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Stock traders negotiate in the iBovespa (Getty Images/MAURICIO LIMA/AFP)

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Até onde o Ibovespa pode subir: fatores que explicam o otimismo da bolsa

Bolsa teve maior sequência positiva desde março de 2022, quando Ibovespa ainda estava próximo de 120.000 pontos

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Até onde o Ibovespa pode subir: fatores que explicam o otimismo da bolsa

Bolsa teve maior sequência positiva desde março de 2022, quando Ibovespa ainda estava próximo de 120.000 pontos

Stock traders negotiate in the iBovespa (Getty Images/MAURICIO LIMA/AFP)

Por Guilherme Guilherme

Publicado em 18/05/2023, às 08:32.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:14.

Há espaço para mais?

O mercado brasileiro tem vivido dias de maior otimismo (ou menor pessimismo) desde o início de maio. Foram oito pregões de alta na bolsa de valores – a mais longa sequência positiva desde março de 2022, quando o Ibovespa ainda estava perto de 120.000 pontos. Atualmente, abaixo de 110.000 pontos, investidores ainda seguem cautelosos com os rumos do mercado, mas o pior dos cenários já dá indícios de estar ficando para trás.

Por trás da sequência de altas da bolsa brasileira esteve o gatilho do Banco Central, que emitiu um sinal mais "dovish" em seu comunicado de decisão de juros. Pela primeira vez, o Comitê de Política Monetária (Copom) admitiu haver um "cenário menos provável" de ter que voltar a subir juros. Ainda que velado, muitos economistas entenderam que um sinal de que o início do ciclo de cortes está próximo. A possibilidade desse início ser no segundo semestre já é vista com certa unanimidade no mercado.

Werner Roger, CEO e fundador da Trígono Capital, avalia que essa esperada queda de juros no próximo semestre será a grande propulsora da bolsa brasileira até o fim do ano. "O mercado se move por expectativa. Por isso, a crença de que a taxa de juros irá cair pode contribuir para algum movimento de alta. Um comunicado mais amigável do Copom já é o caminho."

A projeção de Victor Nadal, estrategista de pessoas físicas do Itaú BBA, é de que o Ibovespa termine o ano a 118.000 – cerca de 10,000 pontos acima do patamar atual. Em seus números também estão cortes de juros. "Numa avaliação, quando a taxa de desconto sobre o fluxo de caixa das empresas, as empresas passam a valer mais, o que valoriza as ações."

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central

Quando a taxa de juros vai cair?

Apesar da (quase) certeza de que a taxa de juros vai cair ainda neste ano, economistas não esperam um movimento muito intenso. Pelo consenso de mercado do boletim Focus, a taxa Selic deverá cair de 13,75% para 12,5% até o fim do ano, chegando a 10% no fim do ano que vem.

As projeções são as mesmas das adotadas em modelos do Itaú BBA. A previsão de cortes mais brandos, explicou Nadal, derivam da perspectiva de uma inflação mais forte no segundo trimestre. "A guerra da Rússia teve efeito muito relevante sobre a inflação do primeiro semestre de 2022. Esse efeito foi menor no segundo semestre, quando também houve a desoneração dos combustíveis. Se houver a reoneração, a inflação pode dar mais uma pernada", comentou.

Neste ano, os impostos federais sobre combustíveis foram reonerados, mas apenas parcialmente. O prazo para que a reoneração parcial encerre, voltando ao modelo integral, encerra no dia 30 de junho. Nas planilhas do mercado, economistas já trabalham com uma inflação acelerando no segundo semestre. Pelo Focus, a projeção é de IPCA a 6,03%, acima do nível atual de 4,18%.

Rodrigo Jolig, co-CEO e diretor de investimentos na Alphatree Capital, acredita que o momento ainda é de cautela na bolsa, mas prevê um ciclo de corte de juros mais intenso do que a média do mercado espera. "Na hora que o Banco Central começar a cortar os juros, o mercado deverá reduzir as projeções de Selic futura. Antes de o BC começar a subir, ninguém esperava Selic acima de 7% ou de 9%. O mercado subestimou o ciclo de alta e também deve estar subestimando o de cortes."

Presidente da Câmara, Arthur Lira, Presidente Lula e vice-presidente do Senado Vital do Rêgo em entrega do arcabouço fiscal

Discussão fiscal

Outra incógnita nas contas do mercado é a questão fiscal. Questões sobre como o governo conseguirá aumentar sua receita para cumprir as regras do novo arcabouço fiscal e próprio andamento do projeto no Congresso seguem na mesa. A notícia boa, para o mercado, é que poderia ser pior. Dada a maior desconfiança de investidores locais com o governo petista, a expectativa para o projeto era bastante pessimista. Mas o apresentado saiu melhor que o esperado. "Se fosse o Paulo Guedes [ex-ministro] que tivesse apresentado, o mercado estaria ainda mais otimista", afirmou o gestor de uma asset de mais de R$ 50 bilhões sob gestão quando o projeto era apenas um esboço daquele que chegou ao Congresso.

