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Americanas e Submarino à espera da Amazon

Como a Americanas.com e o Submarino estão se preparando para enfrentar a chegada da maior empresa de comércio eletrônico do mundo

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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2011 às 18h55.

O americano Jeffrey Preston Bezos virou uma lenda do mundo dos negócios graças à Amazon, livraria que lançou na internet em 1995. No auge do delírio do mercado acionário com as empresas virtuais, em 1999, Bezos foi eleito Homem do Ano pela revista Time.

Na época, pouca gente entendia como um negócio que já faturava 1,6 bilhão de dólares, mas dava prejuízos de 720 milhões, poderia ser visto como um modelo do futuro. Hoje, todos entendem. No décimo ano de existência, a Amazon.com é a maior empresa de comércio eletrônico do planeta.

Vende de livros a acessórios para carros, de bichos de pelúcia a frutas tropicais. Fatura 7 bilhões de dólares, gaba-se de atender 49 milhões de consumidores e registrou no último ano fiscal lucro de quase 600 milhões de dólares. Bezos também não quer parar de crescer. Depois de abrir filiais na Europa, no Japão, no Canadá e na China, ele agora está de olho no Brasil.

De 2002 para cá, as receitas das subsidiárias da Amazon mundo afora praticamente triplicaram. Elas já respondem por 45% do faturamento total. As vendas da área internacional cresceram 53% no ano passado, ante tímidos 12% de expansão na América do Norte.

Entre 1998 e 2000, a Amazon se empenhou em ampliar a presença fora dos Estados Unidos e iniciou operações na Inglaterra, na Alemanha, na França e no Japão.

O estouro da bolha da internet, porém, forçou a empresa a concentrar-se na rentabilidade. Bezos deu sinais de que voltaria a olhar para o resto do mundo em agosto do ano passado, quando a Amazon pagou 75 milhões de dólares para entrar no mercado chinês, com a compra do site Joyo.com. Nos últimos dias, circularam boatos entre as empresas de internet de que a Amazon já teria feito contato com executivos brasileiros para preparar sua chegada ao país.

Procurada por EXAME, a empresa não respondeu às solicitações de entrevista. Mas é consenso entre os que acompanham de perto os movimentos do mercado que o Brasil entrou na mira de Bezos. "Que a Amazon virá para o Brasil é um fato. A questão é apenas quando", diz Jack London, fundador da Booknet, a primeira livraria virtual brasileira, depois vendida e transformada no site Submarino.


"Agora que a Amazon voltou a olhar para o mercado internacional, ela deve vir para o Brasil em algum momento", afirma Flávio Jansen, presidente do Submarino. "O mais natural é que venha para o Brasil ou vá para a Índia", diz Rodrigo Magela, analista da gestora de recursos ARX Capital.

Diante da possibilidade real de que um gigante como a Amazon aporte no país, o varejo eletrônico nacional já começou a movimentar-se. No início do mês, o Shoptime, operação que reúne vendas pela internet e pela TV, foi comprado pela Americanas.com por 126 milhões de reais. Juntos, eles passam a dominar quase 40% do varejo virtual brasileiro.

Com isso, a Americanas.com -- que também não respondeu aos pedidos de entrevista -- consolida a liderança online e se distancia ainda mais do Submarino, o segundo colocado. Além de mais uma loja na internet, passa a ter um canal de TV a cabo -- recurso que, segundo especialistas, tem um papel vital para aumentar as vendas.

"A gestão da Americanas.com é muito eficiente e entende bem o mercado", diz Gustavo Hungria, analista de investimentos do banco Pactual. "Também pode valorizar bastante a operação do Shoptime." Ambos, afirma Hungria, ganharão em escala e poderão reduzir custos operacionais. O maior desafio é integrar duas empresas que oferecem produtos muito parecidos. "Temos de esperar para ver como eles farão isso e, ao mesmo tempo, diferenciarão as marcas Shoptime e Americanas.com", diz Tufic Salem, do banco de investimentos Credit Suisse First Boston.

Os três negócios -- Americanas, Submarino e Shoptime -- têm o dedo do trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, ex-sócios do GP Investimentos. Controladores da Americanas, eles também detinham 27% das ações do Shoptime, transmitidas aos novos sócios da GP. Desde 1995, o trio também apostou em empresas ponto-com.

