O que o primeiro milhão da filha de Viih Tube pode nos ensinar sobre educação financeira de crianças
À EXAME, professora da FGV explica como pais que não são milionários como a famosa também podem fazer um pé de meia para os filhos
Repórter
Publicado em 18 de outubro de 2023 às 10h04.
Última atualização em 20 de outubro de 2023 às 20h19.
No início da semana, a influenciadora Viih Tube revelou como tem administrado o dinheiro de sua filha, Lua. Com apenas seis meses de idade, o bebê já brilhou em várias campanhas, como da Pampers, Natura e Beep Saúde. Além disso, a pequena é garota-propaganta de sua própria marca, a BabyTube. "Já estou guardando todo o dinheiro dela [Lua], de tudo o que ela faz. Ela tem uma conta. É poupança ainda, porque ela não pode abrir sozinha. Quando ela tiver discernimento, vai saber que existe aquele dinheiro ali", contou durante participação no podcast PodPah.
Mas o processo para que uma criança participe de peças publicitárias não é simples. Depois da repercussão, Viih explicou que um bebê só pode participar de uma propaganda após passar por um processo jurídico, que inclui a criação de uma conta bancária no nome da criança. Ela também revelou o montante que já foi adquirido por Lua: R$ 1 milhão. "Vou ter de ter uma educação financeira para a minha filha, ela já vai nascer com muitos privilégios. Isso me preocupa e me conforta", afirmou nas redes sociais.
Gisele Galilea, professora de contabilidade e finanças da FGV, concorda com o posicionamento de Viih. Aprender a lidar com o dinheiro é importante, seja para quem tem R$ 1 milhão na conta, seja para quem pode juntar apenas um pouquinho por vez. "Temos pesquisas [algumas delas realizadas pelo SPC Brasil] que mostram que muitos brasileiros não possuem controle algum sobre seu dinheiro. A abertura de uma conta bancária para uma criança ou adolescente é uma oportunidade de trabalhar com a educação financeira familiar. Delegar a eles a gestão da renda, recebida por exemplo na forma de mesada, contribui para o desenvolvimento da responsabilidade para lidar com dinheiro e mitigar essa realidade no Brasil", afirma.
Como criar uma conta para uma criança?
Menores de 16 anos podem ter uma conta em seu nome, inclusive sendo titular dela, mediante consentimento dos pais ou tutor. "Os bancos em geral solicitam os dados do responsável e da criança ou adolescente, sendo esse responsável capaz de gerenciar a conta. Ou seja, ele possui controle sobre a movimentação financeira da criança ou adolescente", explica Gisele.
Essas contas possuem funções tradicionais, incluindo Pix e cartão com função de débito, mas geralmente não permitem a contratação de cartão de crédito ou empréstimo, por exemplo. Alguns bancos até podem oferecem a opção de crédito, mas na modalidade pré-paga.
Quais os melhores investimentos para uma criança?
Há bancos que também oferecem a possibilidade de investimentos em renda fixa, como CBDs, LCI, LCA e poupança, ou em alguns tipos de fundos. "Aqui temos a conta como uma forma criar uma reserva financeira para a criança ou adolescente e também a possibilidade de ensina-los a ter controle sobre do próprio dinheiro. Inclusive alguns bancos oferecem acesso a conteúdo educativo, além de desafios que recompensam a criança ou adolescente e incentivam o aprendizado financeiro", afirma a especialista.
Um bom caminho é a diversificação -- não investir todo o dinheiro em um único ativo, tornando-se suscetível a perdas. A sugestão é fazer aplicações em renda fixa e em renda variável com o intuito de diminuir os riscos.
"É claro que diversificar a carteira investindo em, por exemplo, ações, fundos imobiliários, fundos multimercados, demandará algum tempo e conhecimento. Assim, quando os pais não possuem esse tempo, uma alternativa é fazer parte de um fundo de investimento onde um gestor profissional será responsável pela busca das melhores alternativas do grupo que compõe aquele fundo", afirma.
Agora, se você está em dúvida entre a poupança ou o Tesouro Direto, Gisele afirma que a segunda é uma boa alternativa quando se pensa no futuro -- e os riscos, apesar de existirem, são baixos. "Há títulos do Tesouro prefixados e pós-fixados. No primeiro caso, o investidor sabe exatamente quanto vai retirar ao final do prazo. No segundo, o investidor só sabe o quanto teve de rendimento depois que o título vence ou quando o dinheiro for resgatado "De qualquer maneira, ambos são alternativas mais interessantes se comparados à poupança, porque os rendimentos não perdem para a inflação", explica.
Vale lembrar que não importa o valor colocado no porquinho, mas sim o planejamento e a constância. Afinal, é claro que juntar R$ 1 milhão em apenas seis meses é impensável para a esmagadora maioria dos brasileiros. A ideia aqui não é criar bebês milionários como Lua, mas filhos com conforto financeiro no futuro, com um pé de meia para fazer uma faculdade ou quem sabe dar a entrada em uma casa própria. Por isso, o foco de um investimento precisa ser o longo prazo.