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Todo mundo pede socorro a Brasília. Assim fica difícil

É a república do grito: basta surgirem as primeiras dificuldades para que um batalhão corra a Brasília pedir socorro ao governo


	Mais um pacote: a presidente e sua equipe anunciam o plano Minha Casa Melhor para tentar estimular o consumo 
 (Agência Brasil)

Mais um pacote: a presidente e sua equipe anunciam o plano Minha Casa Melhor para tentar estimular o consumo  (Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 3 de julho de 2013 às 06h00.

São Paulo - Nos últimos tempos, o Brasil se transformou numa espécie de “república do grito”. Basta que as dificuldades — ou a chance de que elas ocorram — batam à porta de determinado setor para que executivos especializados em relações institucionais, um dos cargos mais valorizados da atualidade, entrem em ação para pedir algum tipo de ajuda ao governo.

Pode ser um subsídio, uma desoneração temporária da folha, a redução, até segunda ordem, de um imposto aqui e outro acolá. Cada vez que um grupo de empresas consegue alguma coisa, a fila de executivos em busca de “favores” cresce em Brasília, fruto da ansiedade daqueles que se veem fora do jogo. E, cada vez que as cordas do mercado são mexidas pelo governo, mais desorganizada e menos confiável parece ficar a economia.

É uma enorme distorção de papéis. Em circunstâncias normais, empresários não se beneficiam nem se salvam graças a canetadas de autoridades. Eles não pedem favores, nem mesmo aqueles que podem ser rotulados como justos, sob pena de ter de pagá-los lá adiante.

Os bons empresários — competentes, eficientes, corretos — sobrevivem e prosperam ainda que encontrem obstáculos pelo caminho, enquanto os ruins — incompetentes, ineficientes, corruptos — são, cedo ou tarde, condenados pelo mercado à extinção. Em um cenário que se aproxime do ideal, governos não distribuem ajuda de forma seletiva e não elegem mocinhos e bandidos.

Eles trabalham para construir um ambiente onde existam poucos empecilhos para que as coisas aconteçam, os inovadores criem, os ousados arrisquem e o lucro possa ser visto como uma oportunidade para fazer mais — para acionistas e para a sociedade —, e não como a materialização de um mal necessário, tratado com tolerância mínima.

É quase ingênuo acreditar que o país seguirá um bom caminho descuidando do todo e achando que pode controlar as partes. Não dará certo e a prova disso pode ser vista muito mais na vida real do que nas estatísticas.

Está no incômodo e na insegurança que as perspectivas de nossa economia vêm causando não apenas mais nas chamadas “elites”, mas numa parcela do povão que, ao longo das últimas décadas, descobriu que poderia trocar o ônibus lotado pelo carro próprio ou substituir o coxão duro do almoço pela alcatra. O povão não quer abrir mão disso e só tem um jeito de expressar, de verdade, sua opinião: o voto.


O Brasil de hoje parece ser uma mistura de percepções absolutamente equivocadas. Mais do que nunca, é preciso deixá-las de lado para encarar a realidade. Não é verdade que seria possível nos transformar em potência do dia para a noite, assim como não é verdade que nos transformamos num desastre absoluto.

Não é verdade que essa nova classe média vai se manter onde está — ou que vai subir na vida de forma consistente e segura — à base de incentivos. Ela precisará de bons empregos. Também não é possível acreditar que negócios sólidos e bem-sucedidos no longo prazo dependam da boa vontade estatal. É uma pena, mas, na vida real, boa vontade não é suficiente para resolver problemas complexos.

Numa economia sadia e competitiva, na qual ganhar dinheiro não seja originalmente uma vergonha e onde o bom senso vença a ideologia, os bons empresários trabalharão mais e gritarão menos. Não precisarão pedir nem pagar por favores dos poderosos (o que não significa deixar de lutar por interesses legítimos).

Se conseguirem obter lucro no presente e contarem com a perspectiva de continuar a ganhar no futuro, se encontrarem um meio estável e regulado de forma a gerar negócios honestos, e não a impedir que eles surjam, empresários de todo o mundo voltarão a investir no Brasil. Simples assim.

Ao arrumar o todo — o ambiente de negócios — e deixar que as partes se ajustem, este e os próximos governos terão chances reais de fazer com que a roda da economia brasileira volte a girar com mais vigor e por mais tempo. E se pouparão de dar um bocado de chateações e da tarefa ingrata de trabalhar para dar explicações.

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