Startup brasileira compra seu imóvel usado em um mês
A Key Cash, inspirada em um unicórnio americano, ataca um mercado de 35 a 40 bilhões de reais apenas na cidade de São Paulo
Mariana Fonseca
Publicado em 20 de outubro de 2018 às 08h00.
Última atualização em 20 de outubro de 2018 às 08h00.
São Paulo - Mesmo com empresas inovadoras transformando diversos setores da economia, vender um imóvel continua sendo uma tarefa complexa. Pode levar meses para anunciar sua residência, receber interessados, negociar preços, arrumar a documentação e finalmente entregar as chaves.
Uma nova startup mira justamente aqueles que podem abrir mão de uma super valorização em troca do peso tirado dos ombros: a Key Cash, que promete comprar seu imóvel usado em um mês.
Por trás do empreendimento paulistano estão empresários com experiência em empresas de tecnologia, investidores como o ator-celebridade Ashton Kutcher e 25 milhões de dólares só para começar o negócio.
Histórico
Por trás da Key Cash estão os sócios Caio Sarhan (diretor financeiro), Clarissa Vieira (diretora de tecnologia) e Paulo Humberg (diretor executivo). Estudando o mercado de imóveis, eles perceberam como a compra e a venda de residências usadas são processos burocráticos há décadas. Pesquisas de mercado da startup estimam que esse mercado é o dobro do de imóveis de primeira mão e que fique entre 35 e 40 bilhões de dólares apenas na cidade de São Paulo.
Há várias startups mudando a forma de construir e alugar, mas a inovação não chegou de forma suficiente na comercialização desses usados, afirma Humberg, que trabalha há 20 anos no mercado de tecnologia e hoje preside também a gestora de fundos que aportam em startups A5 Investimentos. Para ele, o mercado de imóveis secundários está pulverizado nas cerca de cinco mil pequenas imobiliárias espalhadas pelo Brasil e nos portais Mercado Livre, OLX e Zap Imóveis, que deixam o trabalho burocrático na mão do usuário. As imobiliárias grandes, enquanto isso, olham mais para os imóveis novos.
A principal inspiração da Key Cash é a startup Opendoor, do Vale do Silício (Estados Unidos). O negócio procura imóveis usados à venda e se encarregada de revendê-los, cobrando uma comissão de 6,5%. A Opendoor já recebeu um bilhão de dólares em investimentos de fundos como o Vision, do SoftBank, e é avaliada em mais de dois bilhões de dólares, o que a torna um unicórnio (startups avaliadas em um bilhão de dólares ou mais).
Como funciona?
Assim como na Opendoor, os principais clientes da Key Cash são consumidores que querem vender seu imóvel usado depressa, sem pensar tanto no seu múltiplo de ganhos. Para isso, a Key Cash defende uma comercialização baseada integralmente em dados.
Após um cadastro simples, o dono da residência receberá em até 48 horas uma proposta de valor de venda do imóvel. Para definir o preço, o algoritmo dotado de inteligência e machine learning da Key Cash, em desenvolvimento há 18 meses, analisa 45 grupos de variáveis para dar um preço “justo” ao imóvel, considerando itens como metragem, trânsito e violência. Caso o usuário aceite a proposta, a Key Cash faz uma vistoria no imóvel e organiza a documentação. Todo o processo deve demorar, no máximo, 30 dias.
Depois que o usuário recebe o dinheiro acordado, é a vez da Key Cash fazer algumas reformas necessárias, como pinturas e troca de fiação, e vendê-lo com alguma margem. O principal desafio da startup é justamente a demora entre o pagamento do usuário e o seu pagamento - o famoso capital de giro. Por isso, o negócio captou no primeiro semestre 25 milhões de dólares para financiar as primeiras aquisições. Por trás do dinheiro estão fundos como o Sound Ventures, que tem como sócio o ator Ashton Kutcher.
No momento, a startup opera apenas em bairros da cidade de São Paulo selecionados para o piloto, como Jardins, Higienópolis e Pinheiros. Com 20 dias de funcionamento, a Key Cash já adquiriu propriedades e está reformando-as para a revenda.
A Key Cash espera deter 5% do mercado de imóveis usados em São Paulo nos próximos cinco anos. Para 2019, irá captar outros 50 milhões de dólares de capital de giro. Outro plano é, claro, alcançar o azul.
“Temos de garantir investimentos, mas esperamos um retorno rápido praticando um preço justo de aquisição. Nosso negócio tem de ganhar dinheiro sempre, para garantir saúde e o futuro da inovação. E no Brasil, onde o custo de capital é alto, ser responsável com o dinheiro dos nossos investidores é regra. Não somos China ou Estados Unidos”, diz Humberg.
De investidor para investidor, a Key Cash tem todo o histórico necessário para colher bons frutos financeiros.