Revista Exame

Bitcoin, a moeda que subiu 200 000%

A bitcoin é uma moeda virtual que pode ser emitida por qualquer pessoa que tenha um computador ligado à internet. A questão é: dá para confiar num sistema desses?

Lan house na China: o governo chinês estuda maneiras de restringir a circulação da moeda virtual Q coin (Yuan Shuiling/AFP)

Lan house na China: o governo chinês estuda maneiras de restringir a circulação da moeda virtual Q coin (Yuan Shuiling/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de setembro de 2011 às 06h00.

São Paulo - alguém que queira se hospedar no Villa Sart, um pequeno hotel na cidade de Danzig, às margens do mar Báltico, na Polônia, pode fazer a reserva de um quarto duplo por 95 euros por noite.

Se preferir, o visitante pode se instalar no mesmo cômodo pagando com seis unidades de outra moeda, a bitcoin. Outros 700 estabelecimentos, como restaurantes, livrarias e lojas de roupas, em diferentes países (nenhum deles no Brasil, ao menos por enquanto), começaram a trabalhar da mesma forma recentemente: aceitam moedas locais e bitcoins. 

Bitcoins não existem no mundo real: são moedas virtuais que permitem que pagamentos sejam feitos sem a intermediação de instituições financeiras. A diferença para outros sistemas semelhantes, como o PayPal, é que as bitcoins podem ser geradas na internet.

Qualquer um que instalar um programa de computador chamado de “minerador” consegue emiti-las. Ou seja, cria-se dinheiro a partir do nada. Como a emissão é muito lenta — pode levar mais de três meses para criar uma única unidade — e até pouco tempo atrás quase nenhum estabelecimento aceitava esse tipo de pagamento, a moeda era vista como mais um daqueles passatempos esquisitos dos nerds.

A questão é que, agora, as bitcoins se tornaram uma febre na internet. Por razões inexplicáveis, mais consumidores e lojas passaram a usá-las, e a moe­da valorizou de forma impressionante. No começo de 2010, uma unidade de bitcoin valia menos de 1 centavo de dólar. Hoje, na média do mês de agosto, é negociada por cerca de 10 dólares — uma alta de 200 000%. 

Existem 7 milhões de bitcoins em circulação, que movimentam quase 70 milhões de dólares. É muito pouco perto dos trilhões de dólares que circulam pelo sistema financeiro mundial, mas o que chama a atenção é a euforia em torno da moeda virtual.

Na esperança de que a valorização continue, milhares de investidores têm comprado bit­coins para tentar revendê-las no futuro com lucro. Parte dessas compras é feita em casas de câmbio virtuais, que vêm sendo criadas para trocar dólares, euros e até reais por bitcoins.

“Há espaço para esse mercado crescer muito mais. Essas moedas podem valorizar mais de mil vezes”, disse a EXAME Adam Stradling, consultor americano que trabalhou cinco anos em Wall Street antes de fundar a TradeHill, uma dessas casas de câmbio.


O problema óbvio desse sistema é que ele não é regulado. As bitcoins não estão atreladas ao sistema financeiro de nenhum país nem são fiscalizadas por bancos centrais.

Elas começaram a ser criadas em 2009, depois que um programador japonês chamado Satoshi Nakamoto publicou uma tese em que apresentava a ideia de um sistema monetário virtual global.

Saíram desse trabalho as coordenadas para que fosse criado o programa que emite bit­coins pela internet. Senadores americanos chamaram a moeda de “uma forma online de lavar dinheiro”. Na China, o governo vem estudando formas de restringir o uso de moedas virtuais — o foco principal são as Q coins, usadas em compras ligadas ao serviço de mensagens instantâneas QQ. Mas, na prática, esse tipo de pagamento continua sendo utilizado livremente.

O maior risco é o de as pessoas simplesmente pararem de usar bitcoins e voltarem a pagar com dólares, euros ou reais. O valor de qualquer moeda depende da confiança de consumidores, empresários e investidores.

“Nada garante que os usuários de hoje manterão o interesse pela moeda no futuro”, diz John Robb, ex-analista da consultoria especializada em internet Forrester Research, que estuda o sistema das bitcoins desde sua criação.

Uma mudança de comportamento poderia fazer com que as bitcoins virassem pó em pouco tempo. Além disso, começam a pipocar denúncias de crimes associados ao uso desse sistema de pagamento.

Em junho, um usuário veio a público denunciar o roubo de bitcoins de sua carteira virtual, um sistema de armazenamento da moeda virtual que funciona de maneira parecida com a dos bancos na internet. Também há casos de cambistas que simplesmente sumiram com as bit­coins de seus clientes.  

Por enquanto, as fraudes são isoladas e, por isso, o clima geral em relação às bitcoins é de boa vontade. “A bitcoin é mais uma forma de pagamento, e também tem sido um ótimo investimento”, diz Artur Szumski, dono do hotel Villa Sart, na Polônia. Os entusiastas dizem que a maior vantagem da moeda virtual é o fato de ela ser inume à inflação.

Como não pertence a países, não sofre com as decisões de governos que podem desvalorizá-la, como vem ocorrendo com o dólar. Fora isso, o algoritmo de Nakamoto controla a quantidade e o ritmo com que a moeda pode ser gerada na internet — sabe-se que a oferta total de bitcoins nunca poderá ultrapassar 21 milhões de unidades. A questão é saber até quando o otimismo vai durar.

Acompanhe tudo sobre:CâmbioEdição 0999MoedasPolítica cambial

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025