Foram eles que, por meio do GP, investiram 12 milhões de dólares, em junho de 1999, para transformar a livraria virtual Booknet no Submarino -- hoje, a loja virtual também está sob o controle dos novos sócios do GP. O próprio Submarino havia considerado comprar o Shoptime, mas acabou desistindo. "Achamos muito caro e vimos que poderíamos ter problemas na integração das operações", diz um membro do conselho da empresa.


Com crescimento de 70% no ano passado, o Submarino agora aposta no marketing e na variedade de produtos para aumentar sua fatia de mercado. Deve fechar o ano com seis novas categorias de produtos -- entre elas perfumes e instrumentos musicais. Também investiu 6 milhões de reais em campanhas publicitárias dentro e fora da internet para atrair gente que nunca tinha usado computador para fazer compras.

"Em 2005 aumentamos nosso investimento em propaganda com anúncios em revistas e nos cinemas", diz Jansen, do Submarino. "Esperamos um crescimento na base de clientes de 50% neste ano." Nos dez dias que se seguiram à compra do Shoptime pela Americanas, o valor de mercado do Submarino subiu cerca de 7%, para 1,2 bilhão de reais. 

De acordo com analistas, um dos motivos por trás da valorização é que, com o negócio, o Submarino, único grande varejista que atua exclusivamente na internet, tornou-se o candidato natural a ser comprado pela Amazon. "É a empresa que tem a operação mais parecida com a da Amazon", diz Magela. "Seria uma porta de entrada perfeita para o Brasil."

A aquisição de uma empresa estabelecida, segundo Magela, é a estratégia que mais combina com o que Jeff Bezos já fez nos outros países em que entrou -- China, Alemanha e Inglaterra. Tal aquisição traria, ainda, vantagens na hora de estabelecer relações com fornecedores e com o público.

A outra opção para a Amazon -- comprar a Americanas -- seria mais complexa, pois a empresa inclui uma operação de varejo tradicional que teria de ser desmembrada. "Com a compra do Shoptime pela Americanas, pode custar mais caro para a Amazon estabelecer uma posição relevante no mercado brasileiro", diz Magela.

Seja como for, é um bom momento para a empresa americana apostar no Brasil. Nunca se comprou tanto pela internet por aqui. De acordo com a empresa de pesquisas e-bit, o comércio eletrônico faturou 1,7 bilhão de reais no Brasil em 2004, 48% mais que no ano anterior.

Ainda são poucos os varejistas que se aproveitam de todo esse crescimento e disputam os 2,5 milhões de consumidores que fazem compras online no país. Americanas.com, Submarino e Shoptime dominam, juntos, 62% do mercado. Mas ainda há muito espaço para crescer.


A Forrester Research, consultoria especializada em tecnologia, estima que o mercado se multiplicará por 7 em cinco anos. A previsão é que, em 2010, 30 milhões de pessoas gastem 12,8 bilhões de reais em compras online no Brasil.

Nos outros ramos da internet brasileira, a presença dos grandes competidores internacionais já começa a ser sentida com mais intensidade. Em julho passado, chegou o Google, o maior site de bus cas do mundo. O site de leilões eBay, comandado por Meg Whitman, é outro que parece prestes a fincar de vez os pés no país.

Desde 2001, a empresa detém 19,5% do capital do Mercado Livre. "O eBay começa com um investimento minoritário e, depois, acaba comprando o resto da empresa", diz Stelleo Tolda, presidente do Mercado Livre. "Já conversamos sobre isso, mas no momento não temos fato a reportar."

Na China, os americanos do eBay desembolsaram 150 milhões de dólares no ano passado para comprar o que faltava na participação no maior site de comércio eletrônico do país. A exemplo da Amazon, o crescimento do eBay nos mercados internacionais em 2004 foi de 77%, mais que o dobro do crescimento registrado nos Estados Unidos.

Qualquer que seja a estratégia que escolha para entrar no Brasil, Bezos terá de enfrentar um problema. O endereço www. amazon.com.br pertence ao provedor Amazon, de Belém, no Pará. O diretor comercial da empresa, Ruy Mártires, conta que, há cinco anos, recebeu uma proposta de um escritório de advocacia que dizia representar a Amazon no Brasil. "Queriam pagar algo como 1 000 reais, e a negociação não foi adiante", diz Mártires. De lá para cá, ele garante, não houve outro contato. 

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