mais do que arrecada enquanto libera o setor privado de impostos e regulações absurdas”, disse Luis Caputo, ministro da Economia da Argentina, em um evento em São Paulo. “A taxa de juro de novembro de 2023 implicava imprimir uma base monetária adicional a cada dois meses.” Ou seja: o país imprimia pesos para pagar as contas, mesmo sem lastro ou reservas em dólares, o que ajudava a moeda a perder seu valor, realimentando a inflação.  

As medidas para reduzir gastos deram resultado, e a Argentina teve superávit fiscal em 2024, depois de anos. A inflação baixou para 2,7% ao mês em outubro. No entanto, o ajuste trouxe uma recessão, e o país deverá fechar 2024 com queda de 3,5% do PIB, projeta o FMI. Com isso, a pobreza cresceu e atinge 53% da população, ante 40% em 2023.

Caputo diz que o governo cortou subsídios, mas aumentou os benefícios para os mais pobres. Apesar da piora na renda, o governo mantém a estratégia. “Acreditamos que se combate a pobreza gerando uma sociedade produtiva, com impostos baixos e pouco Estado. Vivemos durante 30 anos subsidiando a pobreza, o que nos trouxe mais pobreza”, disse Patricia Bullrich, ministra da Segurança Pública da Argentina, durante evento no Rio de Janeiro. 

Para 2025, a expectativa é de retomada da economia, com crescimento do PIB de 5%, puxada pela melhora da produção agrícola e pelo avanço da exploração de gás nas reservas de Vaca Muerta, no sul do país. “Estamos começando a ver sinais de que a Argentina está saindo da recessão, mas é uma recuperação heterogênea”, afirma Juan Carranza, analista político.

Ele afirma que há melhora na mineração, para a qual foram criadas regras para facilitar investimentos. Já a construção civil está em situação ruim, porque Milei cortou obras públicas.

Fim do "cepo"

No próximo ano, outra expectativa é o fim do “cepo”, as restrições que limitam a aquisição de dólares. Como faltam dólares, sucessivos governos foram criando cotas para a aquisição da moeda pelos cidadãos e pelas empresas. O modelo gerou uma burocracia enorme e dificulta transações, como a importação de máquinas.

“As restrições cambiais não vão estar mais na Argentina no ano que vem. É muito importante sair do cepo cambial. Mas é mais importante fazer isso de modo que não gere estresse na economia. Por isso, não colocamos uma data limite, mas condições”, afirmou Caputo. As principais condições são que as emissões de pesos sejam estabilizadas de vez, que a inflação se mantenha sob controle e que o Banco Central argentino ajeite seu balanço.

A expectativa é que a renegociação do acordo da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que deve ser concluída nos primeiros meses de 2025, possa trazer mais alguns bilhões para recompor as reservas do BC e acelerar o fim das restrições. Se for feito sem cuidado, o fim dos controles cambiais poderá gerar uma queda livre do valor do peso, algo capaz de trazer de volta a inflação elevada. “A maioria dos preços está dolarizada, então qualquer efeito no câmbio tem impacto na inflação”, diz Carranza.

Em outubro de 2025, Milei terá outro teste: haverá eleições legislativas de meio de mandato, e os argentinos poderão dizer quanto estão apreciando, ou não, as medidas do presidente, que somava 50,2% de aprovação em novembro, de acordo com a consultoria CB. 

“Ver se ele será capaz de ganhar poder e apoio nas eleições, para continuar implantando seu pacote, será a principal questão”, diz Malcolm Dorson, estrategista-chefe de mercados emergentes da gestora americana Global X. “Em 2025, todos estarão de olho se Milei manterá a credibilidade que conquistou.”

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