Cesar Pino, Maite Muniz, Daniel Bilbao e David Cuadrado: os fundadores da Truora já idealizaram a empresa como multinacional (Truora/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 9 de dezembro de 2019 às 12h20.
Última atualização em 9 de dezembro de 2019 às 14h34.
A Truora, startup colombiana, nasceu com uma missão ambiciosa: ser a principal solução contra fraudes na América Latina. A empresa foi criada em julho de 2018 e já realizou mais de um milhão de checagens de antecedentes. Há três meses, iniciou sua operação no Brasil e já conquistou clientes de peso, como Rappi e Cabify.
A startup consegue fornecer relatórios com históricos criminais, jurídicos, de trânsito e de identidade sobre uma pessoa em 30 segundos. O serviço é útil para empresas que precisam proteger serviços financeiros, que contratam muitas pessoas de uma só vez ou que trabalham com economia compartilhada e precisam checar os indivíduos que querem oferecer serviços ou produtos em seus marketplaces.
O processo de cadastramento de novos contratados e clientes é todo digital. Por meio de um software de reconhecimento ótico, a empresa consegue verificar se a foto da carteira de identidade submetida é mesmo da pessoa que está usando a plataforma, por exemplo.
A Truora foi fundada por quatro sócios, Daniel Bilbao, Cesar Pino e David Cuadrado, colombianos, e Maite Muniz, mexicana. Bilbao, que preside a startup, trabalha nos Estados Unidos desde 2013. Antes da Truora, o engenheiro elétrico trabalhou em um banco de investimento, em uma startup de venda de carros usados e fundou uma empresa de cibersegurança. Ainda assim, estava inquieto procurando uma oportunidade de criar um negócio de impacto.
A ideia de trabalhar com checagem de antecedentes lhe ocorreu há cinco anos atrás, quando conheceu uma startup que estava revolucionando esse mercado dos Estados Unidos, a Checkr, avaliada em 2,2 bilhões de dólares. Em uma conversa com o presidente da companhia, ele descobriu que a empresa não tinha interesse em entrar na América Latina, por considerar a região complexa e fragmentada.
O projeto de fornecer uma solução contra fraude para países latinos só foi retomado em 2018, quando os co-fundadores Cesar Pino e David Cuadrado, que, na época, lideravam a área de engenharia da empresa de comunicação em nuvem Twilio, apresentaram a Daniel um software que fazia verificações de histórico jurídico.
Juntos, os três perceberam o potencial do negócio para empresas da América Latina e buscaram pessoas especializadas em negócios para os ajudar a fundar a empresa. Foi aí que economista Maite Muniz, que era consultora na McKinsey, se uniu ao grupo.
Desde o princípio, os fundadores sabiam que queriam ter uma empresa multinacional. “Nós percebemos que a diferença entre alguém do Texas e de Nova York é maior que a de alguém do México, da Argentina e do Brasil. Em vez de trabalhar em regiões específicas, nós podemos trabalhar nos ‘Estados Unidos da América Latina’ e aplicar o aprendizado para todos os nossos clientes”, afirma Bilbao.
Para os grandes marketplaces, como Cabify e Rappi, ter um único parceiro que ofereça a mesma solução para todos os países torna a operação mais simples, de acordo com os sócios.
As operações da Truora começaram na Colômbia, em julho do ano passado, e depois seguiram para o México. No primeiro semestre de 2019, a plataforma chegou ao Chile e ao Peru, desembarcando no Brasil no último trimestre do ano. A startup já está trabalhando para expandir-se para Costa Rica, Equador e Panamá.
A ideia dos fundadores é ser para a região o que é a Checkr é para o mercado norte-americano. Ainda há muito caminho a ser percorrido, mas a Truora tem conquistando investidores. A startup recebeu em 2019 um aporte de 3,3 milhões de dólares dos fundos Kaszek Ventures (Nubank, Gympass, Loggi e QuintoAndar), Accel Partners e YCombinator.
