7 executivos que chegaram ao topo antes dos 40

São Paulo — Existe incompatibilidade entre a juventude e a responsabilidade de comandar um negócio? Segundo uma pesquisa da consultoria Mercer com 467 grandes e médias empresas brasileiras, não: em 12% delas, o presidente tem no máximo 40 anos. “O preconceito contra ter um executivo jovem na presidência vem diminuindo”, diz Marcelo Ferrari, diretor da Mercer. Esses profissionais dividem-se, basicamente, em dois grupos. Um é o dos empreendedores, frequentemente ligados às áreas de tecnologia ou internet, que lideram negócios que eles próprios criaram. O outro é o de profissionais nos quais acionistas de companhias mais tradicionais enxergaram, apesar da pouca idade, um bom equilíbrio entre a maturidade necessária ao cargo e a ousadia característica da juventude — mistura que, quando funciona bem, pode ajudar a revigorar os negócios. “Os executivos jovens, muitas vezes, não veem um cargo importante apenas como um emprego, mas como uma oportunidade de fazer a diferença na empresa”, diz Gustavo Tavares, diretor da consultoria Hay Group. Este ensaio apresenta as histórias de sete executivos e empreendedores que chegaram ao topo antes dos 40.

O paulistano Leonardo Byrro, de 35 anos, é um exemplo de jovem profissional que subiu rapidamente. Em pouco mais de uma década, ele passou de esta­giário a presidente. A carreira começou na fabricante de bebidas Ambev, como trainee, em 2002. Hoje, ele é o principal executivo da Cremer, fabricante de produtos hospitalares e de higiene com sede em Blumenau, em Santa Catarina, controlada pelo fundo de investimentos Tarpon. Desde 2013, quando se tornou o principal executivo da empresa, Byrro tem se concentrado na expansão dos negócios — sob sua gestão, a Cremer comprou dois concorrentes menores. No ano passado, as receitas chegaram a 182 milhões de dólares. “Apesar do pessimismo que há no mercado, acredito que poderemos fechar 2015 com crescimento”, afirma Byrro.

Às vezes, é possível unir juventude e experiência. É o caso de Rodrigo Galindo: aos 39 anos, ele passou três quartos da vida trabalhando em instituições de ensino superior. Seu primeiro emprego foi aos 13 anos, quando começou a cuidar das fotocopiadoras de uma das escolas da rede de faculdades que pertencia à sua família, no interior de Mato Grosso — o primeiro cargo de gerência veio aos 18, ao se tornar coordenador dos vestibulares da empresa. Em 2011, Galindo assumiu a presidência da Kroton Educacional, rede de ensino privado que, depois da fusão com a Anhanguera, no ano passado, se tornou o maior grupo de educação do mundo, com quase 1 milhão de alunos. “Tive de assumir muito cedo as responsabilidades de um gestor”, afirma Galindo. “E essa experiência foi fundamental para minha trajetória profissional até aqui.”

O publicitário Marcos Scaldelai, de 37 anos, tem a missão de comandar uma das empresas mais tradicionais do país. Desde 2013, ele é presidente da fabricante de produtos de limpeza Bombril. Seu desafio: garantir que o negócio, criado em 1948 e que desde então virou sinônimo de palha de aço, mantenha o pique para seguir adiante. Não é a primeira vez que Scaldelai está à frente de uma marca conhecida. De 1999 a 2008, ele trabalhou na subsidiária brasileira da fabricante de alimentos americana General Mills e lá foi o principal responsável pelo marketing do sorvete Häagen-Dazs no país. É o tipo de missão que nem sempre é fácil para alguém que ainda não completou 40 anos — na Bombril, segundo ele, houve momentos em que a juventude quase atrapalhou. “Tive de conquistar a confiança dos funcionários mais velhos e com mais tempo de casa”, diz Scaldelai.

O mineiro Alexandre Birman, de 38 anos, impõe a si mesmo uma rotina de viagens frequentes. Uma vez por semana, ele deixa os escritórios da Arezzo em São Paulo para passar o dia em Campo Bom, no interior do Rio Grande do Sul, onde a empresa concentra a fabricação dos calçados. “Gosto de circular e conversar com os funcionários”, afirma Birman. “Manter um relacionamento próximo com o pessoal acrescenta ao negócio um valor que não pode ser me­dido financeiramente.” A cada ano, ele faz pelo menos dez viagens internacionais, nas quais procura se atualizar sobre as tendências da moda. A dificuldade: conciliar as andanças constantes com o trabalho de gerir a companhia, fundada pelo pai e pelo tio 43 anos atrás. Alexandre assumiu a presidência da empresa em 2013. No ano passado, a receita da Arezzo cresceu quase 2%, para 316 milhões de dólares.

Aos 32 anos, o brasileiro Philipp Povel já empreendeu em dois continentes. Ele morava na Alemanha em 2009, quando criou o site MyBrands, uma loja virtual de roupas de grife. Um ano depois, a empresa foi comprada por uma das maiores varejistas online de moda da Europa, que tinha como acionista o fundo de investimentos alemão Rocket Internet. Povel encontrou, assim, o caminho para o comércio eletrônico brasileiro. Em 2011, o Rocket tornou-se o principal investidor da Dafiti, loja online de roupas e calçados aberta no Brasil por Povel mais três sócios — os alemães Malte Huffmann e Malte Horeyseck e o francês Thibaud Lecuyer. “Muita gente nos dizia que não daria certo, porque os brasileiros não compravam sapatos pela internet”, diz Povel. Se não compravam, muitos agora compram. Em 2014, o faturamento da Dafiti alcançou 532 milhões de reais. Falta chegar ao lucro.

O holandês Andries Oudshoorn, de 39 anos, chegou ao Brasil em 2011 com um objetivo: abrir um site de classificados online para ajudar as pessoas a comprar e a vender coisas usadas pela internet. Foi a origem do bomnegócio.com, que em três anos se tornou a segunda maior empresa desse mercado, desafiando a líder OLX, de origem argentina. Em 2014, as duas empresas se juntaram. “Estávamos competindo pelos mesmos clientes”, diz ele. O nome OLX foi mantido, e Oudshoorn recebeu a missão de chefiar a operação. A empresa estima fechar 25 000 negócios em média por dia. Os anúncios básicos são gratuitos, mas a OLX, que não revela o faturamento, ganha de quem topa pagar para que sua oferta apareça com mais destaque. “Nunca me preocupei em planejar a carreira”, diz Oudshoorn. “Sempre procurei fazer o que me motivasse profissionalmente.” Até agora deu certo.

Dizem que a ousadia é uma das características da juventude — o que parece ser verdade no caso do economista Luis Rezende, de 35 anos. Em 2008, ele acabara de ser contratado na Volvo Cars, importadora da marca sueca de automóveis, quando o então presidente, o sueco Anders Norinde, chamou-o para conversar. “Ele perguntou o que eu queria para o futuro”, diz Rezende. “Respondi que queria ocupar o lugar dele.” De fato, isso aconteceu: no ano passado, Rezende foi promovido à presidência da Volvo Cars no Brasil. Nos seis anos que se passaram entre a conversa com o ex-chefe e a escolha para ser o principal executivo, Rezende acompanhou o processo pelo qual a Volvo se tornou uma empresa independente — antes, ela era uma divisão da Ford. “O conhecimento que acumulei sobre a empresa foi decisivo para que eu assumisse o novo cargo”, diz ele.