Quem é a Peloton, Netflix do exercício que irá à bolsa de valores
Startup que une bicicletas e esteiras em casa às assinatura de conteúdos fitness entregou documentação confidencial para seu IPO
Mariana Fonseca
Publicado em 8 de junho de 2019 às 10h25.
Última atualização em 10 de junho de 2019 às 09h57.
A startup novaiorquina Pelotonresolveu trazer para o século XXI o hábito antigo de assistir a aulas de exercícios pela televisão. Para isso, uniu bicicletas e esteiras a telas com aulas streamadas de fitness, no maior estilo Netflix.Agora, fará como sua inspiração do entretenimento e levará seu negócio ao mercado acionário.
A Peloton anunciou nesta semana a entrega de documentação confidencial para sua oferta pública inicial de ações, ou IPO . O documento está com a Securities and Exchange Comission, espécie de Comissão de Valores Mobiliários americana. Ainda não está definida a quantidade de ações que serão vendidas ou seu preço unitário.
A união da academia com a Netflix
No começo da Peloton, poucos investidores entendiam os benefícios de combinar a venda de hardware (o próprio equipamento de academia) com software (o streaming das aulas). Cinco anos de vendas e 400 mil bikes depois, o negócio cresce a passos cada vez mais largos.
No último ano, dobrou sua base de clientes na comparação com 2017. A empresa afirmou em fevereiro deste ano que estava no caminho para alcançar uma receita de 700 milhões de dólares no ano fiscal fechado naquele mesmo mês, contra 370 milhões de dólares vistos no ano fiscal anterior.
Os usuários da Peloton pagam tanto pelo equipamento em si – uma bicicleta sai por 2,2 mil dólares, ou 8,7 mil reais, enquanto uma esteira sai pelo dobro – quanto pelas aulas com mensalidade de 39 dólares (cerca de 150 reais). Há 8.500 vídeos nos arquivos da Peloton, que transmite 12 aulas por dia na tela de 22 polegadas dos equipamentos. Quem perdeu uma instrução pode acessá-la novamente, já que elas ficam armazenadas no próprio aparelho.
O custo ao consumidor final é alto e a falta de alguém acompanhando pode ser assustadora, mas a startup divulga uma taxa de retenção de 96% de seus usuários e afirma que seus clientes usam as bicicletas 13 vezes por mês.
Atualmente, a ideia já conquistou quase um milhão de dólares em investimentos e é avaliada em 4,15 bilhões de dólares. O último investimento, realizado em agosto do ano passado, foi o maior de todos. Fundos como TCV (investidor nos negócios Facebook, LinkedIn, Netflix e Spotify, por exemplo) e Tiger Global Management (negócios como Facebook e LinkedIn; no Brasil, 99 e Peixe Urbano) investiram 550 milhões de dólares na Peloton.
Obstáculos pela trilha
Ainda que o dinheiro venha rapidamente, a corrida da Peloton para o IPO parece mais uma trilha – obstáculos a toda hora.
O primeiro deles é a concorrência. Os maiores competidores da Peloton são as startups Mirror, outra novaiorquina que faz o streaming de aulas por meio de um espelho vertical e captou 40 milhões de dólares em investimentos, e Tonal, californiana que instala um equipamento de fitness focado em musculação e captou 90 milhões de dólares.
Contra tantos competidores, a Peloton acredita em sua capacidade de fidelizar e reter consumidores para se manter em destaque no mercado, a exemplo do que fez a rede de 90 academias de spinning SoulCycle. Referência em spinning fora de casa, a SoulCycle tem fãs tão devotos quanto os de um culto religioso. A construção de um perfil próprio, como um Facebook ou o Instagram, e a competição entre os próprios usuários são alguns aspectos que ajudam a Peloton a ter sua base de clientes apaixonados.
O mercado de fitness estadunidense é gigantesco: o Crunchbase cita o Statista para dizer que a indústria global de fitness e de clubes de saúde gera 80 bilhões de dólares em receita todos os anos, sendo que 57,2% dos seus membros estão nos Estados Unidos.
Em um setor tão efervescente de empresas e números, a Peloton precisa ter tanto a agilidade de um corredor de 100 metros quanto a resistência de um maratonista para transformar seu IPO em um sucesso.