Entrar no Brasil era uma prioridade para os sócios. “Não só porque é o maior país da América Latina, mas porque há muito interesse no país em usar tecnologia para resolver problemas”, conta Bilbao.
Os problemas com fraude no Brasil também são numerosos, o que faz a solução da Truora ser pertinente para o mercado local. Em 2018, como indica a Pesquisa Global 2019 de Fraude e Identidade da Serasa Experian, 72% das empresas brasileiras aumentaram seus prejuízos financeiros por causa de fraudes.
Para as companhias, ter uma plataforma segura e verificada também é positivo para conquistar a confiança dos consumidores. A mesma pesquisa da Serasa indicou que a segurança é o item o mais importante em uma experiência online com uma marca para 86% dos brasileiros. Depois, eles prezam por conveniência (10%) e personalização (6%) dos serviços.
Para conduzir a operação no Brasil, a startup trouxe Bruno Cecatto, que era diretor de pequenos negócios na Uber, para o time. O diretor de operações conta que o principal desafio do mercado brasileiro para a Truora é a falta de organização dos dados públicos. “Os Tribunais de Justiça têm diferentes sistemas de acesso em cada estado do Brasil, o que torna mais difícil para um produto conseguir mapear tudo”, exemplifica.
Cecatto também conta que os diferentes documentos de identificação pessoal do país, como Carteira Nacional de Habilitação (CNH), carteira de identidade e CPF, dificultam a operação, porque a empresa precisa rodar várias verificações distintas em diferentes plataformas para analisar uma mesma pessoa.
“De um ponto de vista de complexidade de agregar dados, os países da América Latina têm um nível de dificuldade cinco, enquanto o Brasil seria nota oito”, diz Daniel Bilbao.
Apesar das dificuldades, o mercado brasileiro tem sido receptivo à chegada da startup. Bilbao afirma que em pouco mais de três meses, a empresa já conquistou grandes organizações financeiras e marketplaces como clientes. “Nossos clientes em outros países da América Latina, como a Rappi, foram os primeiros a nos pedir para entrar no Brasil”, diz Bilbao.
Dos 65 funcionários que a startup emprega, 25 são engenheiros dedicados exclusivamente à operação da Truora no Brasil. Até o final do ano, a meta é ampliar o time de engenharia do Brasil em dez pessoas.
Nos cinco países em que atua, a Truora tem mais de 100 clientes hoje. Em 2019, em relação ao ano anterior, a empresa aumentou seu faturamento em 10 vezes. Para 2020, o plano dos fundadores é quadruplicar o faturamento.
Em relação ao Brasil, Bilbao é ambicioso. O presidente quer que a startup se consolide no próximo ano como a principal solução para checagem de antecedentes no país. A empresa precisará enfrentar fortes competidores por aqui, como a ClearSale.
“Nós temos acordos com governos para ter acesso a informações chave, somos uma empresa de tecnologia focada em ter o melhor produto possível e temos estrutura para cobrir toda a América Latina, então podemos aplicar nossos aprendizados em outros mercados para o Brasil”, diz Bilbao.
Tanto Bilbao quanto Cecatto acreditam que o principal competidor da Truora agora é a “velha maneira de fazer as coisas”, com empresas de segurança que demoram mais de uma semana em uma análise e podem cobrar de 50 a 100 dólares por serviço.
Na startup, o preço varia de acordo com o volume de checagens mensais, o número de bases consultadas e a quantidade de tecnologia envolvida. Para empresas que usam muito o serviço, uma checagem de antecedentes pode custar menos de cinco dólares.
“Temos uma grande oportunidade, sou orgulhoso do time que construímos e de quão sólida nossa tecnologia é, então vamos perseguir a missão de erradicar fraude na América Latina, porque acreditamos que podemos ter um impacto genuíno no ecossistema”, diz o presidente.