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Tem uma startup? Conheça o venture debt, novidade em financiamento no país

Título de dívida oferece juros mais uma parcela variável de acordo com a valorização da empresa; fundadores não precisam entregar participação no negócio

Escritório do Buscapé em São Paulo: grupo formado após a aquisição pelo Zoom foi um dos pioneiros no uso de venture debt no Brasil (Karin Salomão/Exame)

Escritório do Buscapé em São Paulo: grupo formado após a aquisição pelo Zoom foi um dos pioneiros no uso de venture debt no Brasil (Karin Salomão/Exame)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 29 de junho de 2020 às 00h21.

Última atualização em 29 de junho de 2020 às 14h41.

Durante muitos anos, não faltou às startups dinheiro para crescer. Em um mundo de juros baixíssimos, os investidores procuravam avidamente por negócios inovadores de grande potencial. Mas a pandemia do novo coronavírus está mudando esse ecossistema, e deve ficar mais difícil para os empreendedores conseguir recursos. Na busca por fontes alternativas de financiamento, tem crescido o interesse por uma modalidade ainda pouco conhecida no Brasil: o venture debt, que dá um pouco mais de segurança para quem injeta o capital e tem um custo menor para quem recebe.

O venture debt é um tipo de título de dívida. Oferece ao credor uma combinação de remuneração fixa, na forma de juros, e variável – como um percentual sobre a valorização posterior do negócio. Por geralmente não ter muitos ativos, a startup pode colocar como garantia propriedade intelectual, direitos de marca ou ações da companhia, por exemplo.

Usado nos Estados Unidos desde a década de 1970, só agora o venture debt está chamando a atenção dos empreendedores brasileiros. Transações de vulto começaram a ser fechadas no país no ano passado. A redução da taxa básica de juros Selic para 2,25% ao ano, o menor patamar da história, também está forçando os investidores a procurar aplicações mais rentáveis. O venture debt é considerado de alto risco pelos credores, já que envolve empresas com histórico de operação curto ou inexistente, que podem nunca decolar de verdade. Porém, o retorno esperado fica entre 10% e 25% ao ano.

Segundo o boostLAB, hub de negócios de tecnologia do banco BTG Pactual (controlado pelos mesmos sócios da EXAME), e a consultoria de inovação ACE Cortex, o mercado nacional de venture debt tem potencial de crescer e se tornar, como o americano, equivalente a 10% ou 15% do de venture capital. Em 2019, os investimentos em startups brasileiras na forma de venture capital somaram 2,7 bilhões de dólares, 80% mais do que em 2018, de acordo com levantamento do grupo de inovação Distrito.

“Para o empreendedor, a maior vantagem do venture debt é não precisar entregar ao investidor uma participação grande na empresa, como acontece no caso do venture capital”, diz Frederico Pompeu, sócio do BTG Pactual responsável pelo boostLAB.

Com o venture debt, a startup pode conseguir, em média, de 20% a 35% do montante obtido na rodada imediatamente anterior de captação. Cada operação é personalizada para o caso daquele negócio específico. O venture debt deve ser empregado para equilibrar as fontes de financiamento da empresa entre dívida e participação no capital. Pode servir também de proteção em momentos de turbulência econômica, preservando os recursos em caixa destinados à expansão das operações. Nos Estados Unidos, em cerca de 90% das operações, o dinheiro obtido por meio de venture debt é empregado para acelerar o crescimento da companhia e impulsionar a sua valorização antes de mais uma rodada de captação tradicional.

A maior desvantagem do venture debt é criar uma despesa fixa no orçamento da empresa – os juros pagos aos credores. Além disso, caso a startup não consiga quitar a dívida no prazo, as garantias podem ser executadas.

Entre as grandes empresas internacionais que já lançaram mão do venture debt, estão o buscador Google, a rede social Facebook e a fabricante de carne vegetal Beyond Meat. No Brasil, o grupo de varejo online Zoom/Buscapé é um exemplo. "Das companhias de tecnologia, as do ramo de comércio eletrônico estão entre as que vêm recebendo mais atenção dos investidores", afirma João Sá, diretor do boostLAB.

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