Revista Exame

A base do desenvolvimento

Números comprovam o potencial da infraestrutura, da logística e da mineração sustentável no Brasil

Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará: local abriga primeiro hub de hidrogênio verde do Brasil (Marília Camelo/Exame)

Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará: local abriga primeiro hub de hidrogênio verde do Brasil (Marília Camelo/Exame)

Luciano Pádua
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 10 de novembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 13 de novembro de 2023 às 14h16.

Motivos para convencer empresas e investidores internacionais a injetar recursos no Brasil não faltam. Trata-se da maior economia da América Latina e da segunda das Américas. E estamos falando de uma das dez maiores economias do mundo, dona da quarta maior malha rodoviária do planeta.

Para se tornar ainda mais competitivo e continuar crescendo, o país está investindo fortemente em suas redes logísticas e de transporte. E o governo brasileiro espera atrair 10 bilhões de dólares em investimentos privados para ajudar a expandi-las.

A parceria entre a ApexBrasil e o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) da Casa Civil serve de estímulo, assim como o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que visa triplicar os investimentos públicos federais em infraestrutura nos próximos anos.

Para 2023, estão previstos 51 projetos relacionados a aeroportos, rodovias, portos, infraestrutura hídrica, parques e florestas, mobilidade urbana, saneamento e iluminação pública. Tudo para favorecer novas oportunidades de negócios, além de vantagens comerciais para empresas instaladas de norte a sul.

Saiba mais, a seguir, sobre o potencial da infraestrutura e da mineração sustentável do país.


Caminho sem volta

Caminhão da Fortescue Future Industries no Complexo Industrial e Portuário do Pecém: australiana vai investir 6 bilhões de dólares para montar sua planta de hidrogênio verde no local (Divulgação/Divulgação)

A demanda crescente por exportações no Brasil abre novas oportunidades de investimentos nos portos — como prova o primeiro hub de hidrogênio verde do país

Pelas contas da consultoria especializada em gestão empresarial Roland Berger, o Brasil poderá virar o maior exportador de hidrogênio verde do mundo. A empresa alemã calcula que os produtores brasileiros da versão sustentável do gás vão atingir uma receita anual de 150 bilhões de reais, em conjunto, a partir de 2050. Detalhe: 100 bilhões de reais desse montante deverão ser amealhados por meio de exportações.

De acordo com outra consultoria, a Grand View Research, o mercado global de hidrogênio verde está crescendo a um ritmo de quase 40% ao ano. Ela crava que, em 2030, o segmento deverá movimentar 60,5 bilhões de dólares — hoje são cerca de 3,2 bilhões de dólares.

Isso explica o enorme frisson provocado pelo primeiro hub de hidrogênio verde do Brasil. Em desenvolvimento no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, onde também está localizada a primeira Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do país, a novidade tem tudo para colocar o Brasil na dianteira do setor.

É onde a australiana Fortescue Future Industries, por exemplo, decidiu se instalar. A companhia anunciou que vai investir 6 bilhões de dólares para montar sua planta de hidrogênio verde no local. A EDP Brasil apresentou a dela, no mesmo hub, em janeiro deste ano — com capacidade para produzir 250 Nm3/h da versão sustentável do gás, custou 42 milhões de reais.

A variedade sustentável do gás — diferentemente da preta, da cinza e da marrom — é obtida sem qualquer emissão de carbono. Ela é um subproduto da eletrólise de fontes de energia limpas e renováveis, a exemplo da solar e da eólica. Pode ser usada em veículos movidos a célula de combustível e é uma alternativa para a produção de um tipo mais sustentável de querosene para a aviação.

De acordo com o estudo World Energy Transition, elaborado pela Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), o hidrogênio verde e seus derivados vão representar 12% do uso final de energia até 2050. Ao lado da eletricidade, vai responder por 63% do consumo final de energia, substituindo combustíveis altamente associados à emissão de carbono, a exemplo dos fósseis.

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ele virou um item estratégico para diversos países, principalmente aqueles determinados a aposentar matrizes energéticas mais nocivas ao meio ambiente. Na Alemanha e nos Estados Unidos, por exemplo, entre outras nações desenvolvidas, a versão sustentável do gás é tida como fundamental para a viabilização da descarbonização da economia mundial e para o cumprimento, em 2050, das metas impostas pelo Acordo de Paris.

O primeiro hub de hidrogênio verde do país dispõe de 1.000 hectares e está de portas abertas para outras empresas do setor interessadas em se instalar no local. Na visão da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a ApexBrasil, trata-se de uma das mais inovadoras iniciativas do segmento.

Não à toa, os projetos de expansão do Complexo Industrial e Portuário do Pecém foram incorporados ao portfólio de investimentos da ApexBrasil, que está apresentando as oportunidades em jogo para investidores brasileiros e estrangeiros. A entidade ressalta que o complexo também abre inúmeras possibilidades para empresas que exportam fertilizantes e materiais siderúrgicos, entre outros — vale, inclusive, para outros portos do país.

“Existem muitas oportunidades”, diz Carlos Padilla, coordenador de investimentos da ApexBrasil. “Destaco os que envolvem infraestrutura de energia, gás natural e renovável, como o projeto da planta de hidrogênio verde, que já conta com o interesse de diversos investidores internacionais e memorandos de entendimento formalizados entre empresas interessadas e a companhia administradora.”

O caso de sucesso alcançado pelo Complexo do Pecém na produção de hidrogênio verde se explica, em parte, pela localização. Ela facilita o acesso aos Estados Unidos, à Europa e ao Oriente Médio, o que diminui os custos logísticos e favorece preços mais competitivos. O hub dispõe de toda a infraestrutura necessária para produção da versão sustentável do gás, a exemplo de geradores eólicos on e offshore, painéis solares, linhas de transmissão de energia e espaço para armazenamento.

Já o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, se uniu à Toyo Setal para desenvolver uma planta de produção de fertilizantes nitrogenados no complexo. Ela terá capacidade para produzir 1,38 milhão de toneladas de ureia e 781.500 toneladas de amônia por ano a partir do aproveitamento do gás natural. “A parceria nos permite dar um passo adiante em nossa estratégia de estabelecer o Açu como um polo de produção de fertilizantes no Brasil, contribuindo para ampliar a produção nacional e balancear a nossa dependência à importação”, declarou José Firmo, CEO do complexo.


Hidrogênio verde: a versão sustentável do gás

• 150 bilhões de reais é quanto se calcula que os produtores brasileiros desse gás sustentável vão atingir em receita anual a partir de 2050

100 bilhões de reais — desse montante virão das exportações

60,5 bilhões de dólares — é o valor que o segmento de hidrogênio verde deverá movimentar em 2030. Hoje são cerca de 3,2 bilhões de dólares

40% — é quanto se acredita que o mercado global de hidrogênio verde crescerá ao ano

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