"A principal discussão do ano, sem dúvidas, é o novo arcabouço fiscal e como o governo vai fazer para conter o avanço da dívida publica", afirmou Victor Nadal. 

Com o projeto do arcabouço em tramitação na Câmara, investidores seguem atentos à possibilidade de o texto sofrer emendas. Entre as principais mudanças apresentadas pelo relator Cláudio Cajado (PP-BA) em relação à versão anterior está a previsão de penalidades administrativas, caso as regras não sejam punidas, e a redução das excepcionalidades à regra do arcabouço. Gastos associados ao salário mínimo e ao Bolsa Família, contudo, foram deixados de fora.

"O principal ponto é o quanto o arcabouço trará de segurança de que as regras serão seguidas. É preciso impedir que existam mais gastos, se o governo não conseguir cumprir as regras", comentou Nadal. O estrategista do Itaú BBA acredita que o caminho mais provável para o governo cumprir as regras será atacando os subsdídios fiscais. "Isso será bom para o país. Mas esse aperto fiscal não seria necessariamente bom para algumas empresas. Algumas delas podem perder de 30% a 35% de seus lucros."

Fed: Voláteis, expectativas do mercado apontam para corte mais profundo

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Exterior ajuda ou atrapalha?

A dinâmica da economia internacional também deve ter papl importante na direção da bolsa. Parte das esperanças de que a bolsa ainda tem espaço para subir vem da recuperação da economia da China, principal parceira comercial do Brasil.

"Há a expectativa de a China crescer entre 5% e 6% neste ano e isso é favorável para o mercado brasileiro. Boa parte de nossa economia está ligada a commodities, como commodities e minério de ferro. Com a China crescendo, aumenta a demanda por essas commodities", afirmou Werner Roger, da Trígono.

Victor Nadal também espera por uma contribuição da China. "Cada ponto percentual (p.p.) de crescimento do PIB da China puxa nosso PIB em 0,7 p.p.", afirmou. "É uma correlação muito forte."

Embora benéfica para toda a economia brasileira, a retomada chinesa tem efeitos ainda maiores sobre empresas de commodities, que são as maiores em representatividade no Ibovespa. Somente a Vale e a Petrobras, por exemplo, representam 25% de todo o Ibovespa. 

Por outro lado, a possibilidade de uma recessão mais dura nos Estados Unidos ainda é vista como uma ameça. "Isso traria uma grande preocupação para a bolsa brasileira, assim como um crescimento abaixo do esperado na China", comentou Nadal.

O que tem ajudado a aliviar esses temores são as expectativas de que o Federal Reserve (Fed) já encerrou o ciclo de alta de juros e que deverá começar a cortar sua taxa ainda neste ano. Só que embora veja a baixa chance de uma mais dura nos nos Estados Unidos, o Itaú BBA tampouco acredita que o Federal Reserve começará a cortar juros neste ano, como vem sendo precificado nas curvas de juros americanas.

Para Rodrigo Jolig, da Alphatree, o Fed só deverá antecipar os cortes de juros, com uma eventual piora da crise financeira americana. "Aí o Fed poderia cortar juros até antes do Brasil, mas certamente não seria um cenário positivo para ativos de risco, incluindo a bolsa brasileira."

Maço de notas de dólar

Como fica o dólar?

É verdade que os últimos dias de bom humor no mercado brasileiro também foram benéficos para o câmbio – considerado o principal termômetro de apetite a risco de um país. Foram cinco pregões de queda do dólar frente ao real, com a moeda americana chegando a fechar abaixo de R$ 4,90 pela primeira vez desde junho do ano passado. 

Além dos fatores internos, apostas de que o Fed interrompa o ciclo de alta de juros contribuíram com o a queda do dólar.A esse fator, o economista André Perfeito adicionou outros dois que explicam a desvalorização recente da moeda americana frente ao real: a balança comercial brasileira amplamente positiva de US$ 26,24 bilhões em 2023 e a perspectiva de aprovação do arcabouço fiscal.

"Se rompermos o patamar dos R$ 4,90 o próximo ponto óbvio é o R$ 4,80-R$ 4,76 e depois disso por volta de R$ 4,60. Podemos muito bem querer testar este patamar em especial se o Arcabouço Fiscal for aprovado", disse em nota.

Perfeito, contudo, pontua que essa queda do dólar pode perder força quando o Banco Central passar a cortar a taxa de juros. "Está depreciação não será forte uma vez que a economia brasileira terá ganho “momento”, mas deve fazer o dólar voltar ao patamar de R$ 5,00 ao final do ano."

"Lá por volta de outubro seis vai ser ligeiramente diferente de meia dúzia, por assim dizer, e o diferencial de juros pode ganhar mais relevância que agora uma vez que a bolsa pode ter se recuperado mais fortemente ou porque o dólar pode se recuperar em parte depois de passada a acomodação dos juros nos Estados Unidos", disse Perfeito.

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