Por que a startup Brex decidiu adotar o home office para sempre
A empresa de 3 bilhões de dólares, criada por brasileiros nos EUA, decidiu que seus funcionários poderão trabalhar de onde quiserem no pós-pandemia
Carolina Ingizza
Publicado em 15 de setembro de 2020 às 13h00.
Última atualização em 15 de setembro de 2020 às 17h02.
Seis meses depois do começo da pandemia do novo coronavírus , a startup Brex , fundada por brasileiros nos Estados Unidos, decidiu adotar o modelo de home office permanentemente. Isso não significa que os escritórios da fintech serão fechados, mas sim que os processos de trabalho serão estruturados de forma que os funcionários possam trabalhar da onde quiserem.
A decisão foi comunicada ao time da Brex no dia 31 de agosto por Pedro Franceschi e Henrique Dubugras, cofundadores da startup. Esta semana, Franceschi divulgou o e-mail enviado para a empresa na sua conta no Medium.
No texto em que explicam a decisão, os sócios afirmam que a experiência de trabalho remoto na Brex tem sido melhor do que o esperado: 64% da equipe gosta de trabalhar de casa e as entregas de projetos estão acontecendo mais rapidamente do que antes da pandemia. Hoje, 26% dos funcionários da startup já entraram no modelo de home office.
A companhia foi fundada pela dupla brasileira em 2017, no Vale do Silício, e hoje é avaliada em mais de 3 bilhões de dólares. Ela ficou conhecida por oferecer cartões de crédito corporativos para outras startups e empresas de inovação. Entre seus clientes, estão Airbnb e Class Pass.
O empreendimento não é o primeiro dos sócios. Antes de se mudarem para os Estados Unidos, Franceschi e Dubugras criaram a fintech de meio de pagamentos Pagar.me, vendida para a Stone em 2016.
Por que trabalhar remotamente?
O trabalho remoto oferece uma grande vantagem para empresas de tecnologia: a possibilidade de contratar talentos do mundo todo. Os fundadores da Brex afirmam que a empresa gasta uma grande quantidade de recursos tentando encontrar pessoas excelentes para o negócio nas cidades em que possui um escritório. A possibilidade de contratar pessoas do mundo todo, então, facilitaria muito esse processo de busca de talentos.
Não seria a primeira vez em que o funcionário certo seria encontrado em outra cidade. O primeiro engenheiro da companhia, Jonathan Lima, conheceu Henrique Dubugras pela internet. Os dois se tornaram amigos com 11 e 12 anos, respectivamente, trabalhando juntos em um código do jogo Ragnarök em um fórum na internet—Lima no interior e Dubugras em São Paulo.
Dubugras conta ter ficado impressionado com a capacidade de Lima, que conseguia construir códigos sofisticados sem ter passado por um curso formal de ciência da computação. É para descobrir e contratar mais profissionais desse tipo que a Brex decidiu migrar para o modelo remoto de trabalho.
A estratégia por trás do home office
Os fundadores da Brex decidiram que não vão tentar só transportar as práticas do escritório para a internet. O plano dos sócios para que o novo modelo de trabalho funcione é criar novas estratégias.
A premissa básica seguida pela empresa é a de que as ferramentas nos moldam. Então, no caso do escritório, as pessoas teriam aprendido a trabalhar em conjunto com salas de reuniões e quadros brancos para se adaptar ao ambiente, não necessariamente porque essa é a forma natural de se trabalhar. Agora, o objetivo da startup é entender como a internet pode moldar o nosso jeito de trabalhar.
"Nós deveríamos abordar o trabalho remoto como os youtubers pensam em produzir conteúdo, ou como os jogadores interagem com outras pessoas nos games. Se estivermos abertos a usar as ferramentas da internet para o trabalho, elas nos moldarão da melhor forma", escrevem os cofundadores da Brex.
Evitar reuniões que podem ser e-mails
Os fundadores da fintech acreditam que reuniões desnecessárias precisam ser evitadas. Para eles, a melhor forma de se comunicar na internet é por texto, de forma que as pessoas possam analisar as informações de forma assíncrona, quando for melhor para elas. A logíca por trás do sucesso do WhatsApp, por exemplo. Por isso, eles apostam no uso de documentos escritos e na escolha de uma pessoa para tomar as decisões sobre determinado tema.
Dubugras e Franceschi acreditam que quando as decisões estiverem sendo tomadas por escrito, as conversas em vídeo poderão ser usadas para conhecer os colegas de trabalho, papel que antes ficava reservado ao café ou almoço de equipe. "Trabalhar é muito mais agradável quando mostramos um interesse genuíno em conhecer as pessoas ao redor de nós", escrevem os cofundadores. Para garantir essas interações, a empresa planeja eventos presenciais a cada dois meses com toda a equipe depois que a pandemia tiver passado.
Foco na saúde física e mental
Nem tudo no home office são flores. A Brex sabe que trabalhar de casa pode atrapalhar a saúde física e mental dos funcionários. A empresa acredita que o escritório proporciona quatro fatores centrais para o bem-estar: um bom espaço de trabalho, conexão com pessoas semelhantes, atividade física e conexão com a natureza (por conta do deslocamento). Para que a experiência remota funcione, ela planeja recriar esses quatro pontos em casa.
A empresa está aumentando a verba mensal para que seus funcionários melhorem o espaço de trabalho em casa. Além disso, para quem tem filhos, cachorros ou um apartamento pequeno, haverá escritórios disponíveis nas cidades de São Francisco, Nova York, Salt Lake City e Vancouver. A gestão do tempo, que é um desafio do trabalho remoto, ficará a cargo dos gestores de cada equipe. Eles precisarão garantir que os empregados têm tempo para família, lazer e atividade física.
A partir deste mês, os funcionários já podem se mudar para outras cidades e países. A startup só pede que eles estejam, no máximo, a quatro fusos horários de distância de São Francisco, para garantir a comunicação com as equipes durante o dia. Os gerentes também já podem começar a contratar pessoas de outras cidades. Os novos contratados terão o salário ajustado para a região em que vivem, considerando os custos de vida locais. Os funcionários antigos da empresa, mesmo que se mudem, terão o salário atual mantido até setembro de 2024.
Nessa nova fase, para verificar se o modelo funciona, Dubugras e Franceschi, junto com toda a diretoria, vão trabalhar em home office na maior parte dos dias da semana.