Paul Mescal plays Lucius in Gladiator II from Paramount Pictures.
Publicado em 23 de novembro de 2024 às 10h00.
Engana-se quem pensa que todas as cenas mostradas no filme "Gladiador 2" são fictícias. Até mesmo um dos atores principais, o irlandês Paul Mescal, se surpreendeu ao descobrir que nem tudo era mentira.
Para o segundo filme da saga, o diretor Ridley Scott criou uma série de cenas épicas, incluindo gladiadores enfrentando babuínos criados por computação gráfica e Mescal lidando com um rinoceronte em pleno Coliseu. Tudo isso confundiu a cabeça do ator (e dos espectadores).
"Todas as coisas que vemos no filme, como inundar o Coliseu, animais selvagens, todas essas coisas, quando eu li o roteiro pela primeira vez, pensei que fosse fictício, mas depois de pesquisar, percebi que tudo isso aconteceu de fato", disse Mescal à CNN.
A sequência mais intrigante do filme (e que gerou dúvidas) envolve o Coliseu transformado em um lago, onde gladiadores lutam em barcos cercados por tubarões. Mas será que isso realmente aconteceu?
Os “Naumachias” eram espetáculos romanos que recriavam batalhas navais, geralmente em grandes reservatórios de água ou anfiteatros inundados. Segundo o historiador Chris Epplett, em entrevista à Variety, essas recriações chegaram ao Coliseu, especialmente no reinado de imperadores como Domiciano, em 85 d.C. Mas a existência dos tubarões, como mostrados no filme, é bastante improvável.
O espetáculo de batalha naval começou ainda antes da construção do Coliseu, com registros da primeira naumachia em 46 a.C., organizada por Júlio César. Já no Coliseu, antes de ser construído um subsolo permanente, acredita-se que o piso poderia ser inundado para exibições aquáticas.
Ao ser questionado sobre a presença de tubarões no coliseu, Scott afirmou à Variety: “Se você pode construir o Coliseu, pode pegar alguns tubarões e jogá-los lá. É simples.”
Ainda que “Gladiador 2” exagere na ficção, a recriação das naumachias é um elemento real da história romana. Essas batalhas, no entanto, eram marcadas por prisioneiros enfrentando soldados, com resultados sangrentos que entretinham o público e destacavam o poder do Império Romano.
No final, Scott mais uma vez mistura fatos históricos com liberdade criativa para produzir as cenas do filme, deixando os espectadores entre o fascínio e a curiosidade sobre o que realmente aconteceu na Roma antiga.
O filme também reimagina figuras reais, como o jovem Lucius, retratado como filho do protagonista Maximus.
Historicamente, Lucius Verus II era filho de Lucilla e Lúcio Vero, co-imperador de Marco Aurélio. Ele morreu ainda jovem, antes dos eventos narrados no primeiro Gladiador, e sua conexão com Maximus é puramente fictícia.
No campo político, o longa aborda os imperadores Geta e Caracalla como co-governantes após a morte de seu pai, Septímio Severo. Embora esse ponto esteja correto, a relação entre os dois foi marcada por rivalidades intensas, que culminaram com o assassinato de Geta, ordenado por Caracalla. O filme explora esses conflitos, mas os dramatiza para efeitos narrativos.
Por fim, o personagem Macrinus, interpretado por Denzel Washington, se baseia em uma figura histórica real. Macrinus foi prefeito pretoriano e tornou-se imperador após a morte de Caracalla. Contudo, a ligação com Marco Aurélio e o treinamento de gladiadores são acréscimos ficcionais, sem fundamento histórico.