Uva em Nova Mutum, em Mato Grosso: expansão da fronteira agrícola com o investimento em pesquisa (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2013 às 05h00.
São Paulo - No final dos anos 70, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mudou os rumos do agronegócio no país ao lançar a soja adaptada ao cerrado. Foi o que permitiu a expansão da cultura para regiões onde a semente original jamais germinaria. E seguiu-se uma série de inovações que, ao longo das últimas décadas, modernizaram a agricultura brasileira — sem elas, a produção nacional de grãos não teria subido de 30 milhões de toneladas no início dos anos 80 para 162 milhões em 2012.
Agora, a Embrapa ambiciona mudar a história de outro segmento: a fruticultura. Após mais de 20 anos de seleções e cruzamentos genéticos, a empresa acaba de vender aos produtores brasileiros as primeiras sementes de oito novas variedades de frutas, desenvolvidas inteiramente em seus laboratórios. "As novas sementes podem levar o Brasil a dar um salto na produção e a ampliar a nossa exportação de frutas", diz Maurício Lopes, presidente da Embrapa.
Na nova cesta de frutas, o que mais chama a atenção é a produtividade. Veja o caso do maracujá. O Brasil é responsável por 70% da produção mundial da fruta e tem uma produtividade média de 14 toneladas por hectare. O tipo rubi do cerrado, criado agora pela Embrapa, rende três vezes e meia mais e, por ter muito mais polpa, é ideal para sucos.
Se todas as plantações do país adotarem a nova variedade, dentro de cinco anos a fruta vai gerar uma receita adicional de 172 milhões de reais — hoje, o valor da produção nacional de maracujá é próximo de 1,4 bilhão de reais por ano. Outro benefício das novas variedades é o controle de doenças, reduzindo as perdas de safra e o custo do produtor com agrotóxicos. Um novo cupuaçu, batizado de carimbó, é mais resistente à vassoura-de-bruxa. A banana chamada platina, ao mal do Panamá.
Essas doenças são capazes de dizimar lavouras inteiras. As pesquisas ainda trazem benefícios para além do campo. O limão tradicional dura de quatro a oito dias após a colheita. A nova espécie criada pela Embrapa resiste por 12 dias. Como ocorreu com os grãos nos anos 70, os pesquisadores se preocuparam em expandir a fronteira da fruticultura.
Entre as novidades está a uva magna. Com alta capacidade de adaptação, ela pode ser cultivada não apenas nas tradicionais regiões temperadas, como a Serra Gaúcha, mas também em áreas tropicais, como a calorenta Nova Mutum, em Mato Grosso.
Os técnicos da Embrapa estimam que, se as novas variedades substituírem as culturas tradicionais, em dez anos o Brasil poderá aumentar em até 50% a produção dessas frutas. A expansão elevaria a colocação do país no ranking dos produtores mundiais de frutas de terceiro para segundo lugar.
Hoje, o país produz 42 milhões de toneladas de frutas por ano. Há expectativa também entre os exportadores. Apesar de grande produtor, o Brasil não tem posição relevante no mercado internacional. É o 15o exportador, desempenho em parte explicado pelo tamanho do mercado interno, que absorve a maior parte da produção.
Mas pesa também a qualidade das frutas locais, que fica aquém da exigida pelos grandes consumidores estrangeiros, como Estados Unidos e Europa. O Chile, com um mercado doméstico pequeno, investiu pesado no setor e hoje exporta 4 bilhões de dólares por ano — seis vezes mais que o Brasil. As frutas da Embrapa, mais produtivas, vão liberar excedentes para a exportação.
Melhor ainda: elas atendem aos requisitos internacionais. São maiores, mais doces e mais coloridas. Oferecer uma cesta mais suculenta pode ser o primeiro passo para o setor de frutas repetir o sucesso obtido com a soja do cerrado na exportação de grãos.