Revista Exame

MM 2023: saiba quais foram os setores do nosso ranking que mais cresceram

As 1.000 empresas analisadas pelo ranking de Melhores e Maiores somaram 7,85 trilhões de reais em receita líquida, 23,8% mais do que em 2021. Os bons números foram puxados pelos segmentos de bancos, transporte e agronegócio

Avenida Faria Lima, em São Paulo: o estado concentra mais da metade das empresas do ranking deste ano (Leandro Fonseca/Exame)

Avenida Faria Lima, em São Paulo: o estado concentra mais da metade das empresas do ranking deste ano (Leandro Fonseca/Exame)

Marcus Lopes
Marcus Lopes

Jornalista colaborador

Publicado em 14 de setembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 14 de setembro de 2023 às 09h27.

Após o intenso e desafiador período acometido pela covid-19, o ano de 2022 ficou marcado pela relativa estabilidade sanitária em relação à pandemia. Ao mesmo tempo que houve motivos para alívio, o nível de preocupação subiu com o início do conflito na Ucrânia. Para além das consequências provocadas pela guerra, principalmente sobre a população civil, houve aumento da instabilidade econômica mundial e disparada do dólar no mercado internacional, afetando principalmente os países de menor renda.

Outro motivo para o temor foi a desaceleração da economia chinesa, que afetou mercados em todo o mundo, inclusive no Brasil, forte dependente do país em setores como agronegócio e mineração. Por aqui, o ano também foi agitado na política, com a realização das acirradas eleições presidenciais que culminaram com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o ex-presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), por uma margem apertada.

A economia brasileira cresceu 2,9% em 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografria e Estatística (IBGE). Trata-se de uma desaceleração em relação ao ano anterior, quando a economia cresceu 5,1%. Segundo Samuel Barros, pró-reitor de pós-graduação do Ibmec no Rio de Janeiro e coordenador técnico de MELHORES E MAIORES, da EXAME, o principal motivo para a desaceleração foi a política monetária apertada adotada pelo Banco Central (BC) para tentar conter a inflação. No ano passado, a taxa básica de juro (Selic) subiu para 13,75% ao ano, o maior nível desde 2016.

Outro fator que contribuiu para a freada econômica, diz Barros, foram os desdobramentos da guerra na Ucrânia, que elevou os preços de commodities como petróleo e gás natural. Isso pressionou a inflação e reduziu o poder de compra da população.

Ainda assim, a economia brasileira apresentou pontos positivos em 2022. O mercado de trabalho continuou em trajetória positiva, com queda da taxa de desocupação para 11,1%. “As contas externas também estão em bom estado, com superávit da balança comercial. No geral, a economia brasileira apresentou um desempenho positivo em 2022, apesar da desaceleração”, diz Barros.

Depósito da Cooxupé, de Minas Gerais: alta do dólar ajudou nos resultados (Cooxupé/Divulgação)

As empresas brasileiras souberam calibrar a trajetória de crescimento em um cenário econômico ainda longe do ideal, mas com bons resultados para os negócios. No total, as 1.000 empresas analisadas pelo ranking de MELHORES E MAIORES para esta edição somaram 7,85 trilhões de -reais em receita líquida, 23,8% mais do que o resultado registrado em 2021, quando a receita total foi de 6,34 trilhões de reais. Os bons números foram puxados pelo desempenho de setores como o de bancos, transporte e agronegócio. Para ter uma ideia dos resultados, o produto interno bruto (PIB) brasileiro cresceu 2,9% em 2022.

“As empresas que compõem o ranking tiveram um crescimento maior do que o Brasil como um todo. Isso demonstra a grande eficiência do setor privado”, compara Barros. São Paulo é o estado que concentra mais da metade das empresas classificadas — 507 no total —, seguido do Rio de Janeiro, com cerca de 130 companhias ranqueadas. Em termos de receita líquida, as corporações estabelecidas no Espírito Santo apresentaram maior salto percentual de receita (62%), em comparação com outros estados, passando de um total de 14 bilhões de reais em 2021 para 24 bilhões de reais em 2022.

