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A saída para a Fras-le estava bem ao lado

Com os antigos donos, a Fras-Le ia mal das pernas. Não foi preciso vendê-la a multinacionais. Nas maõs da vizinha Random, voltou a prosperar

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Da Redação

Publicado em 9 de julho de 2012 às 15h57.

Quer saber a diferença entre a Fras-Le administrada pelo grupo Randon e a Fras-Le que, até dois anos atrás, estava nas mãos do grupo Francisco Stédile? Entre na sala do principal executivo da empresa, Erino Tonon, a mesma que era ocupada por Alfredo Stédile, primogênito do fundador da Fras-Le. </p>

Forrado com um grosso carpete branco, o enorme gabinete, com mais de 100 metros quadrados, localizado na sede da empresa em Caxias do Sul, na serra gaúcha, abriga móveis em madeira maciça e estofados em couro.

Para as reuniões, uma mesa talhada em jacarandá com mais de seis metros de comprimento, ladeada por cadeiras estofadas em tecido branco de espaldar altíssimo e paredes revestidas em madeira trabalhada pelas mãos de algum artesão habilidoso. "Nem o Fernando Henrique tem uma sala assim", diz o loquaz Tonon, filho de italiano e pianista afinado.

Desde que Tonon passou a ocupar a sala, o tapete encardiu. Clientes e operários pisam sobre ele. Na antiga gestão, raríssimas pessoas eram recebidas ali. Tonon, ao contrário, estimula os funcionários a visitá-lo em seu "palácio de cristal". Um palácio, diga-se, que em breve deixará de existir.

A Randon pretende centralizar as operações da Fras-Le, um dos cinco maiores fabricantes de material de fricção (pastilhas e lonas para freio) do mundo, em Forqueta, um distrito industrial plantado nos arredores de Caxias do Sul. Já funcionam ali as principais unidades da Rondon. Está decidido também que permanecerá aberta a fábrica que a Fras-Le mantém na Argentina, desde 1992.

As novas acomodações serão modestas e funcionais como nas demais empresas do grupo liderado pelo empresário Raul Randon. As velhas e suntuosas salas ocupadas pela família Stédile darão lugar a um empreendimento imobiliário. Pelo menos até agora, a nova Fras-Le é um exemplo de que, mesmo no setor de autopeças, no qual as companhias estrangeiras têm dado as cartas ultimamente, uma boa administração é mais importante que a nacionalidade do dono.


Embora sempre tenha sido uma empresa conceituada no mercado, a Fras-Le tinha poucas chances de continuar progredindo sob os antigos controladores. Seus recursos eram canalizados para cobrir os rombos e contínuos prejuízos das demais empresas da família Stédile, como a Agrale. Nesse processo, a descapitalização e desvalorização da Fras-Le foi inevitável.

Em 1995, último ano nas mãos dos antigos proprietários, a Fras-Le faturou 115 milhões de dólares e contabilizou prejuízo no balanço. Seu valor patrimonial era negativo. Em 1996, já com a Randon no controle, a empresa faturou 140 milhões de dólares e voltou ao azul, com um lucro de 4,5 milhões.

No ano passado, o faturamento cresceu menos, ficando na casa dos 150 milhões de dólares. Em compensação - e é o que importa - o resultado final melhorou muito: 15 milhões de dólares. Nesse meio tempo, o patrimônio líquido da Fras-Le voltou a ser positivo. No balanço de 1997 estavam estampados 28 milhões de dólares.

PROFISSÃO DE FÉ - O grupo Randon acredita que poderá tocar a Fras-Le sem parceiros de fora. Não por profissão de fé nacionalista. Ao contrário. Nesta década, a empresa gaúcha já fez três associações no ramo de autopeças buscando aportar tecnologia, com as americanas Carrier Transicold e Rockwell International e com a alemã Jost-Werke.

"Nós adoramos joint ventures, mas a Fras-Le tem sua própria tecnologia", diz Tonon. "Com os investimentos que estamos fazendo, podemos acompanhar a tecnologia de ponta do setor". Segundo ele, a entrada de um sócio estrangeiro limitaria a atuação da Fras-Le fora da América Latina.

