Ana Paula Geraldini, 55 anos: Estagiária de RH da Sephora desde maio (Leandro Fonseca/Exame)
Daniel Salles
Publicado em 29 de julho de 2021 às 06h00.
Demitida em novembro do ano passado da ONG que coordenava, a professora Ana Paula Geraldini decidiu cursar uma nova graduação. Desde fevereiro frequenta o curso de gestão de recursos humanos do Senac de São Paulo. Depois deu o passo que todo universitário costuma dar: achar um estágio. “Meus 55 anos não me liberam da necessidade de começar de baixo”, afirma a paulistana. “Estou recomeçando, afinal, em uma área nova.” Desde maio, é uma das estagiárias do RH da Sephora, a incensada rede francesa de lojas de cosméticos. Entrou numa vaga exclusiva para profissionais com 50 anos ou mais. Diz ela: “Espero encorajar outras pessoas da minha idade a recomeçar”.
No novo trabalho, podem lhe aplicar um rótulo oposto ao pejorativo “filho do dono”. Afinal, dois dos três fundadores do Grupo Locale, de cuja folha de pagamentos Jackson Fullen faz parte desde junho, são seus filhos. A empresa engloba o restaurante japonês Oguro Sushi & Bar, com duas unidades, o Locale Caffè e a Locale Trattoria, que abriga uma franquia da Grand Cru – todos os empreendimentos ficam em São Paulo, onde Fullen nasceu. “Sou movido a desafios e adorei a ideia de desbravar um novo mercado”, diz ele, que foi diretor comercial de diversas empresas. “Minha missão é usar minha experiência em gestão para ajudar na expansão da companhia.”
De uns anos para cá, ela tirou do currículo o ano em que nasceu. Temia que nem fosse avaliado em razão de sua idade. No ano passado, quando Shirley Maekawa tinha 58 anos e se candidatou a uma vaga de gerente de sistemas da Vivo, enviou um currículo nos mesmos moldes – não sabia que é política da empresa não fechar as portas para candidatos com 50 anos ou mais. “É uma companhia comprometida com a diferença”, diz ela, nascida em Osasco, na Grande São Paulo, e radicada em Suzano. “Não me sinto deslocada de forma alguma.” O novo emprego a levou a adiar os planos de aposentadoria em dez anos. “Antes eu achava que aos 60 anos já ia querer parar de trabalhar, mas agora me vejo na ativa até os 70, pelo menos”, afirma.
Há 16 anos, Ricardo Ferreira domina algo que muita gente considera mais obscuro do que física quântica. Falamos do sistema operacional Java, que ele desenvolve como funcionário da multinacional de tecnologia Tivit desde fevereiro – carioca radicado em Duque de Caxias, tinha na época 59 anos. “Esse é um meio no qual a forma física pouco importa, o que interessa é o conhecimento acumulado”, diz ele, em cujo currículo constam passagens por empresas da área de tecnologia como Totvs, Spassu e MindTek. “Tenho vários colegas mais velhos.” Pelo sim, pelo não, diz se manter em constante atualização. “É o segredo para competir com a molecada em pé de igualdade”, afirma.
Formada em administração de empresas, a capixaba Geanine Calmon usufruiu da aposentadoria por dez anos. Até acatar a sugestão de uma sobrinha para concorrer às primeiras vagas ofertadas pela Wine a profissionais com 60 anos ou mais. “Entrei no processo seletivo meio na brincadeira, pois achei que uma companhia tão tecnológica jamais iria me querer”, diverte-se ela, hoje com 71 anos. Contratada como assistente administrativa em fevereiro do ano passado, Calmon virou a responsável pelo onboarding dos novos funcionários. Alguns, por sinal, com cabelos brancos como os dela. Isso porque a Wine agora se obriga a avaliar currículos de quem tem 60 anos ou mais para toda e qualquer vaga.
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