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A nova educação sem fronteiras

O educador Sal Khan, fundador da Khan Academy, diz que o modelo de ensino não será o mesmo no mundo

Sal Khan, da Khan Academy: “O ensino pode ser otimizado para servir a mais pessoas”  (Rachel Murray/Getty Images)

Sal Khan, da Khan Academy: “O ensino pode ser otimizado para servir a mais pessoas” (Rachel Murray/Getty Images)

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Rodrigo Loureiro

Publicado em 21 de maio de 2020 às 05h00.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 13h01.

Nascido nos Estados Unidos em uma família de Bangladesh, o empreendedor Salman Khan (ou apenas Sal Khan) é uma das referências mundiais em educação. Em 2008, depois de gravar videoaulas para seus primos, ele fundou a Khan Academy. Com uma plataforma online, a organização sem fins lucrativos disponibiliza conteúdo educacional sem cobrar nada. Para isso, Khan conta com o apoio financeiro de instituições filantrópicas, além de fundos de investimento, empresas e bancos. Diante do desafio do novo coronavírus, que deixou os estudantes longe das escolas, o educador disse em entrevista à EXAME que o ensino mudará drasticamente daqui em diante.

A pandemia do novo coronavírus vai impulsionar o ensino à distância?

A crise definitivamente acelerou o uso da tecnologia e fez com que as pessoas se sentissem confortáveis em usar as plataformas. Todos estão entendendo que a conectividade é necessária para a vida. Se a crise durar vários meses ou até anos, o mundo será um lugar onde as pessoas vão alternar entre relações presenciais e virtuais. Ferramentas tecnológicas para a educação vão se tornar convencionais.

O senhor costuma dizer que a internet não substitui o ensino tradicional. Como misturar os dois mundos?

Em uma aula tradicional de matemática, por exemplo, há alunos que têm conhecimentos mais avançados e outros não. Com a tecnologia é possível que cada aluno aprenda no seu tempo. Os professores acompanham o desenvolvimento e preparam aulas presenciais personalizadas para ajudar alunos com mais dificuldade.

No Brasil, uma em cada quatro pessoas não tem acesso à internet. Como lidar com esse obstáculo?

Essa precisa ser uma preocupação dos governos, de empresas privadas e de companhias de telecomunicações. Fornecer infraestrutura de acesso à internet não é barato. Em Nova York, dependendo da região, pode custar bilhões de dólares. Mas é um custo baixo comparado ao prejuízo de não fazer isso. É possível equipar um país como o Brasil com internet e computadores gastando até 20 bilhões de dólares. Pode parecer muito, mas não é quando comparado ao valor gasto em outras áreas. Levar conexão às pessoas não só eleva a oferta acadêmica como também gera um impacto econômico.

Na área da educação, o Brasil está no caminho certo?

Cada país tem seus pontos fortes e fracos. Sou otimista em relação ao Brasil por causa das parcerias locais que temos no país. Elas nos permitem crescer e auxiliar estudantes e professores.

De que forma o uso de tecnologias como big data pode auxiliar na educação?

A análise de grandes quantidades de dados é útil se for utilizada para impulsionar a qualidade de ensino e para personalizar o aprendizado, acelerando a compreensão do conteúdo. É algo em que queremos investir. Mas é preciso deixar claro que os dados não são usados de forma irregular nem são comercializados. Essa é outra razão importante para atuarmos como uma organização sem fins lucrativos.

O que diria para os estudantes que começam a estudar agora?

Minha resposta é a mesma se fosse há 100 anos. Matemática, leitura e escrita são tão importantes hoje como sempre foram. Talvez até mais importantes. É necessário ter um pensamento crítico, que se obtém também com álgebra e geometria. Com a internet, as pessoas devem ser capazes de ler e processar cada vez mais informações, filtrando o que é real ou não. E precisam saber se comunicar, seja por fala, seja por e-mail, seja por um texto num blog. Nesse sentido, computação, finanças e direito ganham importância.

O modo de ensino está ultrapassado?

Sim e não. Claramente funciona. Mas é um sistema que pode ser otimizado para servir a mais pessoas. Já existe uma flexibilização de tempo e espaço do ensino, especialmente nos mestrados e doutorados. A crise atual vai colocar um holofote nessa necessidade.

Quais serão os próximos passos da Khan Academy?

O objetivo é aumentar o tráfego, que cresceu 250% nos últimos meses. Vamos adicionar mais conteúdo para que os alunos se atualizem mais rapidamente quando voltarem à escola, e criar maneiras de as pessoas continuarem estudando durante as férias e no período sem aulas presenciais.

E quais são os desafios pela frente?

Há sempre mais a ser feito do que temos capacidade. Não buscamos o lucro, então existimos à base de doações. O desafio é angariar recursos para realizar todas essas coisas.

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