Rafael Olmos e Marcelo Lombardo, da Omie: a startup atende 25 mil pequenas e médias empresas por meio de 15 mil escritórios de contabilidade (Omiexperience/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 8 de agosto de 2019 às 06h00.
Última atualização em 9 de agosto de 2019 às 15h12.
A disputa pelos vai e vens financeiros das pequenas e médias empresas brasileiras é acirrada -- e acabou de esquentar um pouco mais. Após acumular mais de 100 milhões de reais em aportes de fundos de investimento, a startup de software de gestão para pequenas e médias empresas Omie lançará hoje sua conta digital às PMEs, a Omie.Cash.
O objetivo é atender negócios com faturamento anual entre um milhão e 15 milhões de reais. Segundo estimativa da startup, nove a cada dez desses negócios não usam software algum. Hoje, a Omie atende 25 mil pequenas e médias empresas por meio de 15 mil escritórios de contabilidade. A conta digital começará no dia 12 de agosto, atendendo cinco mil clientes.
“A ideia surgiu do nosso dia a dia com o cliente. Vimos que elas passam por jornadas longas e pagando altas tarifas para serviços básicos, como abrir uma conta ou emitir um boleto”, afirma Marcelo Lombardo, cofundador da Omie. Ele próprio conta que levou três meses para abrir uma conta pessoa jurídica para a startup.
A conta digital da Omie será nativa ao seu sistema de gestão. Isso significa que não será preciso integrar o software a outros bancos, eliminando a importação de informações e checagem nas duas fontes -- a chamada “conciliação bancária”. “Não só reduzimos erros, mas poupamos o tempo da equipe financeira da pequena e média empresa e do seu contador”, diz Lombardo. A emissão de um boleto, por exemplo, cai automaticamente no sistema e é repassada ao contador.
A Omie também terá um custo zero de manutenção de conta para pessoa jurídica -- o gasto médio vai de 80 a 200 reais mensais para um pequeno e médio empresário, segundo a própria startup. A emissão de boleto custará 1,89, conta uma média de 4 a 10 reais também estimada pela Omie. Caso a PME já esteja emitindo notas fiscais pela Omie, a conta digital poderá ser aberta em 10 minutos. Haverá serviços como emitir notas e boletos, DOCs, TEDs, pagar contas e ter cartões de débito e crédito.
“A conta digital eleva a plataforma para um outro patamar. Tem empresa que passa por dificuldades e pondera se irá investir na nossa mensalidade, que é de cerca de 300 reais. Agora, o que ele economiza na emissão dos boleto já pode convencer”, afirma Lombardo. A Omie é uma correspondente bancária. A instituição financeira por trás desses serviços é o SmartBank.
Não é a primeira vez que a Omie se une a uma instituição financeira para fornecer serviços financeiros. O negócio já pratica a antecipação de recebíveis há três anos com fintechs parceiras.
Outra novidade que será anunciada hoje é uma "construtora de empresas" própria, a Omie.Ventures. A company builder já investiu em duas startups -- a ConferIR, que acompanha os IRPFs preenchidos pelo contador, e a GClick, que faz gestão de processos em escritórios de contabilidade.
O objetivo é encontrar startups em estágio inicial que tenham serviços complementares e apresentá-las aos contadores e pequenos e médios empreendedores que já usam o software de gestão. As startups ganham clientes e a Omie oferta mais serviços para fidelizar seus usuários. O plano é investir em duas ou três startups por semestre, com aportes pré-semente de 500 mil a um milhão de reais.
Criada pelos empreendedores Rafael Olmos e Marcelo Lombardo em 2013, a Omie aposta em educação, inteligência artificial, facilidade de uso e serviços agregados para se diferenciar de outros softwares de gestão para pequenas e médias empresas. A conta digital e o impulsionamento de startups são suas mais novas adições. Essa estratégia de “plugar” diversos recursos em uma mesma plataforma já é vista em outras startups maduras, como a empresa de automação demarketing digital catarinense Resultados Digitais.
Tanto o marketing digital quanto o atendimento para PMEs são mercados pulverizados, com diversas empresas cuidando de uma parte da cadeia. O Brasil tem mais de 19 milhões de negócios ativos e as pequenas e médias representam mais de um quarto do produto interno bruto do país.
Lombardo afirma ter mapeado 140 concorrentes que oferecem soluções que se enquadrariam na faixa atendida pelo plano gratuito da Omie. Ele descarta que sua maior competição seja a startup ContaAzul, que também chega às pequenas empresas por meio de contadores e já recebeu 145 milhões de reais em investimentos pela cotação atual. “Nosso primeiro concorrente é o papel. O segundo competidor é o Excel”, afirmou anteriormente a EXAME. A Omie já recebe empresas que faturam acima de 30 a 40 milhões de reais, o que poderia significar a concorrência com provedoras de software enfrentadas antes pela NewAge, como SAP e TOTVS.
Não faltam concorrentes para a Omie -- mas também não faltam dificuldades das pequenas e médias empresas a serem solucionadas.