(Arte/Exame)

O mercado financeiro surfou a onda das altas taxas de juro estabelecidas pelo Banco Central, e o resultado foi um crescimento da receita líquida dos bancos em 45,5%, passando de 845,5 bilhões de reais em 2021 para 1,23 trilhão de reais no ano passado. Foi o maior crescimento proporcional de receita entre todos os setores analisados. Agora, resta saber se o ciclo de baixa dos juros básicos iniciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto terá continuidade daqui em diante, e em que ritmo isso poderá acontecer.

Retomada dos negócios impulsiona transportes

Outro setor que avançou muito foi o de transporte e logística, com um crescimento de 43,2% em receitas líquidas. “A melhor explicação é a retomada dos negócios, já que 2021 foi um ano muito ruim por causa da pandemia”, diz Barros. Por outro lado, o setor de siderurgia, mineração e metalurgia amargou uma queda de 10% nas receitas líquidas de 2021 a 2022.

O tombo, segundo Barros, é explicado pela desaceleração do crescimento da China, uma grande consumidora do minério brasileiro. A economia chinesa cresceu 3% em 2022, muito abaixo da própria meta do governo, de 5,5%. Para ter uma ideia, em 2021 o PIB chinês cresceu mais de 8%. Entre as explicações para a queda estão as restrições e os bloqueios praticados pela política covid zero imposta pelos governantes.

O novo Marco Legal do Saneamento, aprovado pelo Congresso Nacional em 2020, já começa a apresentar efeitos positivos na economia. A soma das receitas líquidas das empresas de saneamento e meio ambiente atingiu 63,1 bilhões de reais em 2022, 27,7% mais do que no ano anterior, quando registrou 49,4 bilhões de reais. As primeiras posições do ranking setorial foram ocupadas por empresas que tiveram resultados em receita líquida 100% maiores em relação a 2021. É o caso, por exemplo, da campeã Aegea, que apresentou receita de 8,3 bilhões de reais em 2022, ante os 3,7 bilhões de reais registrados em 2021, o que representa um salto de 120%.

Criada em 2010, a Aegea Saneamento tem contratos firmados de concessões ou parcerias público-privadas (PPPs) em 489 cidades brasileiras, distribuídas em 13 estados de Norte a Sul do país. No total, a população atendida pela Aegea é de cerca de 30 milhões de pessoas. A vice-campeã setorial, a Iguá Saneamento, teve receita líquida de mais de 2 bilhões de reais em 2022, o dobro da registrada em 2021. A Iguá trabalha atualmente em 15 concessões e três PPPs. As 18 operações da empresa ficam em municípios de Alagoas, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro.

Linha de produção da WEG: o setor de bens de capital cresceu 18% (Leandro Fonseca/Exame)

“O novo marco regulatório permitiu, nos últimos dois anos, a muitos municípios e estados fazerem licitações para conceder ou estabelecer parcerias dos serviços de saneamento para empresas privadas”, explica Barros. “Dessa maneira, muitas companhias cresceram e passaram a oferecer mais serviços para a população”, completa o consultor. O objetivo do novo Marco Legal é universalizar os serviços de água e saneamento básico no Brasil até 2033.

Para Fernando Chertman, professor de economia na Faculdade Belavista e na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, as transformações ocorridas em setores como o de saneamento contribuem para melhorar a economia nacional como um todo. “Mesmo sendo dependente dos planos governamentais, aos poucos a economia vem avançando. As parcerias público-privadas saíram do papel, permitindo a participação de empresas em setores antes restritos e limitados à gestão pública”, diz Chertman.

Se a alta do dólar ocorrida no ano passado prejudicou algumas áreas, beneficiou outras, segundo Barros. Ele cita o caso da Cooxupé, cooperativa exportadora de café com sede em Guaxupé, no sul de Minas Gerais, uma das principais regiões cafeeiras do país. A Cooxupé, que não havia entrado no ranking de MELHORES E MAIORES em 2021, ficou em quarto lugar nesta edição, com receita líquida de 10,1 bilhões de -reais, ante o resultado líquido de 6,7 bilhões de reais em 2021. O gosto amargo do começo da década parece mesmo ter ficado para trás.


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