Por isso mesmo, só aceita sócios capitalistas, que não pretendam influir na gestão dos negócios, como os fundos de pensão Previ e Petrus, que detêm fatias do capital da empresa. Com a troca de mãos, a Fras-Le recuperou sua capacidade de investir: foram 14 milhões de dólares nos dois últimos anos. Mais 70 milhões de dólares serão aplicados até o ano 2000. Com esse dinheiro, a Fras-Le deve dobrar sua produção até a virada do milênio e ganhar laboratórios modernos.

O mercado de reposição absorve quase dois terços da produção da Fras-Le. A empresa gaúcha detém a liderança, com 60% de participação. É o seu ponto forte. E o ponto fraco? Sua pequena fatia como fornecedora das montadoras de veículos leves, inferior a 20%. É justamente aí que está o problema: seu principal mercado, os veículos pesados, como caminhões e ônibus, tem crescido a taxas menores que a dos automóveis e picapes.


Para corrigir essa deficiência, a Fras-Le está investindo em pesquisa e desenvolvimento e intensificando a presença de seus técnicos na Europa. Motivo: é das subsidiárias européias das montadoras que se origina a maior parte dos projetos executados no país. "Queremos aumentar a participação na linha leve", diz Tonon.

Com o mercado globalizado, aumentar a participação significa garimpar clientes pelo mundo afora. Quando a Randon adquiriu seu controle, a Fras-Le exportava 12 milhões de dólares por ano. Em 1997, vendeu 25 milhões de dólares para mais de 60 países. Este ano, as exportações devem chegar a 30 milhões de dólares.

Tonon está gastando o verbo para aumentar as vendas da Fras-Le lá fora. Com domínio do italiano, que ouvia em casa quando menino, do inglês aprendido num curso de línguas e do francês, que aprimorou quando a Randon aumentou suas exportações para a Argélia. Não foi à toa que a Randon colocou-o na cadeira que era de Alfredo Stédile.

Tonon, hoje com 52 anos, está desde o final dos anos 60 no grupo, no qual entrou como estagiário de engenharia. É diretor corporativo da Randon, encarregado das questões de qualidade e desenvolvimento industrial. Sob sua responsabilidade estão também as demais empresas de autopeças da Randon: Freios Master, Carrier Transicold, Jost Brasil e Suspensys.

"ANIMADOR DA TURMA" - Desde que a Fras-Le foi adquirida, o dia-a-dia de Tonon ficou mais agitado. As manhãs são divididas entre as outras empresas do grupo. À tarde ele dá expediente no "palácio de cristal". A correria não afetou seu bom humor. "Como os clientes são praticamente os mesmos, na minha pastinha de vendedor só acrescentei mais uma folha, com os produtos da Fras-Le", diz. Tonon se ocupa dos clientes e da estratégia.

O restante ele delega. "Minha função é ser o animador da turma", afirma. Dos quatro diretores que trabalham com ele, três já eram da Fras-Le. Francisco Stédile, o fundador da empresa, ganhou uma cadeira no Conselho.

Casado pela segunda vez, pai de quatro filhos, Tonon tem três hobbies: a jardinagem, cuidar de sua biblioteca e de uma adega bem fornida. Na biblioteca predominam os romances históricos. "Não leio auto-ajuda, nem marketing, nem administração", diz. "Manual não é comigo".

Segundo Tonon, a meta da Randon é tornar a Fras-Le a maior do seu ramo no planeta. Não se trata de uma meta tão despropositada: afinal a inglesa BBA, líder do mercado, fatura exatamente o dobro da Fras-Le (as demais à sua frente são a também inglesa Ferodo e as americanas Abex e Carlisle). A BBA, inclusive, chegou a disputar a Fras-Le com a Randon.

Atualmente com 2 000 funcionários trabalhando em três turnos, Tonon espera que a Fras-Le encoste um pouco mais nas líderes de mercado se as encomendas continuarem nos níveis atuais.

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