Ne Zha 2: filme produzido pela Cocoa Bean Animation tornou-se a animação de maior bilheteria da história do cinema. (Reprodução/Cocoa Bean Animation)
Repórter
Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 06h00.
Última atualização em 18 de dezembro de 2025 às 06h14.
Há uma nova explosão criativa em curso na China, financiada por dinheiro estatal. Muito dinheiro: em dezembro, o governo comunista anunciou um aporte de 43,5 bilhões de reais em cultura. “Investir na indústria cultural tem amplas perspectivas, beneficia o povo e fortalece a pátria”, disse Sun Zhijun, presidente da Associação de Investimento Cultural da China.
O movimento tenta aproximar Pequim do papel que a Coreia do Sul assumiu na última década. A ascensão da cultura sul-coreana, movimento chamado de Hallyu, transformou o entretenimento global. Após a redemocratização nos anos 1990, o país converteu criatividade reprimida em estratégia de Estado e impulsionou a “onda coreana”. K-pop, K-dramas e games ganharam escala mundial, apoiados por investimentos públicos e privados que tornaram o país uma potência de soft power. Em 2023, o país investiu 32,1 bilhões de reais do orçamento. E teve retorno: a indústria atingiu 490,4 bilhões de reais.
E o C-pop chinês já tem uma cara própria. A febre dos microdramas de até dois minutos e o avanço das animações, filmes e videogames chineses representam um ponto de virada: conteúdos locais estão conquistando audiências globais e, ao mesmo tempo, obrigando o governo a rever antigas prioridades. Aplicativos como ReelShort e DramaBox geraram 2,6 bilhões e 2,4 bilhões de reais em receita global, com a indústria chinesa dos microdramas atingindo 37,7 bilhões de reais em 2024.
A China divulgou, em outubro, o 15o Plano Quinquenal, que reforça a necessidade de “acelerar o desenvolvimento das indústrias culturais” e ampliar o acesso da população a uma “vida cultural rica”. O texto prevê avanços na integração entre tecnologia e cultura e defende maior abertura para circulação de produtos culturais chineses que estendam “o alcance e o apelo da civilização chinesa”.
A receita com microdramas deverá atingir cerca de 60 bilhões de reais em 2025, um crescimento de 34% em relação a 2024. Os estúdios chineses produziram 40.000 vídeos no formato até agosto. E o impacto não se limita aos vídeos curtos. Ne Zha 2, produzido pela Cocoa Bean Animation, tornou-se a animação de maior bilheteria da história do cinema, enquanto Black Myth: Wukong, um videogame action RPG da Game Science, teve 25 milhões de cópias vendidas em seis meses.
A soma de investimento tecnológico e apoio estatal — combinada à ambição do plano nacional de fortalecer as indústrias culturais — leva a crer que a China está construindo sua própria estratégia de soft power. O país ainda não criou franquias duradouras como as da Coreia do Sul, mas a velocidade da transformação faz com que, cada vez mais, Pequim dispute o protagonismo global da cultura pop.